tag:blogger.com,1999:blog-39466631584349774872024-03-23T01:41:35.394-07:00JOTABÊ MEDEIROSEL PÁJARO QUE COME PIEDRAel pájaro que come piedrahttp://www.blogger.com/profile/02706901433920414654noreply@blogger.comBlogger891125tag:blogger.com,1999:blog-3946663158434977487.post-8596261599659445372019-07-06T14:31:00.005-07:002019-07-06T14:44:37.914-07:00DEZ SHOWS DE JOÃO<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgurBll8WngZWEXnZDmUCIjFTd8bjvD_Sq7jTowJvTSfv0OYiZWllr9-iGiCX6cQo-7041I3weIlBAGmxJRwS7RxQH6Dm7QeZ7wpKRFpAq895CwK5I5w2pRkLIluDwy8iuhwFINv8mEGKnI/s1600/jo%25C3%25A3o+005.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgurBll8WngZWEXnZDmUCIjFTd8bjvD_Sq7jTowJvTSfv0OYiZWllr9-iGiCX6cQo-7041I3weIlBAGmxJRwS7RxQH6Dm7QeZ7wpKRFpAq895CwK5I5w2pRkLIluDwy8iuhwFINv8mEGKnI/s640/jo%25C3%25A3o+005.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<i>foto: jotabê medeiros</i><br />
<div class="MsoNormal">
<br />
<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Estive em
todos os 10 shows que João Gilberto fez em São Paulo a partir de
1997, quando inaugurou a Tom Brasil da Vila Olímpia – obviamente, reclamando do
ar-condicionado. Presenciei João mostrando a língua para os convivas sem noção
na inauguração do Credicard Hall, em 1999. “Vaia de bêbado não vale”. Estava
lá no show do Auditório Ibirapuera quando ele tocou uma canção nova, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Je Vous Aime Beaucoup Japão</i>, uma
homenagem àquele país. “Amo o Japão. É tão Brasil, é tão coração. Fiz essa
música para o Japão”. A canção é toda construída com palavras em japonês,
português e francês. Até hoje não sei se era nova, se era uma música, se
era uma composição ou uma improvisação genial.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Vi João
Gilberto o bastante para saber hoje que muitos dos mitos a seu respeito são
falsos. É ilusória a ideia de que ele faz sempre “o mesmo e imutável show”. A
suprema e notória economia de meios de João Gilberto é uma conquista
progressiva, ele sempre se exaure nessa busca pelo minimalismo essencial. Um
show é diferente de uma gravação, e João Gilberto parece pretender que seu show
seja uma obra perfeita, um Tintoretto muito curtido pelo vento da ponte do
Rialto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Ele sabe de
sua reputação, e não lhe dá a minima.“Dizem que eu canto sempre as mesmas
músicas velhas”, afirmou num desses shows. “Mas as notas são mais velhas que as
músicas, e são sempre as mesmas notas”, e lembrou marotamente que Frank
Sinatra cantava todo o tempo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cheek
to Cheek</i> e isso era visto com naturalidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Seus shows
são happenings sociais. Dá para ouvir o estômago do vizinho da cadeira ao lado
roncando. As pessoas parecem desconfortáveis, inclinam-se para a frente para
ouvir melhor, riem nervosamente quando ele começa a impacientar-se com algum
detalhe acústico. É um público que não detestaria João mesmo que ele quebrasse
o violão em suas cabeças.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Eu,
particularmente, adoro o modo como João Gilberto lida com o som. Em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Doralice</i>, ele estica os esses como a
cobra insidiosa do desenho animado <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mogli</i>.
