sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

MISS PEACHES




















Etta James, aos 72 anos, foi internada hoje com uma infecção grave.
Nunca vi uma mulher cantando com tanta ênfase uma canção de mulher para mulheres com indignação de mulher como Etta James fez com I’d Rather Go Blind.
É uma das maiores canções de todos os tempos. Beyoncé gravou uma versão, em Cadillac Records, mas Beyoncé teria de viver duas vidas para sentir algo perto disso aqui.



E o blues nunca foi tão lancinante quanto na voz dessa mulher.
Muita gente a conhece mais pelo apelido de Miss Peaches.

Eu a vi no Velódromo da USP cantando numa mesma jornada que tinha B.B. King.
Elas nasceu em 1938 e seu nome real é Jamesetta Hawkins. Mulata, filha de mãe negra e pai branco desconhecido (a mãe disse a ela que o pai fora Minnesota Fats, um lendário jogador de sinuca cujo nome real era Rudolf Wanderone).
Espero que Etta saia ilesa dessa.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

RADIOLA


tenda do flaming lips em lollapalooza, há dois anos, onde era exibido filme da banda
















Um disco estranho que me deixou estranhamente satisfeito foi:
EMBRYONIC, o novo disco dos Flaming Lips.
Tem um jeito de trilha sonora, mas sobrevive sem projeção de imagens.
Soa como uma mistura de Arrigo Barnabé com Sonic Youth.
Ainda estou ouvindo, mas com calma - talvez leve um mês para decifrar inteiramente, mas daqui a pouco terei um tempo.
Então eu completo esse post.
Pregui

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

NÃO ESTACIONE





















um raio não cai duas vezes no mesmo lugar?
bom, na são paulo do aquassab tudo é possível.
e está aqui a prova do contrário.
no sábado eu tava subindo a rua de casa, rua dr. candido mota filho, vila são francisco, rua que tem uma alameda de eucaliptos (plantar eucalipto em rua é idéia de jerico...)
e aí tinham caído quatro eucaliptos por causa da chuvarada. um deles caiu em cima de um carro estacionado, esmagando o capô.
os homens da prefeitura vieram, serraram os eucaliptos, desobstruíram a rua, limparam (tudo é diferente quando você vive em área de eleitor "bacana", e longe do jardim pantanal), e o dono levou o carro esmagado embora.

no domingo, caiu outra chuvarada.
eu tava subindo a rua e um cara tinha estacionado no mesmo lugar onde o outro carro tinha sido macetado pelo eucalipto no dia anterior.
em 15 minutos, a chuva inundou a rua e o cara perdeu o carro na inundação.
bem na frente do bradesco.
a região ali agora é conhecida como "terror dos flanelinhas".

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

VIVA, PIVA


abraço no leitor em dia de lançamento na rua augusta












INTERMINÁVEL-EXTERMINÁVEL (OUVINDO BARNEY KESSEL)
“Eu quero ver tuas coxas na televisão estrelada/ Intestinos lunares sob a luz-neon/Acariciando teus cabelos jabuticabas encaracoladas”.

OS ESCORPIÕES DO SOL
“Nesse instante um helicóptero do Citibank se aproximava pedindo pouso & os dois nem ligaram continuando com suas blasfêmias eróticas heróicas & assassinas”

APAVORAMENTO Nº UM
“dezoito garotos & dezoito garotas foram emparedados vivos em caixas construídas com chicletes que só Adams fabrica & tostados dentro de um porão de arsênico & cascavéis”

&

“Pintou uma roda de samba-chinês-dodecafônico via Ezra Pound & um mulatinho que tocava pandeiro se transformou numa borboleta vermelha com perfumes raros”.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

