A voz é rascante, rouca. A guitarra é selvagem, massuda, mistura
um tanto de Steve Ray Vaughan com Jeff Beck.
Toca em pé a guitarra, o baixo, a gaita. Com pedais e
baquetas presas no braço da guitarra, ele martela pratos e bumbos.
É um novo fenômeno do blues rock e vem de Quebec, no Canadá.
Visualmente, parece um dos Allman Brothers.
Na quarta, dia 7 de setembro, às 21 horas, Steve Hill
estreia no Brasil tocando no Bourbon Street Music Club (Rua dos Chanés, 127,
Moema), em São Paulo.
Conversamos ontem por telefone. Ele me contou como se tornou
um homem-banda. Falou quase num fôlego só e eu preservei como um depoimento.
“Eu tocava com uma banda, tinha uma carreira regular,
gravava com um grupo. Então, cinco anos atrás, algo aconteceu. Acontece que eu
descobri de repente que meu empresário era um cara muito mau, muito picareta.
Tinha levado tudo que eu tinha. Meu disco estava sendo um fracasso. Precisava
achar um jeito de continuar fazendo música e não conseguia. Eu estava quebrado,
ferrado, sem um tostão. Ao mesmo tempo, eu tinha um vício terrível: eu era um
maluco colecionador de guitarras. Eu não podia ver uma guitarra que já queria
comprar. Eu não sei quantas guitarras eu tenho porque não as conto, mas acho
que tenho bem mais de 30 instrumentos. E apareceu uma Gibson 56 ES225 e eu
enlouqueci. Só que eu não tinha dinheiro para comprar, então tive a ideia de
organizar um show solo de blues. Era para ser uma noite apenas, e eu não tinha
banda, então improvisei e toquei tudo sozinho. A plateia adorou, todo mundo
vinha me dizer: “Faça de novo!”. Acontece que eu me diverti muito tocando
daquele jeito, então resolvi continuar e acabei gravando um disco sozinho, um
álbum que se tornou muito popular, Solo Recordings Volume I. Ganhei o prêmio
Juno, que é uma espécie de Grammy canadense, e fiz mais de 150 shows sozinho. Depois,
gravei Solo Recordings Volumes II e III. Agora, posso dizer que eu me tornei um
verdadeiro homem-banda. Há cinco anos, se me dissessem que eu seria um
homem-banda, eu diria: “Você é louco?”. Nunca tinha passado pela minha cabeça.
Isso é para você ver que a gente nunca deve dizer que não vai fazer algo na
vida. O jeito que eu faço meu show one-man-band é que é muito pessoal, não vi
nenhum outro que faça do mesmo jeito que eu faço. É muito particular. Quando
você ouve rádio, vê que 99% do que é feito hoje tem computador no meio, tem
algo feito eletronicamente. Meu
negócio é completamente ao vivo. O que eu faço é basicamente blues, blues rock.
Tem também folk e country e alguns dizem que é rock’n’roll. Eu sou muito
ligado aos primórdios do blues, sou ligado em Robert Johnson. E em Jimi Hendrix. E gosto de Ray
Charles, de Buddy Guy, de B.B. King, Muddy Waters. Então, pode-se dizer que
minha música é uma mistura disso tudo, com meu próprio condimento. Gosto de
Albert King, Freddy King, B.B. King, mas também amo Judas Priest, Black
Sabbath. Sou um homem-banda, mas eventualmente, eu ainda toco com um grupo,
porque afinal de contas eu sou um guitarrista. Do ponto de vista da política,
eu digo sempre: temos que ter paciência. Os americanos estão defronte de um
grande problema no momento. Tenho sorte de ser canadense. Há muita confusão. Vi
a Olímpiada no Brasil pela TV, um ou outro flash dos Jogos. Percebi que o
problema aí é o mesmo de todo lugar: 1% das pessoas têm muito e o resto não tem
nada. É uma vergonha. Estou feliz a caminho do Brasil pela primeira vez, espero
que seja uma bonita experiência”.
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