Klaus Meine e Rudolf Schenker, do Scorpions, no metrô de Nova York, nos anos 1970
A mãe de Rudolf Schenker, guitarrista e fundador do
Scorpions, queria que ele se tornasse eletricista na Siemens ou seguisse uma
carreira nos Correios de Hanover, na Alemanha. Dona Schenker era dura na queda:
obrigou o músico a se formar técnico em eletricidade, mas há 50 anos ele acabou
criando aquela que se tornaria a primeira banda de hard rock da Alemanha, o
Scorpions.
Suas baladas kitsch, de exagero sentimental, ganharam o
mundo e tornaram o Scorpions um dos maiores sucessos planetários da música. Influenciaram
bandas posteriores, como Mötley Crüe e Guns N’ Roses. “Há pouco tempo,
encontrei um antigo livro-caixa da minha mãe no qual, 50 anos atrás, ela
meticulosamente registrava as receitas e as despesas da minha banda, o
Scorpions. Meus pais me emprestaram, na época, o dinheiro para comprar meu
primeiro equipamento e eu tinha que devolver em prestações conforme ganhasse
dinheiro”, contou o músico.
O Scorpions está pelo mundo dizendo adeus. De novo, como
Silvio Caldas – há três anos, com o disco Sting in the Tail, já tinham falado
que era a última. Fizeram um filme no qual se despedem da vida no rock. Em vias
de desembarcar no Brasil (lembro que era em junho, mas perdi o email com as
datas, ficou no emprego antigo...) com a turnê com a qual celebram 50 anos e a
eternidade, Schenker falou comigo brevemente, há pouco mais de um mês, por
telefone. Acabam de lançar um disco batizado como Return to Forever (Sony/BMG),
e têm uma legião de fãs por aqui desde que desembarcaram para o primeiro Rock
in Rio, há 30 anos. Além de Schenker, um mito do rock, o Scorpions tem Klaus
Meine (voz da banda desde 1969), Matthias Jabbs (guitarra e voz), James Kottak
(bateria, único norte-americano) e Pavel Maciwoda (baixo, polonês). A seguir,
um pouco da conversa com Schenker.
Você sabe, esse nome, Return to Forever, é o nome de um
disco e uma formação de jazz fusion do Chick Corea. Na verdade, um dos mais
famosos discos do jazz.
Eu na verdade não tinha um título. Sabe aquelas coisas de
gravadora? Alguém lá no fundo disse “encontramos uma boa ideia para o nome do
álbum!”, e achamos legal. Eu nunca soube que existia uma banda de jazz com esse
nome. Em fevereiro, quando nós nos reunimos para concluir o disco, nós
estávamos com muita energia e foi saindo muito rapidamente. Gravamos as faixas
no estúdio da minha casa. Era um clima “temos que fazer esse disco”, precisamos
de uma coisa nova para celebrar os 50 anos, e começamos a compor. Logo tínhamos
9 canções (ao todo, são 19 músicas, 12 no disco e todas na edição especial).
Essa história começa em 1965, e acho que só os Rolling Stones e o The Who estão
há tanto tempo na estrada. Atravessamos a era punk, o grunge, a disco music. Tínhamos
de achar um jeito de festejar.
Mas essa turnê do cinquentenário não surgiu de um dia para o
outro, certo?
Há 5 anos, nós começamos a pensar nisso. Chegamos a anunciar
que estávamos parando e pensamos em correr 90 países em três anos. A essência
do que nós somos é a estrada, é a turnê. Mas havia um certo cansaço com a
rotina de estúdios, discos, turnês e a gente pensou ali em parar
definitivamente. Mas não permitiram. Nos aeroportos, os fãs nos traziam flores
e diziam: “Vocês não podem parar, não é justo!”. Os colegas músicos pediam para
a gente continuar. Isso tocou o coração da gente. Em todo lugar, era aquela
coisa, todo mundo pedindo para a gente seguir. Foi assim durante anos. E nós
seguimos em frente. Foi então que surgiu a ideia dessa turnê final e do filme.
E como foi feito o documentário Forever and a Day - The
Scorpions Film?
Há quase uma década, nós começamos a registrar nossos
últimos momentos juntos. Era para ser uma espécie de testamento. Mas essa coisa
de filmar intimidade é muito delicada, não dava para ser qualquer pessoa
filmando. Foi quando nós resolvemos procurar uma mulher, Katja Von Garnier. Nós
a escolhemos também porque ela tinha uma banda feminina, e ela achou um jeito
de falar de nossa história com sensibilidade. Fez algo diferente, algo
inacreditável. “Você pode filmar tudo”, eu disse pra ela. E ela coletou
entrevistas tocantes, shows maravilhosos pelo mundo. Entrou em todos os
lugares, em quartos de hotel, camarins, esteve em Paris com a gente. Não é um
filme sobre os clichês do rock and roll, mas é a documentação de uma turnê
iluminada.
Há 30 anos, quando vocês desembarcaram no Rio de Janeiro
para o primeiro Rock in Rio, já tinham 20 anos de estrada. O que você lembra
daqueles dias?
Foi maravilhoso. Ficamos 7 dias no Rio. Tínhamos lá também
alguns amigos, o pessoal do Queen, James Taylor. Foi como uma realização para a
gente, porque nós sempre quisemos ir, e acabamos indo duas vezes ao festival.
Eu considero aquele o período mais louco da minha vida. As pessoas aplaudiam
tudo, eram generosas e participativas. E ainda tivemos tempo para sair na
noite. Os guarda-costas nos alertavam: “O Rio é perigoso, não é bom ficar dando
mole por aí!”. Mas nós saíamos todas as noites, todas as bandas saíam, nada
aconteceu e vivemos aventuras maravilhosas.
NOTA DO REDATOR: Assim que eu recuperar meus arquivos, acrescento dados sobre a turnê do Scorpions e otras cositas más.
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