Em <i>Desafinado</i>, ele emenda as palavras e cria neologismos melódicos (“revelou-se
a suenormingratidão!”). Em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Estate</i>,
ele mastiga o italiano como se o devorasse antropofagicamente: (“la neve
copprirà tuuuuuutte le cose”). Enfatiza as primeiras sílabas. “Sóóóó um nooovo
amor, pode a saudade aaaapagar.” E se dá ao luxo de inventar onomatopeia para
preencher espaço de uma nota que ele porventura tenha pulado ao cantar <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Pra Machucar Meu Coração</i> (“Pra
bróóóóó machucar meu coraçããão!”).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Para João
Gilberto, o som é o único soberano; o som e a modulação infinita dos sons em
sua voz e seu violão. Não é tanto a palavra, mas o som da palavra, e é
ilustrativa a história que ele mesmo conta frequentemente, do dia em que ficou
afônico, e que, quando abriu a boca para cantar um samba, fez apenas uhmmmmm!.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O outro mito
a respeito dele é o que diz que João não erra. Sim, ele erra. Já o ouvi cantar
“intregar”, em vez de integrar, na letra de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O
Nosso Olhar</i>. Ele disfarçou e seguiu adiante, sem se incomodar. Ele afina o
violão quando não parece necessário, mas ninguém vai discutir com João, certo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">João é
chato, dizem os seus mais tolos detratores. Eu o acho divertidíssimo. O público
ri muito, seja quando ele fala o primeiro quém-quém de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Pato</i>, seja quando ele canta <i style="mso-bidi-font-style: normal;">13
de Ouro</i>, que fala da “nega macumbeira” que prevê riqueza para o cidadão que
quebrar prato ou copo. Não é tanto pela letra que riem, mas pelo próprio jeito
debochado que João dá às palavras, porque ele também se diverte. No fundo, ele
se diverte tanto quando a gente.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<i>Texto publicado em 2011 no antigo emprego</i>el pájaro que come piedrahttp://www.blogger.com/profile/02706901433920414654noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3946663158434977487.post-78680184898989043732019-06-14T06:33:00.001-07:002019-06-14T06:33:13.679-07:00NINGUÉM NASCE NA SÍRIA POR ACASO<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhunVTI4kG8jTbsSG3WRRtg9h5fsEeKyDIjjbzJKhj8Ny956bMAvSfZRqagxkZET80970b6aufYNHYUaGI1TcEGDDCw6zKMpnzNpVx_pa13R_u9jwY74joUyboyzu80YOUDMpGb0tcUoYYA/s1600/20190614_094027.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhunVTI4kG8jTbsSG3WRRtg9h5fsEeKyDIjjbzJKhj8Ny956bMAvSfZRqagxkZET80970b6aufYNHYUaGI1TcEGDDCw6zKMpnzNpVx_pa13R_u9jwY74joUyboyzu80YOUDMpGb0tcUoYYA/s640/20190614_094027.jpg" width="480" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
André Midani (Damasco, Síria, 1932-Rio de Janeiro, Brasil, 2019)<br />
<br />
<br />
<div class="" data-block="true" data-editor="8vdcn" data-offset-key="2dq5o-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="2dq5o-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative;">
<span data-offset-key="2dq5o-0-0" style="font-family: inherit;">"Eu levantava muito cedo para ir ao colégio, acordado pelo barulho lúgubre dos fuzilamentos dos membros da Resistência francesa, diariamente executados. Era como um sombrio despertador explodindo no meio do silêncio e das brumas da madrugada. As execuções tinham lugar no fosso gigantesco que, antigamente cheio de água, circundava o forte (de Monte Valerien, parte de uma rede de fortificações que circundava Paris dos séculos 16 e 17).</span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="8vdcn" data-offset-key="54tf-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="54tf-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative;">
<span data-offset-key="54tf-0-0" style="font-family: inherit;">Em um fim de semana, na parte da tarde, tive a curiosidade de ir até lá, para ver o que havia no fosso. Nada havia para se ver, salvo alguns cavalos e burros pastando na maior paz do mundo, e soldados alemães tomando banho de sol, esperando chegar a madrugada seguinte e suas novas execuções".</span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="54tf-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative;">
