foto: ana branco/agência o globo
O anunciado secretário de Cultura do Brasil, Marcelo Calero, mostra defeito em sua geladeira para o jornal O Globo
8 PONTOS QUE AJUDAM A ENTENDER PORQUE UMA SECRETARIA NO LUGAR DE UM MINISTÉRIO É DE FATO UM REBAIXAMENTO
Desde
que foi anunciada a extinção do Ministério da Cultura (MinC) e a fusão de sua
antiga estrutura com o Ministério da Educação, muito foi debatido e dito e
pouco foi esclarecido sobre o significado dessa medida. Afinal de contas, o que
muda com o fim de um ministério e a adoção de uma secretaria?
Um
secretário de Cultura é realmente um primo pobre de um ministro? Por quê? Marcelo Calero, o novo
secretário, vai ser figura decorativa ou vai ter voz ativa nessa interinidade? Como
ficam as diversas estruturas vinculadas ao antigo ministério? Quando será
possível o retorno da apreciação dos pedidos da Lei Rouanet?
Gente que conhece a fundo os meandros das atividades culturais, como Danilo dos Santos Miranda e Fernanda Montenegro, têm convicção quando dizem que é um rebaixamento, um retrocesso. A
reedição, essa semana, de uma Medida Provisória criando novo status para a
Secretaria de Cultura resolveu alguns problemas, como a equiparação de funções
dos antigos auxiliares do MinC aos seus colegas dentro da estrutura do
Ministério da Educação, agora seu hospedeiro. Mas está longe de dar conta da enormidade das antigas atribuições.
Abaixo, este blog lista 8 pontos que
podem ajudar a entender quais serão as dificuldades para que ser efetive a
transformação anunciada pelo governo interino.
1. O ponto que
diferencia de forma mais evidente o ministério da secretaria: o simbolismo. Não é
praxe secretário despachar com o presidente e/ou participar de reunião de
ministros. Na prática, é segundo escalão (a Esplanada dos Ministérios é muito
hierárquica, esses códigos são levados a sério ali). O secretário também tem
menor interlocução com outros ministros (que costumam enviar secretários para
falar com secretários), menos poder, não terá facilidade de acesso aos
ministros da área financeira; os orçamentos das secretarias para costurar
acordos e parcerias são reduzidos. Outra coisa é que o Ministro de Estado da
Cultura tinha uma maior autoridade simbólica para representar a cultura
brasileira fora do Brasil. O Brasil se torna um dos poucos países da América do
Sul que não tem ministério (Argentina, Uruguai, Colômbia, Venezuela, Peru têm).
2. Um impacto
imediato da extinção do MinC é que havia um volume de processos muito grande
sendo avaliado anualmente na pasta, o que exigiu a criação de uma estrutura administrativa
própria e eficiente. A medida provisória nº 726, de 12/05/2016, que extinguiu o
MinC, eliminou consequentemente todos os cargos da área administrativa do
Ministério da Cultura e aqueles ligados aos órgãos comuns (Gabinete do Ministro,
Secretaria Executiva, Consultoria Jurídica). Com isso, todos os processos do
MinC ficaram paralisados, e sua fusão com a área administrativa do MEC exigiria
uma readaptação total das estruturas, no curtíssimo prazo, sob pena de causar
prejuízos imediatos à sociedade.
3. Uma diminuição
do número de secretarias do MinC poderia ter um efeito político e administrativo
extremamente negativo por diversos motivos; politicamente, políticas culturais
construídas e pactuadas nos últimos anos com a sociedade civil (via consultas
públicas e processos coletivos) podem se perder; administrativamente, ao
eliminar as áreas de planejamento, orçamento, execução financeira, pessoal, tecnologia
industrial, contratos e licitações etc., perde-se uma das condições de base do
antigo ministério. A cultura e o fazer cultural têm especificidades próprias,
um know-how do setor e do seu público, difíceis de serem absorvidas de
imediato.
4.
Desde 2015, o Ministério da
Cultura era o responsável pela supervisão de todo o sistema de gestão coletiva
de direitos autorais, essencial para garantir os direitos dos autores e
criadores brasileiros e o direito de acesso à cultura pelos cidadãos. Quanto tempo levará para sensibilizar o MEC, que tem
sua própria demanda, sobre a questão dos direitos autorais, e depois quanto
esforço será gasto para que a Consultoria Jurídica (Conjur) do MEC entenda os
meandros do direito autoral? O mesmo vale para todas as áreas do MinC, como a
Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura (Sefic) e a Subsecretaria de
Planejamento, Orçamento e Gestão (Spoa) do MinC, que formavam a estrutura
gigantesca para analisar os projetos, as prestações de contas e os problemas da
Rouanet.
