sexta-feira, 17 de julho de 2009

CHUTEIRAS PENDURADAS


as lágrimas do mítico avante romário














Ex-jogadores de futebol comentando jogos na TV.
Rapaz, isso sim é que é uma aula de autoconhecimento!
Ex-craques gordinhos, carequinhas, grisalhos, desajeitados. Ressurgem não sei de onde (estatística rápida do meu Datafraude me informa que boa parte dos ex-ídolos têm revendedoras de automóveis hoje em dia).

Se for assim, Éder Aleixo, pelo jeito, deve vender só picape.
Ele ainda usa aquelas camisas sociais apertadas dos anos 70, abertas no peito, os eternos óculos escuros de playboy do Savassi no alto da cabeça.
Éder, o ponta-esquerda que tinha um torpedo nos pés, tá com a cara mais redonda, mas conserva o velho sorriso maroto.
Muitos desses caras têm algo que poucos temos: eles jamais serão esquecidos. Nilton Santos já não vive nas manchetes há umas quatro décadas, mas ainda é bajulado na padaria.

Euller, o Filho do Vento, é menorzinho do que eu pensava. É tímido demais da conta – só o velho Telê Santana o fez jogar como sabia. Comentou Atlético MG e São Paulo. O Cruzeiro na final da Libertadores trouxe muita gente de volta, como o Palhinha.
Me pergunto: o pequenino gênio sinuoso Dener, o que estaria fazendo se não tivesse se espatifado contra uma árvore?

Romário, recém-saído da cana, apareceu na preliminar do jogo do América. “Agora ele é nosso!”, dizia a faixa no estádio. Bonito isso: Romário atendeu o desejo do velho Edevair e foi parar no Ameriquinha, vai ser gerente de futebol.

No começo, dá aquela sensação de que estão ali na TV expondo nossa própria degenerescência. Mas depois, conforme avanço na garrafa de vinho, sinto que nos emprestam também um pouco de sua eternidade gloriosa (brodagem, se neste ponto eu estiver me tornando tediosamente jaboriano, me avisem que eu me mato). O futebol abastece nossa vida com sua mitologia infinda, um saco sem fundo de ídolos e memórias aos quais nos afeiçoamos.

Alguns ex-jogadores ressurgem e logo desaparecem. Que houve com o Branco, titular da camisa 6 na Copa de 1994? E o Rivellino apareceu no jornal com os olhos vermelhos, pego de surpresa pelo fotógrafo de uma coluna social.
Outro dia o Xico Sá entrou com o Dr. Sócrates na Mercearia. Rapaz, eu quase que me aproveito da amizade com o Xico para ir até lá. Mas para dizer o quê? Pedir autógrafo? Por qual dos grandes feitos do doutor?
Certamente, se fosse para escolher, seria aquele gol contra o Ajax, da Holanda, num amistoso da seleção. Que gol!
Ok, vou incomodar o Xico, vou incomodar o doutor!

Mas daí chegam dois gordinhos vestindo camisetas do Pinguim, de Ribeirão Preto, e eu me distraio. “O único lugar onde pinguim faz verão!”, diz o slogan na camiseta. Podia ser pior? Eles se cutucam quando a garota bonitona do fundão vai ao banheiro. Riem como velhos cúmplices malsucedidos. E chamam o garçom o tempo todo. Quando chamam o garçom, sinto que é como se fosse uma estratégia para aplacar a solidão. No fundo, eles só têm ao garçom.
E eu nem o garçom tô conseguindo chamar.

Um comentário:

Juvenal disse...

algumas rarríssimas pessoas são iluminadas para a escrita. você é uma delas.