<span data-offset-key="54tf-0-0" style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="54tf-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative;">
<span data-offset-key="54tf-0-0" style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="54tf-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative;">
<span data-offset-key="54tf-0-0" style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="54tf-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative;">
<span data-offset-key="54tf-0-0" style="font-family: inherit;">PS: <i>O título é da Nana, disse isso quando eu lhe disse que ele tinha nascido na Síria por acaso</i></span></div>
</div>
el pájaro que come piedrahttp://www.blogger.com/profile/02706901433920414654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3946663158434977487.post-42636880233550894932019-06-07T09:25:00.001-07:002019-06-07T09:25:30.203-07:00SERGUEI<div class="yiv7239461497MsoNormal" style="font-family: Tahoma; font-size: 13px;">
<br /></div>
<div class="yiv7239461497MsoNormal" style="font-family: Tahoma; font-size: 13px;">
<br /></div>
<div class="yiv7239461497MsoNormal" style="font-family: Tahoma; font-size: 13px;">
<br /></div>
<div class="yiv7239461497MsoNormal" style="font-family: Tahoma; font-size: 13px;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0v3Zyxfl-baLHUTIrDSkBlBnYz76x6Dgx_wU50fakMo6CmOuyrQvjXV6se1zj48hyObYUYt2GZIzPyg6ghhchix0Vq7u3sKZXEIMlGafsrX5R_T_74FTSbCaGpHwjlMRlbKvvs4GqYGc6/s1600/IMG_9598.JPG" imageanchor="1"><img border="0" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0v3Zyxfl-baLHUTIrDSkBlBnYz76x6Dgx_wU50fakMo6CmOuyrQvjXV6se1zj48hyObYUYt2GZIzPyg6ghhchix0Vq7u3sKZXEIMlGafsrX5R_T_74FTSbCaGpHwjlMRlbKvvs4GqYGc6/s640/IMG_9598.JPG" width="640" /></a></div>
<div class="yiv7239461497MsoNormal" style="font-family: Tahoma; font-size: 13px;">
<br /></div>
<div class="yiv7239461497MsoNormal" style="font-family: Tahoma; font-size: 13px;">
A última vez que eu vi Serguei no palco.</div>
<div class="yiv7239461497MsoNormal" style="font-family: Tahoma; font-size: 13px;">
Foi no Rock in Rio de 2013.</div>
<div class="yiv7239461497MsoNormal" style="font-family: Tahoma; font-size: 13px;">
<br /></div>
<div class="yiv7239461497MsoNormal" style="font-family: Tahoma; font-size: 13px;">
<br /></div>
<div class="yiv7239461497MsoNormal" style="font-family: Tahoma; font-size: 13px;">
PÚBLICO CARREGA VETERANO SERGUEI NOS BRAÇOS NO ROCK IN RIO</div>
<div class="yiv7239461497MsoNormal" style="font-family: Tahoma; font-size: 13px;">
</div>
<div class="yiv7239461497MsoNormal" style="font-family: Tahoma; font-size: 13px;">
Enquanto Frejat dominava o palco principal, a 700 metros dali o baixista Rodrigo Santos, ex-colega de Barão Vermelho, conduzia um “Barão Vermelho B” no palquinho Rock Street, lugar que presenciaria cenas fortes de tietagem explícita. Tudo começou quando Rodrigo Santos anunciou que chamaria um convidado para cantar consigo a última música.</div>
<div class="yiv7239461497MsoNormal" style="font-family: Tahoma; font-size: 13px;">
Quando Serguei entrou cantando <i>Satisfaction</i>, dos Rolling Stones, o palco quase foi abaixo. O público tentou abraçar Serguei, muita gente subiu no palco, os fotógrafos ensandeceram, os seguranças não davam conta. As calças de Serguei caíram, teve de entrar um produtor para erguê-las em plena função, enquanto ele cantava.</div>
<div class="yiv7239461497MsoNormal" style="font-family: Tahoma; font-size: 13px;">
“O cara mais rock’n’roll que eu conheço está aqui com a gente”, disse o baixista, que ao final do show distribuía seus discos para os espectadores. Uma repórter da Globo subiu ao palco com a equipe para entrevistar o músico quando ele confraternizava com os fãs, e teve de ouvir um brado ("Hey, Rede Globo, vai tomar no c..."). Serguei está para completar “80 anos de puro rock’n’roll”, continuava festejando o baixista. O cantor faz aniversário no dia 8 de novembro.</div>
