quinta-feira, 25 de agosto de 2016

O BLUESMAN SOZINHO







A voz é rascante, rouca. A guitarra é selvagem, massuda, mistura um tanto de Steve Ray Vaughan com Jeff Beck.
Toca em pé a guitarra, o baixo, a gaita. Com pedais e baquetas presas no braço da guitarra, ele martela pratos e bumbos.
É um novo fenômeno do blues rock e vem de Quebec, no Canadá. Visualmente, parece um dos Allman Brothers.
Na quarta, dia 7 de setembro, às 21 horas, Steve Hill estreia no Brasil tocando no Bourbon Street Music Club (Rua dos Chanés, 127, Moema), em São Paulo.
Conversamos ontem por telefone. Ele me contou como se tornou um homem-banda. Falou quase num fôlego só e eu preservei como um depoimento.


“Eu tocava com uma banda, tinha uma carreira regular, gravava com um grupo. Então, cinco anos atrás, algo aconteceu. Acontece que eu descobri de repente que meu empresário era um cara muito mau, muito picareta. Tinha levado tudo que eu tinha. Meu disco estava sendo um fracasso. Precisava achar um jeito de continuar fazendo música e não conseguia. Eu estava quebrado, ferrado, sem um tostão. Ao mesmo tempo, eu tinha um vício terrível: eu era um maluco colecionador de guitarras. Eu não podia ver uma guitarra que já queria comprar. Eu não sei quantas guitarras eu tenho porque não as conto, mas acho que tenho bem mais de 30 instrumentos. E apareceu uma Gibson 56 ES225 e eu enlouqueci. Só que eu não tinha dinheiro para comprar, então tive a ideia de organizar um show solo de blues. Era para ser uma noite apenas, e eu não tinha banda, então improvisei e toquei tudo sozinho. A plateia adorou, todo mundo vinha me dizer: “Faça de novo!”. Acontece que eu me diverti muito tocando daquele jeito, então resolvi continuar e acabei gravando um disco sozinho, um álbum que se tornou muito popular, Solo Recordings Volume I. Ganhei o prêmio Juno, que é uma espécie de Grammy canadense, e fiz mais de 150 shows sozinho. Depois, gravei Solo Recordings Volumes II e III. Agora, posso dizer que eu me tornei um verdadeiro homem-banda. Há cinco anos, se me dissessem que eu seria um homem-banda, eu diria: “Você é louco?”. Nunca tinha passado pela minha cabeça. Isso é para você ver que a gente nunca deve dizer que não vai fazer algo na vida. O jeito que eu faço meu show one-man-band é que é muito pessoal, não vi nenhum outro que faça do mesmo jeito que eu faço. É muito particular. Quando você ouve rádio, vê que 99% do que é feito hoje tem computador no meio, tem algo feito eletronicamente. Meu negócio é completamente ao vivo. O que eu faço é basicamente blues, blues rock. Tem também folk e country e alguns dizem que é rock’n’roll. Eu sou muito ligado aos primórdios do blues, sou ligado em Robert Johnson. E em Jimi Hendrix. E gosto de Ray Charles, de Buddy Guy, de B.B. King, Muddy Waters. Então, pode-se dizer que minha música é uma mistura disso tudo, com meu próprio condimento. Gosto de Albert King, Freddy King, B.B. King, mas também amo Judas Priest, Black Sabbath. Sou um homem-banda, mas eventualmente, eu ainda toco com um grupo, porque afinal de contas eu sou um guitarrista. Do ponto de vista da política, eu digo sempre: temos que ter paciência. Os americanos estão defronte de um grande problema no momento. Tenho sorte de ser canadense. Há muita confusão. Vi a Olímpiada no Brasil pela TV, um ou outro flash dos Jogos. Percebi que o problema aí é o mesmo de todo lugar: 1% das pessoas têm muito e o resto não tem nada. É uma vergonha. Estou feliz a caminho do Brasil pela primeira vez, espero que seja uma bonita experiência”.


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