segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

PROFECIAS


o escritor roberto bolaño
















Estou no banheiro das mulheres da faculdade e posso ver o futuro, dizia eu com voz de soprano e como se me fizesse de rogada.
Eu sei, dizia a voz do sonho, eu sei, comece com as profecias que eu anoto.
As vozes, dizia eu com voz de barítono, não anotam nada, as vozes nem sequer escutam. As vozes só falam.
Está enganada, mas tanto faz, diga o que tem a dizer e procure dizer alto e claro.
Então eu tomava fôlego, hesitava, punha a mente em branco e finalmente dizia: minhas profecias são estas.

Vladímir Maiakóvski voltará a ficar na moda lá pelo ano de 2150. James Joyce reencarnará num menino chinês no ano de 2124. Thomas Mann se converterá num farmacêutico equatoriano no ano de 2101.
Marcel Proust entrará num desesperado e prolongado esquecimento a partir do ano de 2033. Ezra Pound desaparecerá de algumas bibliotecas no ano de 2089. Vachel Lindsay será um poeta de massas no ano de 2101.
César Vallejo será lido nos túneis no ano de 2045. Jorge Luis Borges será lido nos túneis no ano de 2045. Vicente Huidobro será um poeta de massas no ano de 2045.
Virginia Wolf reencarnará numa narradora argentina no ano de 2076. Louis-Ferdinand Céline entrará no purgatório no ano de 2094. Paul Éluard será um poeta de massas no ano de 2101.
Metempsicose. A poesia não desaparecerá. Seu não-poder se fará visível de outra forma.
Cesare Pavese se transformará no Santo Padroeiro do Olhar no ano de 2034. Pier Paolo Pasolini se transformará no Santo Padroeiro da Fuga no ano de 2100. Giorgio Bassani sairá do túmulo no ano de 2167. Adolfo Bioy Casares verá toda sua obra levada ao cinema no ano de 2015.
Paul Celan ressurgirá das cinzas no ano de 2113. André Breton ressurgirá dos espelhos no ano de 2071. Max Jacob deixará de ser lido, isto é, seu último leitor morrerá no ano de 2059.
No ano de 2059, quem lerá Jean-Pierre Duprey? Quem lerá Gary Snyder? Quem lerá Ilarie Voronca? Essas são as coisas que me pergunto.
Nicanor Parra, no entanto, terá uma estátua numa praça do Chile no ano de 2059. Octavio Paz terá uma estátua no México no ano de 2020. Ernesto Cardenal terá uma estátua, não muito grande, na Nicarágua no ano de 2018.
Mas todas as estátuas voam, por intervenção divina ou mais usualmente por dinamite, como voou a estátua de Heine. De modo que não confiemos demasiadamente nas estátuas.



de AMULETO, de Roberto Bolaño (Companhia das Letras)

3 comentários:

A Inimitável Fábrica de Jipes disse...

Olá Jotabê!

Antes de mais nada, gostaria de dar meus parabéns pela qualidade do seu trabalho, aqui no blog e também no Estadão, principalmente quando você dá uma cutucada nas figuras!

Aqui em Maringá, colado na sua Londrina, e isolado do cenário Rio São Paulo, venho lutando com A Inimitável Fábrica de Jipes e agora estamos lançando o nosso segundo disco.

Gostaria de enviar os nossos dois CDs para você! Qual endereço seria o mais adequado? Se quiser pode me passar por e-mail:
inimitavel2003@yahoo.com.br

Grande abraço e obrigado pela atenção,
Rafael Souza
http://www.inimitavel.com

Paulodaluzmoreira disse...

olá, Jotabê,
Bolaño é muito bom mesmo. Acabei de ler o calhamaço chamado 2666 e recomendo - postei uns comentários a respeito no meu blogue, onde aliás tem um post sobre Gillian Welch que talvez interesse.
Abs

Guiga disse...

Li algumas coisas de Bolaño "os detetiveis selvagens", "putas assassinas", "noturno do chile" o suficiênte para fazer uma profecia, ele ainda será descoberto.