<div class="yiv7239461497MsoNormal" style="font-family: Tahoma; font-size: 13px;">
</div>
<div class="yiv7239461497MsoNormal" style="font-family: Tahoma; font-size: 13px;">
Serguei (nome artístico de Sérgio Augusto Bustamante) ficou conhecido por sua devoção a uma noção clássica de rock e também por ter namorado, em 1969, a cantora Janis Joplin. Ele chegou a cantar em duas edições do Rock in Rio (1991 e 2001).</div>
el pájaro que come piedrahttp://www.blogger.com/profile/02706901433920414654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3946663158434977487.post-54028278729189762602019-05-05T16:44:00.002-07:002019-05-05T17:11:41.082-07:00AVE SANGRIA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVGfWtaIw9_hwAc9nf5gl8E0BqEorppOE647k_m7zlb-FTgRgp-iSUgK_DZowlRa7siXpkgvhKw7aeB_Sju-F8upYLddVOAzFszjKH4iKYVYE1r0Lwuw1oSSo3I5H2Vxrk2Yk9Ld_goHZy/s1600/20190504_214314.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVGfWtaIw9_hwAc9nf5gl8E0BqEorppOE647k_m7zlb-FTgRgp-iSUgK_DZowlRa7siXpkgvhKw7aeB_Sju-F8upYLddVOAzFszjKH4iKYVYE1r0Lwuw1oSSo3I5H2Vxrk2Yk9Ld_goHZy/s640/20190504_214314.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="mail-message expanded" id="m955874779979398210" style="font-family: sans-serif; font-size: 12.8px;">
<div class="mail-message-content collapsible zoom-normal mail-show-images " style="margin: 16px 0px; overflow-wrap: break-word;">
<div class="clear">
<div dir="auto">
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<br />
<br />
O cosmopolitismo da banda pernambucana Ave Sangria no Nordeste dos anos 1970 desmente todas as teses sobre a evolução do som regional que desenvolvemos nos últimos anos.<br />
<br />
Na Choperia do Sesc, ontem à noite, eu ficava ouvindo o som hipnótico daquelas guitarras (Paulo Rafael e Almir de Oliveira), do baixo e das vocalizações do grupo e dizia a mim mesmo que nada poderia ser mais equivocado do que o Nordeste sonoro que eu tinha imaginado para aquela década dos 70. Eu sempre imaginei um universo sonoro de celebrações coletivas (o frevo, o maracatu) e as derivações híbridas que juntavam asteróides do sertão com Beatles (Os Quatro Batutas de Zé Ramalho), Stones e Hendrix.<br />
<br />
Mesmo o disco Paêbirú, de Zé Ramalho e Lula Côrtes, que é visionário, é fruto de uma cópula entre cogumelo alucinógeno e progressões infinitas e circulares de martelos agalopados.<br />
<br />
Mas, no sábado à noite, estava ali à minha frente, sob a pele de um Ave Sangria redivivo (fazendo a primeira turnê de um novo disco após 45 anos), um produto da fissão nuclear entre John Bonham e o Cego Aderaldo, Tony Iommi e Jackson do Pandeiro, Keith Relf e Patativa do Assaré. Caiam por terra ali, frente aos meus ouvidos incrédulos, todas as minhas profecias de paróquia, todos os diagnósticos da assimilação acidental.</div>
<div>
<div class="mail-message expanded" id="m-7120999987773686759" style="font-size: 12.8px;">
<div class="mail-message-content collapsible zoom-normal mail-show-images " style="margin: 16px 0px; overflow-wrap: break-word;">
<div class="clear">
<div dir="auto">
"Isso é rock nordestino.Aliás, eu queria dizer que está aí entre vocês um amigo nosso: Lirinha, do Cordel do Fogo Encantado.A gente queria dedicar essa música a ele", disse o vocalista Marco Polo, antes de espalhar ferro sobre o mangue.<br />
<br />
<div dir="auto">
<span style="font-size: 12.8px;">Os versos do Ave Sangria que se separam da massa sonora de guitarras e estrondosa bateria (de Júnior do Jarro, novo na trupe) parecem reerguer uma encíclica antiga, uma declaração de princípios esquecida: "</span>Só resta eu com a minha faca", canta Marco Polo. É uma lírica que tem um tanto de Rimbaud e outro de Zé Limeira.<br />
<b><br /></b></div>
<div dir="auto">
<div class="quoted-text" style="color: purple; font-size: 12.8px;">
<div class="gmail_quote">
<blockquote class="gmail_quote" style="border-left: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px 0px 0px 0.8ex; padding-left: 1ex;">
<div dir="auto">
<b><i>O poeta suicidou-se de repente</i></b><br />
<div dir="auto">
<b><i>Deu um teco na ideia e silenciosamente</i></b></div>
</div>
</blockquote>
<b><i> Nos abandonou</i></b><br />