VENDETTA















hey!, dos pixies, é uma das minhas músicas preferidas de todos os tempos.
um dia, anos atrás, estávamos em cianorte, cidade de onde eu escapuli lá no paraná, num boteco com música ao vivo.
o cara cantava djavan e engenheiros do hawaii e lulu santos e bruno e marrone, e nós bebíamos feitos loucos.
éramos eu, meu irmão jack, meu irmão marcelo firefighter e os amigos deles que moram numa chácara em terra boa.
um dos amigos dos meus irmãos dormiu na mesa.
aí o cantor dizia: "alguém aí quer pedir uma música?".
e eu pedia flaming lips, pedia dexys midnight runners, pedia foals, whatever, pedia qualquer coisa que achasse que ele nunca tinha ouvido falar só para humilhar, estava cruel e arrogante como todo bêbado.
e aí ele veio com essa de novo: "alguém aí quer pedir uma música?"
e eu gritei: toca HEY, dos pixies!!!
ele sorriu, pegou a guitarra e tocou sozinho HEY!
tocou HEY! divinamente.
meus irmãos riam e me jogaram cerveja ao final da música.
ainda consigo ver o rosto de satisfação do cantor enquanto ferrava esse velho fdp aqui...






“Arquitetura é o que você faz dela enquanto a observa; pensou que ela estava
na pedra cinza ou branca? ou nas linhas dos arcos e das cornijas?
Música é aquilo que desperta de você quando os instrumentos se lembram de
vocês.”


walt whitman, em folhas de relva, na tradução de rodrigo garcia lopes.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

HAITI 7.0














a repórter da globo com o microfone no rosto da mulher soterrada no haiti. a mulher só tinha a cabeça para fora, o resto era concreto macerando a carne.
e, ontem, o repórter vendia "imagens exclusivas, não mostradas antes", e aí aparecia um enxame de esfomeados pegando comida no caminhão da ONU (o repórter e o cinegrafistas encarapitados lá dentro).
o futuro parece confirmar billy wilder e a montanha dos 7 abutres...

FAVELOST


marcos arcoverde/AE













"favelost tem quatro histórias, um ambiente com três núcleos.
o primeiro é formado por uns garotos bilionários, que têm a arrogância de ter um twitter só entre eles, porque são a elite da elite da Terra, ou seja, têm mais de 30 bilhões na conta, portanto "o resto é merda". então, os caras são completamente fanáticos, têm comunidades e curtem séries, especialmente TV, especialmente Lost. Então o J.J. Abrams, o camarada que bolou Lost, tem a idéia de fazer um filme tipo saga, tipo Indiana Jones, Guerra nas Estrelas, com três partes, que vai se passar numa favela, mas uma favela contaminada, maldita. Aí os caras bilionários acabam surtando, piram, e vão atrás dos atores, vamos aprontar? vamos aprontar? Pegam os atores, dopam, são bilionários, e os trazem para o Vale do Paraíba, ali na Via Dutra.
"Ah, é, vamos jogar então os atores num lugar faveludo de verdade, à vera". E jogam nesse lugar, e espalham 10, 12 atores, em vários pontos. Por quê? Porque São Paulo e Rio de Janeiro finalmente formaram uma grande mancha urbana, ressuscitando de forma gloriosa o Vale do Paraíba, às margens da Via Dutra. E essa mancha acontece de forma tão violenta que você não tem mais Taubaté, Pindamonhangaba, Volta Redonda, todas essas cidades se tornam localidades dentro da mancha urbana. Não há mais municípios, foram engolidos por essa avalanche de gente, viraram espécies de bairros dentro da mancha urbana.
Aí, a notícia dos atores de Lost jogados na superfavela se espalha e o nome acaba pegando. E toda aquela mancha acaba sendo apelidada de Favelost.

Outro núcleo: existe um projeto numa região - já que todo tipo de empresa, todo tipo de indústria oficial, não oficial, foi usando aqueles artificios jurídicos para religião, para não ter os impostos cobrados, você sabe que quem funda uma religião não tem imposto, que é um oásis tributário? -, uma região em que trucagens jurídicas fizeram com que várias empresas se aliassem a máfias, tudo que você possa imaginar de oficial tem associações, é um momento em que a Embrapa se une à Yakuza, a Unicamp pode finalmente deixar seu Departamento Underground à solta, a Fiocruz se une a tríades chinesas, todos podem colaborar. Então se transforma também numa região de capitalismo exacerbado, milhões de pessoas se dirigem para essa região. E, no centro desse núcleo, você tem empresas que precisam de cobaias humanas. E, nesse lugar, o que há de interessante é que se ganha muita grana e quem vai para lá fica mandando dinheiro para fora, porque, ali, os mandamentos do supercapitalismo são bem introjetados, e acontecem de forma violenta. Ou seja: nada de apego, de criar raízes, você não tem mais aquela famosa história de vida, com família, núcleos de amizades, lazer, trabalho, uma profissão apenas, não. Aquele estudo constante, reciclagem o tempo todo, trocas de profissões. Hoje é espalhado, lá é concentrado: nada dura mais de três meses, nem empregos, nem produtos, e também pessoas não duram mais de três meses, especialmente pessoas que são quimeras. Mas numa boa, porque mandam dinheiro para suas famílias. Então você pode chamar aquilo de Serra Pelada, de Caixa de Pandora, de Arca de Noé, que vai traduzir bem o que acontece em Favelost.

