segunda-feira, 15 de setembro de 2008

ANTIPROVÍNCIA


jazzistas celebram miles davis em são paulo












a natureza de são paulo é boa.
quer saber por que são paulo nunca fica complexada com sua feiúra, com seus prefeitos vilanescos, com seus rios fétidos, com sua burguesia brega?
por que são paulo não se deixa abater pela voracidade especulativa de seus ricos, a tendência sadomalufista?
é porque a natureza de são paulo é superior a tudo isso.

falo da cidade que pensa, que inventa, que critica e que cria.
falo de sua natureza autopurificadora.
falo da cidade que é artesanal no meio da cidade industrial.
contra a vocação vilaolímpia, os baixos da rua augusta.
contra a arquitetura monstruosa, osgemeos pintando nas paredes do cambuci.
são paulo é são paulo quando afirma sua vocação antipadronizadora.
é legítima quando os meninos de 20 anos fazem dos bares da parte baixa da rua augusta um oásis de originalidade e pureza.

contra os fazedores de bulevares, todo poder aos bares moscas-fritas.
essa cidade está acima de toda caretice, afirmando a todo momento a superioridade antiprovinciana.

digo tudo isso a propósito de duas coisas que presenciei no final de semana:

COISA 1. a apresentação da peça aos ossos que tanto doem no inverno, de sergio mello, com mário bortolotto e nelson peres.
no espaço satyros 1, no coração da praça roosevelt.
o teatro de sangue que se insurge contra o teatrão sem alma.
o teatro que se faz apenas porque é preciso ser feito.
e, além de tudo, o ator que depois da peça sai encurvado pela calçada com seu coturno sem cadarços, procurando algum alívio na mesa de latão (não é um texto do qual se sai impune).

COISA 2. um tributo a miles davis que assisti no bar mais bacana de são paulo, nos fundos de uma garagem. melhor que os bares do village.
nas imediações da benedito calixto.
os músicos que tocam para quem está de fato a fim de ouvi-los.
os músicos que tocam sem saber se haverá paga, ou quando haverá paga.
a platéia que ouve porque ama o que ouve, e que não está ali apenas para ser vista.
(não dou o endereço porque, se as revistas semanais descobrirem, o lugar está acabado, mas se os amigos perguntarem eu conto).

8 comentários:

Unknown disse...

Jotabê, por favor me conte. Você é a segunda pessoa que ouço falar do lugar. Mas conte em off: rix_silveira@yahoo.com.br

Fernanda Lopes disse...

Sabia que você não ia aguentar muito tempo de boca fechada...

ADRIANO NUNES disse...

JOTABÊ,



BELÍSSIMO TEXTO: SIMPLES E DIRETO!

P.S.: AINDA AGUARDO A SUA CRÍTICA SOBRE OS MEUS TEXTOS (minhas poesias)EM MEU BLOG!
UM FORTE ABRAÇO E SUCESSO SEMPRE!


ADRIANO NUNES(astripasdoverso.blogspot.com)

Carola Medina disse...

Me conta Jotabê carolamedina@uol.com.br

Mariana Cetra disse...

Prezado Jotabê,

Gostaria de falar contigo sobre um trabalho. Se puder, peço que envie seu e-mail para o marianacetra@cenpec.org.br

Abraços,
Mariana.

--
Mariana Cetra
Educação e Cultura - Cenpec
11 2132-9084
www.cenpec.org.br
marianacetra@cenpec.org.br

Prensada disse...

Pô, conta aê...
prensada@gmail.com

Paulodaluzmoreira disse...

Nao sou nem paulista e conheco muito pouco a sua cidade. Digo a voce uma coisa sobre SP: a gente encontra o melhor e o pior do Brasil em SP - e tudo o que eu encontrei de bom e de ruim na sua cidade eu encontrei na minha [talvez a unica diferença seja uma questao de escala]. Nao sei, talvez porque, por mais que a gente negue, a gente seja meio "aparentado" [sou de BH]. De qualquer jeito, eh bonito ler um texto como esse seu. Como eu disse encontrei o melhor e o pior do Brasil em SP e tenho pena de quem nao enxerga esse melhor, mesmo quando ele esta debaixo do seu proprio nariz.

Guiga disse...

meu amor por es6ta cidade começou numa mujer e transbordou