(O Poeta)<br />
<br /></div>
</div>
<div dir="auto" style="font-size: 12.8px;">
E era evidente que os veteranos do Ave Sangria tinham sido mais do que alfabetizados políticos: "Tem que despertar o senso crítico. Sem sociologia e sem filosofia não tem senso crítico. Por favor, né?", disse Marco Polo na Choperia.<br />
<br />
O único "hit" do Ave Sangria, se é que se pode dizer isso, é o samba psicodélico <i>Seu Waldir</i>, um verdadeiro colar de alho para os homofóbicos, que pode ter levado inclusive a censura a tolher o desenvolvimento do grupo no passado. Um estudioso e amigo, Rafael Pinto Donadio, fez um estudo do udigrudi nordestino e biografou a banda, que foi Tamarineira Village antes de ser Ave Sangria (e mudou de nome para não ter que ficar explicando a origem daquele). Tamarineira Village foi homenageada por Zé Ramalho no disco Opus Visionário.</div>
<div dir="auto" style="font-size: 12.8px;">
<br /></div>
<div dir="auto" style="font-size: 12.8px;">
<span style="font-size: 12.8px;">"Nada de novo no front. </span>E na retaguarda também", diz a música <i>Por quê?</i>, que lembra terrivelmente Belle de Jour, de Alceu Valença, banda para onde foram tocar Paulo Rafael e Almir, após o final precoce do Ave Sangria. Não é apenas dali que se vê o futuro a partir do passado do Ave Sangria: o mangue beat teve boa cama, todo mundo bebeu fartamente dessa fonte. O mais bacana é que agora eles também podem beber do próprio destilado psicodélico que criaram, resgatados pela própria grandeza.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<div dir="auto" style="font-size: 12.8px;">
<br /></div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
<div class="mail-message-footer spacer collapsible" style="height: 0px;">
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
<div class="mail-message-footer spacer collapsible" style="height: 0px;">
</div>
</div>
el pájaro que come piedrahttp://www.blogger.com/profile/02706901433920414654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3946663158434977487.post-2667941159221196332019-03-05T09:27:00.000-08:002019-03-05T13:26:34.680-08:00COCORICÓ<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTaLh8rbBUdyiZWXYeDTYSkxh_fh6LXDwDg_bZXt8aN_AJg-1J5BgdMFxMkoJphXf68dnPnCEYLFJl5m87IfRdz1aOEgv4XV2px-6fKgRVh5VRSN2WAnLMzDjPdDm51KjMIWngsLAr5Ejy/s1600/20190304_214428.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTaLh8rbBUdyiZWXYeDTYSkxh_fh6LXDwDg_bZXt8aN_AJg-1J5BgdMFxMkoJphXf68dnPnCEYLFJl5m87IfRdz1aOEgv4XV2px-6fKgRVh5VRSN2WAnLMzDjPdDm51KjMIWngsLAr5Ejy/s640/20190304_214428.jpg" width="480" /></a></div>
<i>A cantora cearense Nayra Costa</i><br />
<jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><br /></jotabemed></jotabemed></jotabemed></jotabemed>
<jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><br /></jotabemed></jotabemed></jotabemed></jotabemed>
<jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com="">Jorge Helder, aos 56 anos, já tocou com Caetano, Gil, Chico, Bethânia, Ney, Cassia Eller, Zelia Duncan e toda a constelação da MPB. Mas é interessante: mesmo com tal prontuário, Jorge não exauriu sua curiosidade acerca dos novos intérpretes e das novidades frescas da música. Parece um garoto no meio dos garotos, insuflando uma divertida irresponsabilidade em si mesmo. </jotabemed></jotabemed></jotabemed></jotabemed><br />
<jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><br /></jotabemed></jotabemed></jotabemed></jotabemed>
<jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""> Durante esse Carnaval, Jorge, que é cearense expatriado, praticamente carioca, foi astro da segunda edição do festival Cocoricó Jazz, no restaurante Cantinho do Frango, em Fortaleza. Helder se apresentou com seu quinteto esgrimindo o refinado repertorio de Toninho Horta - acompanhado de Marcio Resende (sax), Hermano Faltz (guitarra), Tito Freitas (teclado) e David Krebs (bateria), tocou Viver de Amor, Essas Coisas Todas, Waiting for Angela, Pecém, Mountain Flight, Diana, Beijo Partido e Manoel, o Audaz.
Mas Jorge Helder também fez o solidário papel de satélite de um combo apetitoso de novas (e insolentes) caras da música.
