domingo, 20 de setembro de 2009

COROA (GENTE BOA)


















no trânsito, quando dirige, dá para saber de longe quem é ele: sempre usa a faixa do meio e sua velocidade é sempre contínua, na faixa dos 40 km por hora (seja na descida ou na subida, na 23 de maio ou na 13 de maio).
fala os RRs com mais precisão, saboreia os SSs no final da frase.
puxa conversa com a caixa do banco emburrada (o que deixa exasperado o office boy na fila).
sorri para o feirante que corta a manga com uma faca adocicada, dá conselho ao batedor de carteiras, faz gargalhar o sonolento porteiro do prédio (que varou a noite no turno do cearense que deu cano).
levanta da sala para buscar água quando vê que a discussão sobre futebol ficou quente demais (e é capaz que nem volte).
evita falar sobre política. evita xingar político corrupto.
adora coletâneas de música italiana – cantarola os versos de pepino di capri sozinho na sala, enquanto espera sair a beringela al forno (“... per brindare a un incontro con te, che già eri di un altro...”)
entra no ônibus de um jeito altivo, como se estivesse entrando na carruagem da rainha da inglaterra.
no restaurante, tenta ajudar o garçom a recolher os pratos depois da refeição.
a mão enrugou até endurecer, até criar uma crosta, mas quando faz carinho na cabeça da gente dá vontade instantânea de fazer a siesta.

3 comentários:

ELLIOT disse...

Puxa, será que serei assim?
Será que me tornarei uma corôa gente boa ou uma velha ranheta.
Acho que vou policiar minhas manias (e quantas manias)vou fugir dos preconceitos,apagar o que não gosto de lembrar.
Talvez, quem sabe....

Unknown disse...

Conhece aquele disco do Jards Macalé, de 87, 4 batutas e um coringa, no qual ele homenageia Paulinho da Viola, Lupicínio, Nélson Cavaquinho e outro sambistão que eu não sei quem é (a merda de baixar discos é essa, a gente perde informações as vezes preciosas)?! Pois então, enquanto li esse post lembrei direto de Vela no breu, do Paulinho, que o Jards gravou nesse disco. Conhece?

É assim:
"Ama e lança chamas
Assovia quando bebe
Canta quando espanta
Mau-olhado, azar e febre
Sonha colorido
Adivinha em preto-e-branco
Anda bem vestido
De cartola e de tamanco

Dorme com um cachorro
Com um gato e um cavaquinho
Dizem lá no morro
Que fala com passarinho
Desde pequenino
Chora rindo, olha pra nada
Diz que o céu é lindo
Na boca da madrugada

Sabe medicina
Aprendeu com sua avó
Analfabetina
Que domina como só
Plantas e outros ramos
Da flora medicinal
Com cento e oito anos
Nunca entrou num hospital..

Joga capoeira
Nunca brigou com ninguém
Xepa lá na feira
Divide com quem não tem...
Faz tudo o que sente
Nada do que tem é seu
Vive do presente
Acende a vela no breu."

Abraço, Jotabê. Meu nome é Roberto, sou jornalista, trabalhei durante bom tempo na editoria de Cultura, onde me senti melhor, sou fâ do teu trabalho e assíduo leitor do blog. A Manu é minha filha.

PS: continua postando o livro. tô achando, como diz teu amigo Mário Bortolotto, du caralho.

el pájaro que come piedra disse...

Roberto, maravilha pura essa música do Paulinho!
De fato, tem tudo a ver, é simplesmente fantástica!
Vou postar hoje um capítulo novo (mas tô colocando as coisas embaralhadas, de forma a que os textos tenham alguma nova vida isoladamente)


Eliane, você será uma doce velhinha (mas, de vez em quando, teremos de tirar as pilhas...).