Associação de músicos que tem mais de 10 mil associados faz violento ataque à nova lei de direitos autorais e ao governo em enquete secreta
Em sua newsletter desse mês, a Amar Sombrás (Associação de
Arranjadores, Músicos e Regentes/Sociedade Musical Brasileira) difunde um virulento
ataque contra o novo sistema de direito autoral no País e propõe o rompimento com a lei. A entidade, que tem mais de 10 mil artistas associados, acusa o
governo de estar querendo “fichar” autores para exercer controle sobre eles, diz
que a legislação tem “viés intervencionista e autoritário” e faz ilações entre o
governo e os recentes escândalos políticos. O documento insinua que a
presidente Dilma teria a ganhar na recuperação de sua popularidade se boicotasse
a lei, que na opinião da entidade só interessa às grandes corporações e traz
burocratização excessiva e risco de corrupção.
A Amar, que é um dos braços fortes do sistema Ecad
(Escritório Central de Arrecadação e Distribuição de direitos) propõe 10
questões aos associados. Em quase todas elas, a resposta já parece estar
embutida. “Vimos, recentemente, fotos da primeira mandatária da Nação em
animadas confabulações com o chefinho do Facebook e, quando de sua última
viagem aos EUA, com os Google-boys do Vale do Silício”, diz uma das perguntas.
O informe foi enviado somente aos associados, diferentemente
do costumeiro, que é a publicação dos boletins também no site. Trata-se de uma enquete que
teria primordialmente a intenção de medir o grau de insatisfação com a nova legislação, mas manifesta-se também sobre temas do cenário político. A
argumentação se escora na possibilidade de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade,
que tramita no Supremo Tribunal Federal, anular os efeitos da legislação.
Ocorre que o ministro Luis Fux, do STF, já negara em 2013 uma
ação cautelar que suspenderia os efeitos da lei, que está em pleno vigor e foi
defendida no Congresso pela nata da MPB (entre os seus defensores, estavam
Caetano Veloso, Gilberto Gil, Roberto Carlos e muitos outros). O Ecad, centro
nevrálgico do sistema antigo, passou a ser fiscalizado pelo Estado brasileiro e
os ganhos de seu aparato jurídico cairão progressivamente nos próximos anos. Para analistas, o Ecad foi "enquadrado" pela lei, o que está motivando a grita da Amar.
A ex-ministra Ana de Hollanda é integrante da Amar, que é presidida
por Marcus Vinicius de Andrade. Segundo a instituição, os dados da pesquisa com
os músicos serão tabulados e o anonimato dos que responderem será garantido. “O
que todos queremos saber é, sem firulas, se o direito autoral no Brasil será
fiscalizado e controlado pela mesma máquina governamental que fez surgir o ‘mensalão’,
o ‘petrolão’, etc”, diz um trecho do texto.
“As questões formuladas na presente enquete formam um
conjunto de evidências efetivamente preocupantes para a cultura brasileira, que
se agravam ainda mais em razão de um quadro político-econômico nacional em crescente
convulsão, no qual a imagem das instituições e autoridades públicas se
fragiliza perante a sociedade nacional.
O governo tomou conhecimento do conteúdo da Newsletter da
Amar e a Assessoria de Comunicação do Ministério da Cultura enviou a seguinte
nota ao blog, com sua posição sobre o assunto:
Sobre a ADI
que corre no STF sobre a Lei 12.853/2013, cabe esclarecer que o Ministro
relator negou a medida cautelar que pedia a suspensão da Lei. A Lei
12.853/2013, fruto de uma CPI - ou seja, iniciativa do Congresso Nacional -,
encontra-se, portanto, vigente, regulamentada e está sendo implementada. As
próprias associações integrantes do Ecad, dentre elas a Amar, já solicitaram ao
MinC o reconhecimento do Ecad como o ente arrecadador para os direitos
relativos à execução pública musical, conforme a Lei 12.853/2013 determinou que
o fizessem. Sobre o teor da newsletter da Amar, o MinC informa que não se
manifestará sobre correspondências internas de entidades por ele fiscalizadas.
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