</jotabemed></jotabemed></jotabemed></jotabemed><br />
<jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><br /></jotabemed></jotabemed></jotabemed></jotabemed>
<jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com="">Uma dessas criaturas deu o ar de sua graça no Cocoricó. Cearense de 34 anos, a cantora Nayra é provavelmente uma das mais impressionantes cantoras da nova safra em atividade. E põe atividade nisso: na mesma noite em que encarou o repertório do jazz e do blues, após cantar por quase duas horas, sob pedidos insistentes de bis, Nayra se desculpou por não poder atender, já que cantaria em outras duas casas na mesma noite. </jotabemed></jotabemed></jotabemed></jotabemed><br />
<jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><br /></jotabemed></jotabemed></jotabemed></jotabemed>
<jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""> O que a torna extraordinária? </jotabemed></jotabemed></jotabemed></jotabemed>Poderia ser a potência vocal, mas certamente isso sozinho não credencia cantora alguma ao Olimpo. Sacrílega, selecionou um lote de canções do repertório de Etta James e Nina Simone para seu set. Entre elas, I'd Rather go Blind, I wish i knew how it would to be free, Summertime, Ain't Got No, I Got Life, Feeling Good, entre outros clássicos. Como essa menina se atreve?, perguntaria um desavisado da plateia.<br />
<br />
"Eu toquei com Cassia Eller", diz Jorge Helder. "Ela (Nayra) é da mesma categoria". Jorge sabe que pode soar herético, mas diz a frase sem qualquer empostação, maior naturalidade. Quem também concorda que Nayra pertence ao grupo dos ETs é o impressionante saxofonista Márcio Resende (que foi aluno de Joe Lovano em Nova York durante 6 anos).<br />
<jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><br /></jotabemed></jotabemed></jotabemed></jotabemed>
<jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com="">Nota-se que, a partir do momento em que Nayra solta a voz, ela não mais se preocupa em se poupar, em momento algum do show se percebe que ela esteja se guardando para explodir mais adiante (algo bem legítimo, por sinal). Canta sempre no centro do ciclone, como se fosse a última vez. A maquiagem que cobre totalmente suas pálpebras, como uma máscara de melindrosa de J.Carlos, realça seu estilo blasé, de distraído desinteresse.
Parece que Nayra é a ponta de um iceberg de uma geração de novos intérpretes colossais no Ceará. O outro monstrinho dessa safra é Oscar Arruda e a sua Bird on the Wire Band. Ele canta Leonard Cohen, simplesmente. Fez da canção The Partisan um manifesto da nova rebelião. Pedi um vinil, ele não conseguiu trazer porque está enrolado com seu doutorado. Daqui a pouco falo mais dele.</jotabemed></jotabemed></jotabemed></jotabemed><br />
<jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><br /></jotabemed></jotabemed></jotabemed></jotabemed>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbbCHRvQkYsN3ww6kucAc-OxFjwLtvoL1t0XXrJEOgwXGB3_Mxr2wsjb-6rUPPQQOVKwykzEBx8_72xel0AVmrnr741Gq6uRILgJEYeDnCOx0EjcPeSL1TsG-tFwLJef3ZWJDtpN6cM6eK/s1600/20190302_193427.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbbCHRvQkYsN3ww6kucAc-OxFjwLtvoL1t0XXrJEOgwXGB3_Mxr2wsjb-6rUPPQQOVKwykzEBx8_72xel0AVmrnr741Gq6uRILgJEYeDnCOx0EjcPeSL1TsG-tFwLJef3ZWJDtpN6cM6eK/s640/20190302_193427.jpg" width="480" /></a></div>
<jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""><jotabemed gmail.com=""> </jotabemed></jotabemed></jotabemed></jotabemed>el pájaro que come piedrahttp://www.blogger.com/profile/02706901433920414654noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3946663158434977487.post-46634714846973323682019-02-10T12:36:00.006-08:002019-02-10T13:09:40.968-08:00ZÉ RAMALHO DA PARAÍBA, QUASE 70<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnsQqn45gPln1ZsSUZzS2ByJ_bu9q6uQxRAiHRaX3_Whx3aOqL_c2m7oNxLqTkZeQLwU_a9Mbx1XhDpMNU4u8PB2j-FITghedp9hNW3kpsCBcvdEtG6tajdUKJu_mu0Af2POt4INe7iUDv/s1600/20190209_222736.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnsQqn45gPln1ZsSUZzS2ByJ_bu9q6uQxRAiHRaX3_Whx3aOqL_c2m7oNxLqTkZeQLwU_a9Mbx1XhDpMNU4u8PB2j-FITghedp9hNW3kpsCBcvdEtG6tajdUKJu_mu0Af2POt4INe7iUDv/s640/20190209_222736.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O rosto de Zé Ramalho é como se tivesse lava escorrida de um
vulcão antigo, é cheio de sulcos e formações rochosas indiferentes, tipo as colinas de
Lanzarote. Ele ri pouco, e mesmo quando ri é uma risada que parece de alguma forma
dolorosa, incubada. E ele sempre termina suas canções com um lamento, um uivo
de novena. Ele faz isso mesmo com as canções dos outros. Muito frequentemente,
ele capricha em um “Ê, boi!” enxertado nas músicas, a convocação pelo boi bumbá.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O Tom Brasil estava lotado para o show, cerca de 4 mil
pessoas. Sábado em São Paulo, estacionamento de 40 a 50 reais: não é moleza não.
