"Y Messi se rompió a llorar", disse o
comentarista.
Messi saiu de campo deixando uma amarga sensação de exílio
no ar. Sua desistência é um ato de uma solidão formidável, aquele tipo de
rendição para a qual há retorno possível.
Ele teria sido o único, todo mundo diz isso (até o Tostão
garante), a conseguir sentar no mesmo trono do Soberano de Três Corações.
Alguns títulos com a camisa pátria o igualariam definitivamente a Edson.
Maradona chegou perto, mas ficou numa região em que a sabedoria popular também aninha
outros heróis: Garrincha, Zico, Zidane, Rivellino, Sócrates. Ok, retifico:
Maradona ficou numa região mais sagrada, mais arcebispal; ganhou até uma igreja
em sua homenagem (eu, particularmente, sou afromacumbeiro, frequento o terreiro
de Garrincha).
A identificação do torcedor argentino com Messi nunca foi
das melhores. Só que agora, nessa Copa América, ele até tinha conseguido alguma
popularidade - os gajos de barba ruiva postiça nas arquibancadas demonstravam
que seu alheamento já não era empecilho para a beatificação. Estava tudo pronto
para a assunção de um novo poder absoluto na América Latina, mas o Chile de
Medel, Vidal e outros encrenqueiros de Bellavista não queria saber de cumprir papel de coadjuvante.
A identificação de Messi com o torcedor argentino, essa
nunca foi equacionada. Nunca sorriu com a alegria de um ídolo do povo, nem na hora do gol sobrenatural. Muitas
vezes, seu mutismo senhorial (e algum egoísmo, juram) tirou da seleção argentina outros craques, como
Carlitos Tévez. Messi sai com o saldo histórico de 55 gols com a camisa da
seleção, superando Batistuta, mas as quatro finais seguidas sem êxito (2007, 2014, 2015 e 2016) são uma
dessas marcas que imprimem desconfiança perene.
O que aconteceu com Messi nessas finais que o conduziram ao
exílio? Contra a Alemanha, na final da Copa de 2014, no Brasil, ele até teve as
chances que só os gigantes recebem. Teve uma falta no finalzinho do jogo que,
em qualquer jogo do Barcelona, seria caixa. Bateu mal. Teve uma chance quase
idêntica contra o Chile. Bateu mal. Não foi sua falta de pontaria, entretanto,
que complicou a Argentina, mas a de Higuaín.
Contra o Chile, o juiz brasileiro trapalhão quase pediu
autógrafo ao argentino, mas só lhe restou dar-lhe um cartão amarelo caprichoso
(e equivocado) como souvenir. "Eu amarelei o Messi!", vai contar aos
netos. Ao final, aquele choro contido, quase raivoso frente a Díaz, do Chile,
que o procurava consolar batendo em sua barba, mostrava que até as criaturas
mitológicas têm seu dia de impotência.
Para dar fim a uma fila de 23 anos, a seleção argentina
talvez precisasse mais de um Basílio, um diligente operário da bola, e não do
maior artesão da atualidade. Um grande artista, isso quase todo mundo sabe, não
faz arte por encomenda.
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