E há quatro empresas muito tops e famosas que são centroavantes do futuro, com nomes engraçados, que têm a ver com Engenharia Molecular, Neurociência, genética. Elas são quem manda, digamos assim. Tem a Bioser, que tem como lema uma humanidade gostosona. Tem a Robonança, robôs que se autoprojetam, etc. Neurotaurus, para aperfeiçoamento dos gatilhos cerebrais, e por aí vai.

E o quarto núcleo é um casal. O nome dele é Júpiter Alighieri e o nome dela é Eminência Paula. O que acontece é que tem a historinha dos dois. Ele é do Rio de Janeiro ela é de São Paulo, para brincar de novo com essa pororoca urbana.
Ele se assinava Bruce Lido na juventude, porque vivia no hedonismo de pancadaria & sexo em Copacabana, namorava uma garota que chamava de Gostosona 51, porque ela tinha 51 anos, e ele tinha 22. Os dois se enamoraram, tinham uma parceria bacana, mas acontece que ela foi assassinada, esquartejada, negócio terrível, pedaços do corpo espalhados pelo apartamento, e o cara, o Bruce Lido, vira uma espécie de buraco negro de amarguro, e passa a assumir a assinatura de Batman de Dostoiévski, porque ele achava que Doistoiévski escreveria muito bem as histórias de Batman, por causa da amargura e da semelhança com Notas do Subterrâneo, e entra para uma seita policial de matadores vingativos e ficou 10 anos nesse negócio, enchendo a cara e comendo garotas que lembravam a tal da mulher 51, misantropia, assim como tem o Rio 40 Graus, tem o Sombrio 40 Graus.
Depois de algum tempo, ele tá cansado, quase morrendo de tanto beber, ele está saciado, e ele encontra um anúncio de uma firma chamada Intensidade Vital, uma espécie de Legião Estrangeira. Não está com saco para mais nada, mas para se foder também não está. Quer ficar meio indiferente, mas na boa. Aí ele parte para esse lugar que oferece, onde a maioria das pessoas vive num sedentarismo emocional, sonhando e invejando os slogans de viver intensamente. “Nós temos um catálogo de vivências intensas e oferecemos para você que está sofrendo de implicância geral com o mundo, etc etc”. E realmente é um treinamento, desde cuidar de doentes terríveis, coisa de baixar tua bola mesmo, até treinamentos militares, frequentar laboratórios científicos, participar de casamentos Big Brothers, fazer filho e depois abandonar. Então, todo um show de vertigens forja o cara, como se fosse um monge da atualidade. E ele descobre que todo esse treinamento está vinculado aos projetos das empresas de Favelost, que precisam de pessoas, capatazes de humanistas, capazes de segurar a onda do povo que vai para lá trabalhar e viver de forma alucinante esse tal gueto de capitalismo exacerbado. Então, na verdade é uma espécie de treinamento para virar um soldado universal de apoio."



essa é a sinopse do novo livro inédito de fausto fawcett, favelost, escrito há uns três anos, e contada pelo próprio numa mesa do jobi, no leblon. confesso que fiquei grogue com o bombardeio verbal. este livro e os três anteriores de fausto (santa clara poltergeist, básico instinto, copacabana lua nova) serão lançados em março pela editora papagaio, que já relançou a obra completa de josé agrippino de paula.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

