quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

GRANDES ARTIGOS ENCALHADOS - PARTE 3
















Glam, underground, soft, heavy, hard, surf, folk, progressivo, psicodélico.

Punk rock, new wave, hardcore, grunge, britpop, indie, trash, nü metal, new rave.

Em meio século de existência, o rock se tornou muitos e diversos. Os efeitos sociais do rock'n’roll se mundializaram e se tornaram massivos, suplantando barreiras de classe social, língua e formação intelectual e política. Um gênero sem fronteiras. Sem nacionalidade, com e sem ideologia.

Manic Street Preachers tocando na proscrita Havana, Cuba.
Uriah Heep enchendo a Praça Vermelha em Moscou.
The Clash na Nicarágua e o rap-metal do Rage Against the Machine no apoio à luta dos zapatistas de Chiapas, no México (e mais recentemente, no apoio à luta do MST, em Itu, São Paulo).

Extrapolando sua embalagem de estilo musical, o rock passou a influenciar moda, política, comportamento e linguagem. Na República Tcheca, Vaclav Havel agradecia a Lou Reed pela sua vitória política.

A tríade comportamento, linguagem e moda só poderia ter um desembocadouro natural: a televisão. O rock recém-nascido tinha tudo para se tornar um fenômeno também na nova (e glutona) mídia que surgia, a TV, que se expandia ao mesmo tempo que a música pop mundial.
Mas, ao longo de meio século, TV e rock nunca se tornaram exatamente amigos. Pelo contrário: durante muito tempo, rock e televisão viveram uma relação bastante conturbada e hostil. Engolfado pelo sistema, o ex-caminhoneiro Elvis Presley costumava desabafar mandando bala nos aparelhos de TV dos hotéis. Antevisão?
“É que a televisão me deixou burro muito burro demais. E agora eu vivo dentro dessa jaula junto com os animais”, dizia um dos grandes sucessos de uma das maiores bandas brasileiras dos anos 80, Os Titãs.

Claro, nem sempre os roqueiros viram TV com demasiada desconfiança. Raul Seixas virou o Carimbador Maluco e Caubói Fora da Lei em programa infantil e no Fantástico. Kid Vinil, então vocalista da banda punk Verminose, levou à TV o programa que serviu como educação sentimental para todos os roqueiros do interior do País: o Som Pop.

Mas, se os roqueiros um dia enxergaram a TV como um inimigo do seu espírito contracultural, os executivos da TV viam no rock que nascia no País um pote de ouro no final do arco-íris. No Brasil, programas de TV como O Cassino do Chacrinha, Silvio Santos, Raul Gil, Gugu Liberato e Domingão do Faustão contribuíram para disseminar uma ideia de uma música popular sob custódia, domesticada, massificada, obediente, manipulável.

Houve momentos, contudo, em que um e outro viveram quase em harmonia. Em 1983, a TV Cultura e o Sesc Pompéia iniciaram o projeto Fábrica do Som. “Era um programa onde o público estava muito presente. Mais do que marketing, mulheres e calcinhas, como rola nos auditórios hoje, era um evento de rock que queria revelar novos valores. Os Titãs, quando ainda eram do Iê-Iê, apareceram pela primeira vez na televisão no Fábrica. Barão Vermelho, Ultraje a Rigor, Arrigo Barnabé. Todos esse caras , ainda 'frescos', participaram”, relembrou outro dia o apresentador do Fábrica do Som, Tadeu Jungle.

Num determinado instante histórico, tudo pareceu caminhar para a simbiose definitiva. Foi em 1981, quando foi criada a MTV em Nova York. A MTV COMPLETA ESTE ANO 30 ANOS, VEJAM VOCÊS. Balzaquiana e um tanto decadente.
Fabio Massari, o Reverendo, figura de proa do rock nos primórdios da Music Television, foi um dos que trataram bem a informação musical enquanto o casório rock-TV durou. Outro dia vi o Massari com o Cadão na TV Cultura, falando de Captain Beefheart e Zappa. Deu saudade.
A MTV expeliu sua vocação há um bom tempo, tornando-se uma emissora comum de programas de auditório e reality shows. A volúpia e ambição da velha tV acabaram engolfando aquilo que sobrou do antigo espírito do rock. Ozzy Osbourne levou seu cachorro, periquito, cozinheira e a família para a TV, encenando de forma paródica seu próprio processo de domesticação social. Gene Simmons, linguarudo líder do grupo Kiss, hoje gasta parte do seu tempo gravando reality shows para a televisão americana.

Hoje em dia, assisto a Beto Lee, Edgar Picoli e outros heróis teimarem, agora em canais a cabo, em fazer da TV uma aliada. Mas provavelmente o caminho já seja bem outro. Uma relação muito mais harmoniosa (e que foi um caso de amor à primeira vista) é o que aconteceu inicialmente entre o rock e a internet. O MySpace e o YouTube se tornaram rentosos aliados da disseminação do rock. Arctic Monkeys, Lilly Allen, Mallu Magalhães. Mas o que era liberdade vai se tornando indistinção.
A telinha caiu na rede, e seu brilho novo atrai ainda mais mariposas.






* não me lembro ao certo, mas acho que escrevi isso a pedido da revista do sesc são paulo, que nunca me informou se publicou ou não a bagaça. com o aniversário da mtv, ficou até atual. aí está.

2 comentários:

Pinecone Stew disse...

Happy New Year !!!

Roberta disse...

Muito, muito bom!