sábado, 28 de janeiro de 2017

RUSSO





Russo não vai ter análise de articulista com veleidades sociológicas. Não vai ter repercussão de colegas de classe porque não tinha classe. Não vai ter álbum de fotos porque não era fotografado (a não ser nas expedições punitivas, quando, perseguido pelos apresentadores, caía sobre o cenário e fugia pelo meio das plateias).

Mas Russo merece uma deferência. Morto na manhã deste sábado, o assistente de palco Antonio Pedro de Souza e Silva, o Russo, foi a legalização do bullying na TV brasileira, o palhaço desdentado que o Chacrinha inventou para ser enxotado sem culpa pelo espectador.

Sua humilhação semanal, "familiar", abriu caminho para a fundação de um enxame de humilhações. A naturalidade do escárnio fez com que surgissem com naturalidade os Latininhos (caso de exploração de um deficiente pelo Faustão, em 1996), os anões besuntados do Pânico, os cinegrafistas esculhambados. O caminho aberto por Russo, de certa forma, legitimou as câmeras ginecológicas da Feiticeira e da Tiazinha, catapultas de Luciano Huck na TV. Ao chegar seu momento Cirque du Soleil, de banimento das feras, a televisão foi buscar novas marionetes, como os ratos do Ratinho, e novos coadjuvantes eletrônicos.

Clown sob medida para a crueldade do espírito médio nacional, seu “humor físico” era acidental, um Corcunda de Notre Dame desacorrentado. Não que o freak show da televisão fosse então algo escandaloso, porque sempre foi o cerne do negócio - bizarria que descambou na exploração de cenas de bulimia e sexo não consentido nos reality shows.


É claro que também houve carinho, que houve acolhimento em sua trajetória. Irônico que, ao final, octogenário, Russo tenha virado presa fácil dessa Guantánamo do jornalismo popular. Sua sincera tristeza ao ser barrado na porta do antigo empregador o chaplinizou definitivamente.


2 comentários:

Alex disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alex disse...

É verdade! Ele era um assistente de palco meio clown, como o Dengue o Praga... trabalhou por 50 anos como assistente dos principais programas de auditório da Globo, era amigo de todos, foi dispensado de uma hora pra outra contra a sua vontade e nem ao menos teve uma nota sobre sua morte no Jornal Nacional... isso reflete o quanto a rede Globo é hipócrita e elitista.