NOMES AOS BOIS







época corajosa essa aqui.
hoje, vejo as promessas do pop rock (black drawing chalks, pose de sub-kings of leon; mallu magalhães, quase uma inadimplente intelectual), e acho tudo meio chocho, ou acovardado e imbecilizado.
é a era em que se idolatra o patrão.
os velhos titãs, que não existem mais, meteram o dedo na ferida nos anos 80.
qual seria a nossa lista de hoje? contribuições para o blog.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

TROPICALIST















O norte-americano Christopher Dunn é professor da Tulane University, em New Orleans.
Especializou-se em cultura pop brasileira e já escreveu dois livros.
O mais recente, Brutalidade Jardim, saiu pela Editora da Unesp e examina a Tropicália.
Sagaz e rigoroso, Dunn fez um admirável estudo sobre o tropicalismo.
Estava em férias na Bahia, mas achou um tempinho para responder a essa entrevistinha para o blog:


Por que você resolveu revisar a história da Tropicália, um tema que foi bastante abordado por historiadores e ensaístas no Brasil (incluindo o próprio Caetano Veloso)? O que viu de lacuna na historiografia do movimento?

Escolhi a Tropicália como tema da minha tese de doutorado, defendida pela Brown University em 1996. Naquele tempo havia relativamente poucos estudos sobre o fenômeno, o melhor sendo o livro de Celso Favaretto de 1979, além dos artigos de Augusto de Campos nos anos 60 e o importante ensaio de Roberto Schwarz publicado na França em 1970 (e republicado no Brasil alguns anos depois). Havia algumas excelentes teses, como a de Liv Sovik, defendido em 1994 na USP, que procurou entender a Tropicália em relação à cultura pós-moderna. Entre a minha tese e meu livro, publicado nos EUA em 2001, apareceram mais livros como o de Caetano, a história excelente de Carlos Calado, o livro provocativo de Pedro Alexandre Sanches, além de muitos ensaios e artigos. Então meu livro foi escrito e publicado em relação a um campo denso, sem a pretensão explícita de preencher uma “lacuna” historiográfica. Eu queria sintetizar a discussão e ao mesmo tempo chamar atenção para aspectos pouco comentados da Tropicália, como sua relação à contracultura internacional e novos discursos identitários.

Você considera que o tropicalismo foi um "movimento", no sentido clássico do termo?

Concordo com Flora Süssekind, que entendeu a Tropicália como um “momento” de encruzilhamentos e diálogos entre vários campos artísticos, sem organizar-se propriamente como “movimento.” Acho importante colocar em relevo estes diálogos interdisciplinares sem perder de vista as diferenças entre os vários campos (música popular, arte plástica, teatro, cinema, literatura). Acho que podemos falar de “movimento” só em relação à música popular porque havia uma intervenção muito explícita no campo, com um disco-conceitual, vários discos solos, muitas entrevistas, enfim-- um “movimento,” apesar de ser efêmero.

Muitos artistas de novas gerações, como Beck, Tortoise, Sean Lennon, Beastie Boys, Ben Kweller (e mesmo Kurt Cobain, do Nirvana) tomaram contato com o tropicalismo e alguns mesmo deixaram que as práticas do tropicalismo permeassem seu trabalho. O tropicalismo (como a bossa nova) acabou se tornando mainstream musical, em sua opinião?

O tropicalismo musical nasceu ‘mainstream’ no Brasil, mesmo trazendo algumas novidades vanguardistas. Lembramos que as músicas que lançaram o movimento-- “Alegria, alegria” de Caetano, “Domingo no Parque” do Gil, “São São Paulo de Tom Zé e outros— tiveram bastante sucesso nos festivais da TV, no rádio e na vendagem do disco. Sempre havia um forte aspecto “pop” na música tropicalista que passou a influenciar quase imediatamente o campo da MPB. Uns trinta anos depois, alguns músicos famosos dos EUA e Europa reconheceram tardiamente algumas sonoridades tropicalistas e pós-tropicalistas porque tinham a ver com seus próprios projetos musicais.


A prática "antropofágica" do tropicalismo fez com que a crítica acabasse considerando seriamente movimentos jovens populares, como a Jovem Guarda. Hoje em dia, diz-se que esse chamado à dialética pode também trazer consequências nocivas – como, por exemplo, a defesa intransigente de Caetano e Gil da axé music comercial, por exemplo. O que pensa disso?

