Ali nas imediações do Rei das Batidas, a casa de shows
Tropical Butantã terá a seguir, após o freak folk de Devendra Banhart, ontem à
noite, uma apresentação de Amado Batista. Isso é que é ecletismo!
O Tropical Butantã não é um espaço ruim, tem boa localização, espaço generoso e os azulejos do piso estão desgastados, o que prova que muita gente já foi feliz naquela pista. Mas ontem tinha só dois caixas vendendo cerveja, e trezentas
pessoas em média em cada fila. Quando o show terminou, tinha gente ali que
ainda não tinha conseguido comprar uma Skol. Para sair do lugar, tinha que
passar pelo fumódromo, um corredor polonês de fumaça em blocos e nenhum caminho
livre.
Devendra caiu ali, eu imagino, por conta do tamanho do lugar:
cabem 2,5 mil pessoas, e no Cine Joia só cabem 900 pessoas. Quase três vezes o
faturamento. Mas o som, lá atrás, era três vezes menor que o espaço físico.
Com a banda no palco, Devendra abriu com Saturday Night (do
disco mais recente, Ape in Pink Marble, de 2016). A batida é descolada de uma
costela de In the Air Tonight, de Phil Collins. A sonoridade lembra as canções de
um folk singer memorável, Lobo, que o mundo esqueceu.
Mas foi o disco Mala (2013) que mais compareceu, com cinco
músicas, até porque é uma obra-prima. A segunda música foi Fur Hildegard von Bingen (ele cantou ainda Daniel,
Mi Negrita,Golden Girls, Never Seen Such Good Things). Eu escrevi sobre
esse discaço há algum tempo:
Devendra falou português, chamou o baterista de "Deus grego", brincou com o tecladista que só fala francês e elogiou a banda O Terno, de São Paulo, que vendia
camisetas feitas na hora num mesão nas imediações dos caixas.
“Não há ninguém que eu tenha conhecido tão bonito quanto
você”, diz a letra de Jon Lends a Hand. Ao fundir Jon Lends a Hand com My Sweet Lord, de George Harrison,
Devendra Banhart conduziu a plateia a uma utopia limpa dos anos 1970, um sonho
ainda sem conservantes e sem mediação de ONGs. Krishna hare, hare Rama!
No set “acústico” de Devendra, quando ele cantou Brindo, um
bêbado no bar (como ele ficou bêbado sem ter como comprar cerveja é um mistério) gritou para o cantor: “Vou ligar para sua mãe e dizer que você tá fazendo um
show ruim aqui essa noite!”. O cara, claro, era masoquista, porque era só ir
embora se não tava gostando e voltar a odiar com método e sistemática nas redes
sociais.
Penso que só de ter ouvido Baby (2010) e ter dançado como um
frango desossado em volta da Nana já teria valido a noite. De qualquer modo, o
bêbado não estava totalmente sem razão. Devendra está com a autoconfiança muito
em alta e tornou-se meio displicente em cena. Seu último show no Cine Joia
tinha sido muito mais bacana.
Sim, eu sei: minhas fotos ficaram horríveis.
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