Há pouquíssimos artistas no nosso star system capazes de tal proeza, tirando
tanta gente de casa para ver e ouvir em carne e osso, e Zé Ramalho da Paraíba é
um deles (após mais de 40 anos de carreira).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Zé Ramalho abriu com <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O
que é, o que é?</i>, samba de Gonzaguinha, canção de 1982, do sonho da
redemocratização, de pensar o que vem depois do idealismo. “Mas e a vida? Ela é
maravilha ou é sofrimento? Ela é alegria ou lamento? O que é? O que é, meu
irmão?”. Zé Ramalho transforma o êxtase e a celebração de Gonzaguinha em missa,
com sua versão pontuada e folk, que é radicalizada na canção que vem a seguir, <i>Tá
Tudo Mudando (Things Have Changed)</i>, versão do single do ano 2000 de Bob Dylan, agora frita à milanesa com
mandacaru.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Na plateia, preponderam, como eu mesmo, os “sabiás velhos” -
coroas de pernas finas e orelhas em desabalado crescimento que eram meninos em
1978, quando Zé Ramalho lançou <i>Avôhai</i>. Mas é curioso notar que, quando toca canções
como <i>Chão de Giz</i> e <i>Admirável Gado Novo</i>, quem tem mais domínio da voz e do coro
é o grupo dos mais jovens, os que descobriram Zé Ramalho pelo Spotify.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Irônico tentar apreender o que significa hoje, do ponto de
vista comportamental, a longevidade das canções de Zé Ramalho. “Em meu cérebro
coágulos de sol. Amanita matutina e que transparente cortina ao meu
redor”, canta ele, em Avôhai. <i>Amanita</i> é um cogumelo que serve de base para uma
bebida alucinógena. Matutina é por causa do uso cotidiano que, na definição do antigo visionário Zé
Ramalho, causa um efeito de placidez. O famoso chá de cogumelo. Cuja menção poderia
fazer a ministra Damares reencarnar na Perpétua de Joana Fomm em pleno 2019. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“E isso explica porque o sexo é um assunto popular”, diz
ele, em <i>Chão de Giz</i>. É popular mas, por via das dúvidas, o deputado neófito de
cabeça de pera apresentou um projeto que previa a proibição do comércio de
anticoncepcionais. Repentinamente, o País das brigadas moralistas de ocasião
não tem como defender o seu próprio paganismo existencial - o que inclui até Zé Ramalho, neoconservador de reunião de condomínio no Leblon (ou será
que sempre terá sido? me endereça um amigo essa pergunta irrespondível).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Admirável Gado Novo</i> é uma <i>protest song</i> cáustica e sem
rodeios. Não tem ambiguidade interpretativa, é da mesma cepa de <i>Polícia</i>, dos
Titãs, ou <i>Que País é Esse?</i>, do Legião Urbana. Tivesse sido composta hoje por
uma banda de garotos, era capaz de o general Heleno mandar o Exército monitorar
os pivetes subversivos que, muito provavelmente, estariam falando mal da messiânica
reforma da previdência. “É duro tanto ter que caminhar/E dar muito mais do que
receber”.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não há mais sanfona no show de Zé, apenas teclado, sintetizador
e, eventualmente, uma flauta.As vozes femininas dos vocais de apoio fazem falta, foi num
ambiente gospel que a canção de Zé Ramalho se desenvolveu. Zé Gomes faz da
zabumba ao pandeiro. Ao longo de duas horas, Zé só se relaciona mais com Chico Guedes, há 35 anos o
baixista da banda Z, que o acompanha. Há um grau de profissionalismo ligeiramente incômodo, que
beira o mecanicismo de baile, como se o grupo não conseguisse tirar grande satisfação da incumbência.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Em dado momento, Zé Ramalho empunha duas canções de Raul
Seixas: <i>Gita</i> e <i>Medo da Chuva</i>, uma enganchada na outra. É outro momento adorável
do show. Zé Ramalho não fala muito, não explica muito bem o que fazem aquelas
canções ali e o que têm a ver com seu repertório e vida pessoal. Em 2001, ele
gravou um disco só com canções do Maluco Beleza, <i>Zé Ramalho Canta Raul Seixas</i>.