A noção de antropofagia sofre de um desgaste conceitual porque passou a designar qualquer prática cultural híbrida, tipicamente envolvendo referências tidas como “locais” com uma roupagem “moderna”, “pop” ou “internacional,” esquecendo o imperativo de invenção e de experimentalismo da antropofagia oswaldiana. Não vejo como a defesa da axé music tem a ver com a antropofagia. No discurso de Caetano, a defesa do axé passa mais pela questão da “competência” (por exemplo, nas vocais e no talento performático de Ivete Sangalo) e pela defesa de uma indústria musical regional (neste caso, baiana), e não pela questão da antropofagia.


Você analisa as relações culturais do Tropicalismo com os movimentos de vanguarda do início do século. Mas o que dizer da tensão entre a tropicália e os movimentos imediatamente anteriores, como a bossa nova (Elis Regina e outros). O Tropicalismo também não preconizou, como disse Caetano da juventude, a morte do "velhote inimigo que morreu ontem" na música?

Se houvesse um “velhote inimigo” para os tropicalistas, certamente não seria a bossa nova. Todos eles adoravam João Gilberto e Tom Jobim e achavam que para chegar a altura da bossa nova, tinham que partir para o avesso, fazendo novas experiencias dentro da tradição da canção brasileira, esta vez deglutindo o rock internacional, recuperando estilos populares pre-bossa nova como o bolero e a samba-canção e incorporando mais sonoridades regionais, sobretudo nordestinas. Quando Caetano referiu-se ao “velhote inimigo” (no famoso discurso no TUCA em São Paulo durante as eliminatórias do Festival Internacional da Canção em 1968 quando cantava “É proibido proibir”), estava denunciando a plateia de jovens universitários que o vaiavam por considerar sua música entreguista ou alienada. Cito a frase completa: “São a mesma juventude que vão sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem!” É uma defesa do novo contra aqueles que sempre vêem o fanstasma do passado. Foi como dizer, “o quadro mudou, precisamos inventar novas linguagens para interferir.”

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

HOMEM NO SOFÁ



















não foi o sofá que lhe deu a dor no braço, é preciso que se diga.
do sofá ele monitora lá no fundo do quintal a altura da grama, as roupas no varal.
do sofá observa as novas espécies de pássaros que vão aparecendo para comer as frutas que coloca sobre o muro.
não há controle de claridade na sala, então ele acorda muito cedo.
com o tempo, a madeira do estrado foi cedendo e o sofá tornou-se curvo no meio.
desconfia que sua barriga cresce à medida que a curva de nível do sofá aumenta.
também ouve barulhos estranhos que não são das molas e desconfia que exista uma colônia de fungos futurista vivendo dentro do sofá, famílias de fungos que teriam carros voadores como os jetsons.

não inventou a vida no sofá, tem consciência de sua falta de originalidade.
david goodis viveu num sofá alugado em hollywood.
em 1996, após ser despejada, a poeta orides fontela foi viver num sofá cedido por estudantes numa república na avenida são joão.
“foi bom ter vindo para cá, as pessoas são amigas e eu estava muito solitária”, disse a doce orides.
ernest hemingway, dizem, conheceu reentrâncias da vida numa suíte-sofá.
lá em finca vigía, a casa cubana de hemingway, na cidade de san francisco de paula (hoje museo hemingway), está preservado o sofá onde gary cooper dormiu (e, muito melhor, a piscina em que ava gardner nadou nua).

a revista velha no avião ensina que existe até uma modalidade de turismo nova, chamada couch surfing, o surfe de sofá.
funciona assim: o povo do mochilão reserva pela internet, e enfim alguém aluga o sofá por uma temporada.
e couch potato, há décadas, dá nome ao cara que fica no sofá a maior parte da vida, assistindo TV e comendo porcarias.

muita gente importante desenvolveu um apego sobrenatural ao seu sofá.
uma vez, contam, o poeta joão cabral de melo neto, recluso e quase sem visão, aceitou abrir as portas de seu apartamento na praia do flamengo, no rio, para dois documentaristas. pediu que entrassem. um deles, inadvertidamente, foi logo sentando no seu lugar no sofá e ele não teve dúvidas: “vamos trocar!”, ordenou.