5. O MinC reúne,
além do órgão principal, outras sete instituições vinculadas: Instituto do
Patrimônio Histórico de Artístico Nacional (Iphan) , Agência Nacional do Cinema
(Ancine), Fundação Nacional de Artes (Funarte), Instituto Brasileiro de Museus
(Ibram), Fundação Biblioteca Nacional (FBN), Fundação Cultural Palmares (FCP),
Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB). No caso da vinculação ao MEC, essas
instituições terão que se relacionar com uma estrutura que tem outras prioridades,
o que poderá prejudicar as negociações da cultura com áreas centrais do governo
e demandas externas.
6. Outro problema:
o MinC tem responsabilidade sobre áreas que incluem atividades de fiscalização
e regulação, além da guarda e manutenção de patrimônio cultural, que exigem a
manutenção de estruturas administrativas próprias, para cumprir
responsabilidades legais e constitucionais: patrimônio cultural (Iphan),
direito autoral (Diretoria de Direitos Intelectuais, que Caetano Veloso disse ter excelência, uma espécie de think tank do Estado brasileiro), museus (Ibram), acervo
bibliográfico (Biblioteca Nacional), entre outros.
7. Desde 2003, o MinC passou a abranger iniciativas culturais que sempre existiram, mas que estavam à margem das políticas de Estado. O melhor exemplo deste esforço foi o investimento nos Pontos de Cultura, e todo o programa Cultura Viva, com o reconhecimento e fomento pelo Estado de iniciativas focadas em temas diversos, desde o jongo até a cultura digital. Em 2014, o programa foi transformado em uma política de Estado, com a aprovação da Lei Cultura Viva (Lei 13.018/2014). Em 2015-2016, o MinC implantou uma série de aprimoramentos para que o programa não se baseie só em recursos, mas funcione como uma plataforma de articulação para o setor cultural. Quem vai monitorar essas ações e tocar adiante?
8. O MinC tinha como incumbência republicana ações importantes de fortalecimento das políticas de Estado, tais como: adoção de programas (como o Cultura Viva); atualização de políticas públicas voltadas para as artes (música, teatro, literatura, dança, artes visuais e circo), com a Política Nacional das Artes; aprimoramento do sistema de financiamento da cultura, com a revisão dos atuais mecanismos de fomento e ampliação do programa Vale Cultura; investimento em políticas de desenvolvimento da economia da cultura, a fim de aumentar a participação da cultura no PIB e ampliar os agentes econômicos com atuação no setor. Mas também, entre as atribuições, aprofundar a transversalidade da cultura no Executivo, garantindo ações conjuntas com outros ministérios, como Comunicações, Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente, Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Turismo e outros. Uma secretaria perde um pouco esse poder de diálogo transversal.
7. Desde 2003, o MinC passou a abranger iniciativas culturais que sempre existiram, mas que estavam à margem das políticas de Estado. O melhor exemplo deste esforço foi o investimento nos Pontos de Cultura, e todo o programa Cultura Viva, com o reconhecimento e fomento pelo Estado de iniciativas focadas em temas diversos, desde o jongo até a cultura digital. Em 2014, o programa foi transformado em uma política de Estado, com a aprovação da Lei Cultura Viva (Lei 13.018/2014). Em 2015-2016, o MinC implantou uma série de aprimoramentos para que o programa não se baseie só em recursos, mas funcione como uma plataforma de articulação para o setor cultural. Quem vai monitorar essas ações e tocar adiante?
8. O MinC tinha como incumbência republicana ações importantes de fortalecimento das políticas de Estado, tais como: adoção de programas (como o Cultura Viva); atualização de políticas públicas voltadas para as artes (música, teatro, literatura, dança, artes visuais e circo), com a Política Nacional das Artes; aprimoramento do sistema de financiamento da cultura, com a revisão dos atuais mecanismos de fomento e ampliação do programa Vale Cultura; investimento em políticas de desenvolvimento da economia da cultura, a fim de aumentar a participação da cultura no PIB e ampliar os agentes econômicos com atuação no setor. Mas também, entre as atribuições, aprofundar a transversalidade da cultura no Executivo, garantindo ações conjuntas com outros ministérios, como Comunicações, Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente, Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Turismo e outros. Uma secretaria perde um pouco esse poder de diálogo transversal.
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