quarta-feira, 28 de outubro de 2009

THIS IS IT















Algumas coisinhas sobre This is It, o documentário sobre os últimos momentos de Michael Jackson que chega aos cinemas:

1. O filme serve para mostrar que o show biz americano não está para brincadeirinhas. É um mundo profissa, detalhista, manipulador, capaz de reciclar clichês com uma habilidade espantosa (aspirantes ao Olimpo do mal ajambrado pop tupiniquim, como Wanessa, têm de encarar esse filme como uma aula);

2. MJ era doido, mas não rasgava dinheiro. Sabia precisamente como organizar um espetáculo de alta octanagem pop. Era o chefe em todos os momentos. Tinha um talento incomensurável para a música e para a dança, talento que vai deixar boquiaberto o espectador que o tinha apenas como um excêntrico doidivanas;

3. Espécie de release empresarial, o filme lima as críticas à forma como a empresa AEG “conduzia” a reabilitação artística de Michael (nada sobre as chicanas médicas, nada). É absolutamente alienado da realidade e referenda processo de beatificação do artista; chega a ser criminosamente autista;

4. Impressiona a nova ordem do predomínio da imagem no show biz – cada etapa dos ensaios, cada passo, da escolha dos bailarinos à criação cênica e a parafernália tecnológica, está tudo documentado, para o bem e para o mal;

5. MJ era um sujeito absolutamente carente, delirante, messiânico, em rota de choque com a realidade (tem horas, como lembrou uma menina linda ao meu lado, que o documentário parece Xuxa e Os Duendes), e embora o filme tente dourar a pílula, sua condição de lulalelé fica evidenciada de forma muito clara;

6. Acima de todo o investimento, da tecnologia, dos truques, do ilusionismo, o que encanta (e é o que prevalece, afinal) é uma voz rara, um artista com um conhecimento superior da música, um corpo quebradiço e imprevisível dançando: Michael Jackson.

That's it

2 comentários:

Renata D'Elia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Renata D'Elia disse...

Jotabê, acho que não vimos o mesmo filme.

Concordamos com o talento espantoso do tio MJ música & dança e que, aos 50, magérrimo e tomando anestésicos pra dormir, tava numa vivacidade só em cima do palco.

Discordamos sobre o lance Xuxa. Não sei onde você viu isso, mas até no que eu temia que fosse mais brega, como vídeo e performance de "Earth Song", a coisa ficou longe do espírito Rio 2016 [e olha que o Kenny Ortega já dirigiu abertura de olimpíada].

Não tinha nem criancinhas de mãos dadas no palco. Aliás, a maior apelação ali são mulheres semi-nuas fazendo pole dancing. E se pensarmos nas xaropadas & puritanismos infantiloides do MJ, é um avanço. Sem contar a bela -- e jovem -- banda, classe A; senti até uma modernização nos arranjos [preciso ver de novo pra constatar].

Sabendo que o filme é da Sony e da AEG, não vão mostrar as pendengas do "sistema sanguessuga". A proposta não é examinar a fundo o drama pessoal dos últimos dias doa cara. E pronto. Quem quiser que faça seu doc "conspiratório" ou seu tratado sobre "como a indústria matou MJ". Na proposta do making-of, não tem o que tirar nem por.

E não dá pra negar que o cara aparece com toda a vontade do mundo. Mesmo que a edição privilegie um best of.

De caça-níquel oportunista que é, o filme passa pro terreno do oportuno. E até necessário. Primeiro porque sana a curiosidade em saber como esse show seria [e de fato, a produção botaria Madonna e U2 nos chinelinhos deles]. Segundo porque, numa catarse cheia de simbolismo, serviu como despedida. Terceiro, por saber que o cara ainda conseguiria fazer a coisa como sempre fez.

Poderiam ter pego essa "final courtain" e transformado num puta chororô, cheio de auto-adulação e adoração [só de lembrar daquela promo do HIStory que ele fez, em 1995, tenho náuseas]. Mas não foi o caso.

abraços!