o sofá cedeu imagérie para a canção popular.
“saw you sleeping on the couch tonight”, canta john mayer em lifelines.
“i guess it's fair if he always pays the rent/ and he doesn't get bent /about sleeping on the couch when i'm there”, cantam os dandy warhols em bohemian like you.
outra mais remota: “quando ela cai no sofá, so far away. vinho à beça na cabeça, eu que sei”, diz a letra do kid abelha.

não se faz lençol que dê em sofá, então o forro às vezes se enrosca no pijama, e ele acorda contrariado.
o gato resolve jogar bola às duas da manhã.
ele implora ao gato que pare.
há compensações: reality shows fajutos na TV à noite, que ele teria vergonha de ver de dia, o fazem rir à toa – papo calcinha, ontem, ensinava a melhor forma de pressionar o grelo com o pau enquanto a coisa se desenrola.

a faxineira se acostumou a entrar furtivamente para não acordá-lo antes da hora.
a faxineira não consegue entender o seu apego ao sofá, e pisa em ovos pela sala.
o sofá é o seu rito de passagem.
é o contrário do apego, é um não ser e um não estar.
após o sofá, tudo surgirá macio e aconchegante, pensa.

nem amanheceu, e um besouro atravessa furiosamente a sala como se competisse na prova dos 100 metros rasos.

SÃO LUIZ DO PARAITINGA


andré penner/ap
















"São Luiz do Paraitinga é uma tragédia sem precedentes na história do Iphan. A coisa mais próxima aconteceu em Goiás Velho, em 2001, mas em Goiás não teve edificação que ruiu. São Luiz perdeu duas igrejas, totalmente destruídas.
Recuperar esse patrimônio é uma decisão conceitual. Só após o levantamento de danos, que é preliminar, saberemos como proceder. E só teremos de fato esse levantamento quando tudo secar. Porque cada casa tem um tipo de técnica, são materiais diferentes. O levantamento preliminar ainda não está completo porque a vistoria não foi concluída, os técnicos não podem entrar em todas as casas porque ainda há o risco de ruirem.
São Luiz estava em processo de tombamento pelo Iphan, o que facilita as coisas em um aspecto: nós acabamos de fazer, antes das chuvas, um amplo levantamento fotográfico da cidade. O processo de tombamento corre há 4 anos. Mesmo o primeiro tombamento do Estado, pelo Condephaat, foi feito a partir de um estudo do Iphan. Antigamente, havia a compreensão de que o tombamento pelo Estado dispensaria o tombamento federal, mas a Constituição de 1988 mudou isso, instituiu o tombamento complementar. Iguape, por exemplo, é um tombamento complementar que concluímos em dezembro de 2009.
Portanto, não vamos nos eximir. Não é porque não tem tombamento federal ainda que não vamos trabalhar aqui.
Estamos trazendo três técnicos do Iphan de Goiás, para acompanhar, orientar os pequenos reparos, o processo de retirada de entulho. Porque as pessoas podem achar que tudo pode ser jogado fora, e isso não é verdade. Um grupo permanece dormindo lá, para acompanhar. Também queremos iniciar cursos para pedreiros e mão de obra local.
A gente ainda não pediu mais recursos, nem nada especialmente, porque ainda não sabemos quanto será necessário, isso só saberemos quando terminar o levantamento dos danos.
É importante conhecer a experiência de Goiás porque às vezes tem coisas que a gente não pensa. Em Goiás, uma das coisas que os técnicos enfrentaram é que a população passou por uma depressão muito grande. Após a tragédia, houve uma sensação de perda, que provocou uma baixa psicológica. Foram contratados psicólogos para conversar com a população, reanimá-la.
Primeiro, é preciso retomar as condições de vida na cidade, estabelecer um mínimo de normalidade, e aí montar a estratégica de recuperação. Há muito a definir: uma coisa é o imóvel público, outra coisa é o privado, é preciso inventariar o que se perdeu parcialmente, o que se perdeu na totalidade.
A nossa leitura hoje é que Goiás Velho, após a reconstrução, encontra-se em melhor estado de conservação do que estava antes da enchente. E que, tão importante quanto os recursos humanos, está a necessidade de convencer a população e encontrar pessoas com vontade de tocar o processo."


DEPOIMENTO DE LUIZ FERNANDO ALMEIDA, PRESIDENTE DO IPHAN, AO BLOG ESTA MANHÃ

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

REFEITO URTIGÃO


bem que o raul ia gostar da compa
nhia, mas o marião deu cano no encontro...







cara, tô aqui me divertindo muito com o blog do velho bortolotto.
como ele tá meio fora de combate ainda, braço fodido, responde só algumas mensagens que umas 600 pessoas já deixaram no blog dele.
e aí é que a gente nota que ele está mesmo quicando na área.
tem uns malucos que pedem desesperadamente para ele mudar o nome do blog.
eu duvide-o-dó, mário nunca foi cagão.
outro maluco postou:
“esse cara tem uma sorte do caralho não morreu por pouco”.
falou e disse! tem sorte porque merece.
o fabuloso urtigão está de novo com seu trabuco na varanda.
e aí é que a gente nota que ele está mesmo em grande forma.
olha só essa seleção de pergunta/resposta:

[ddiddica@gmail.com]
Mário, você sentiu algo quando estava em coma?04/01/2010 16:46
RESPOSTA:
Não me lembro.

[dujosevirtual@gmail.com]
agora deixa de ser alcolatra, a bebjda quase te matou cara
04/01/2010 14:08
RESPOSTA:
Vc tá precisando beber uma.

[ANTÔNIO GARCIA] [antoniocgarcia@hotmail.com]
Por que será que todo cineasta e teatrólogo brasileiro acha que tem que falar MUITO palavrão pra parecer natural?
04/01/2010 07:01
RESPOSTA:
Não posso responder pelos outros, mas eu falo palavrão o tempo inteiro.

E um momento fofo:

Fernanda D´Umbra] [fernandadumbra@uol.com.br]
Oi, Mário.
04/01/2010 00:18
RESPOSTA:
Oi, Fernanda.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

MANÉ CARLÔS













Les herbes folles, de Alain Resnais.
Duas horas de punheta no cinema (onanismo tristemente movido a imagens eróticas da Elke Maravilha nos dias de hoje...).
Ai, meus sais...
Filme pretensioso, chato, imbecilizado, prenhe de uma vanguarda moribunda ou caduca.
Dois infelizes, idade avançada, e que nutrem a mesma paixão pelos céus, pelos espaços abertos, se apaixonam.
Santa Mariinha do Clichê Ensimesmado!!!
Tirando uma ou outra cena boa, especialmente a visita dos policiais, é um filme tedioso de matar.
Um filme cheio de boas intenções (“combativo”, Resnais trata como ardida caricatura a vida burguesa, o bom gosto da decoração, das roupas, os hábitos familiares), mas é profundamente vazio de espírito.
Ok, um crítico complacente pode apontar metalinguagem, vigor semiológico, algo do tipo.
Mas não tenho mais paciência para tanta agonia existencial.
E é mal filmado, tem hora que parece novela do Manoel Carlos, com suas dentistas “amigas”, suas trocas de casais, seus pacientes do Leblon (será que também é uma crítica embutida?).
Péssimo cinema de invenção, encharcado de vícios antiquados.
Uma braguilha aberta, um zíper emperrado, para Resnais, vira um manifesto da sexualidade interrompida.
Ai, meus sais...

ENDEREÇOS


a mi me gustán estranhamente essas coisas que um dia foram casas.



TUITS















e quem era aquela mulher cantando no réveillon enchanté? diz que o nome dela é rolete sangalo, é verdade?
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e diz que para a ivete sangalo alcançar o shape da beyoncé até março vai ter de perder 80 quilos...
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onça mata, bebe o sangue e come coração e fígado. mas o viralatas leãozinho escapou, viveu para contar e tornou-se o famoso 'chiclete de onça"
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no sertão da bocaina é que a gente vê o nível de estrada perfeita da propaganda do governo do estado...
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50 galões de leite de 50 litros esperam para atravessar do bairro dos macacos até silveiras...
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