Em 1984, ele e Raul tinham se tornado grandes amigos e dividiram segredos do
misticismo, e não é de modo algum um tributo do nada.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Zé Ramalho é barroco, Raul Seixas é popular e universal. Não
viajariam no mesmo disco voador para o espaço sideral, mas é perfeitamente possível compreender o esforço de Zé.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ao longo de duas horas, quase sem pausas, Zé Ramalho faz do
apocalipse uma harpa no penhasco, reencenando os versos dantescos de <i>A Terceira
Lâmina</i> e <i>Eternas Ondas</i> como se Brumadinho não estivesse ainda audível, a poucos
quilômetros daqui. Zé Ramalho adverte, mas ninguém escuta.</div>
<div class="MsoNormal">
Ele toca ainda <i>Beira-Mar, Frevo Mulher, Garoto de Aluguel, Entre
a Serpente a Estrela, Admirável Gado Novo, Táxi Lunar</i>. Todas exatamente como a gente ouve no
disco, sacralizadas na voz desse anti-Dylan de camisão de Mago Merlin. Zé Ramalho completará 70 anos
no próximo dia 3 de outubro, a voz está tão potente quanto já foi, e a forma
física admirável - criado no chão da usina, é lindo que esteja tão preservado,
tão nosso e tão perdido. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>E até que a morte eu sinta chegando<br />
Prossigo cantando, beijando o espaço</i></div>
<br />el pájaro que come piedrahttp://www.blogger.com/profile/02706901433920414654noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3946663158434977487.post-45113585487282394012019-01-25T12:13:00.002-08:002019-01-26T04:26:34.541-08:00OURO DO PÓ DA ESTRADA<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgd6soc0Ud1GRizgi-XZba3XHs2xDm2hVScT77QQWD7wl1DspCxtCA0VvgZ0mMnhGDujteljzcuIFxqJfNk8oNCqj6QLZ3P6soJtmjVhKSwZG0MxqbUbP0m0arq9NQHW-mENatzc_ilULUT/s1600/Elba+Ramalho+-+cr%25C3%25A9dito+Mana+Bernardes+1.tif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1067" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgd6soc0Ud1GRizgi-XZba3XHs2xDm2hVScT77QQWD7wl1DspCxtCA0VvgZ0mMnhGDujteljzcuIFxqJfNk8oNCqj6QLZ3P6soJtmjVhKSwZG0MxqbUbP0m0arq9NQHW-mENatzc_ilULUT/s640/Elba+Ramalho+-+cr%25C3%25A9dito+Mana+Bernardes+1.tif" width="426" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<div style="text-align: center;">
<i>Elba Ramalho fotografada por Mana Fernandes</i></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Em 1971, de passagem pela cidade de São Bento do Una, em
Pernambuco, Luiz Gonzaga entrou numa agência do Banco do Brasil para fazer uma
transferência. O caixa ficou encantando com aquela notável presença e, conversador,
arranjou um jeito de recomendar vivamente a Gonzagão: Luiz tinha que conhecer
um compositor da cidade, Nelson Valença, com mais de 100 fabulosas canções
inéditas, conterrâneo que seria de grande préstimo para a carreira do
sanfoneiro. Gonzagão gostava dessas ousadias (foi assim que conheceu Zé
Marcolino) e pediu para o rapaz levá-lo ao tal compositor. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Embora tímido,
Nelson Valença não demorou para se entrosar com o visitante famoso, que levaria dali três músicas daquelas que mostrou. Mas o sanfoneiro gostou de tudo, tanto que, no disco
seguinte, Luiz Gonzaga (1973), que tem notas de encarte de Câmara Cascudo,
Gonzagão inclui outras cinco de Valença, a primeira delas o xaxado <i>O Fole
Roncou</i>. Nessa canção, além dos tradicionais zabumba, triângulo e sanfona, Lua
incluía guitarra, baixo e bateria. Virou rock’n’roll, só que não.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Essa história, evidentemente, não saiu dos escaninhos da
minha memória privilegiada, ela está no livro <i>O fole roncou!: Uma história do
forró</i>, de Carlos Marcelo.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Pois bem: tudo isso para dizer que quem for ouvir o novo e
imprescindível disco de Elba Ramalho, O Ouro do Pó da Estrada, e resolver
começar como eu, pelo final, vai encontrar <i>O Fole Roncou</i> lá nos estertores do álbum e
não vai ter dúvidas de que se trata de uma iguaria. Com
guitarra, baixo e cavaco (todos tocados por Yuri Queiroga), a pedra preciosa
descoberta por Gonzagão no pó da estrada revitaliza tudo que é selvagem no
espírito desterrado da viagem: o ritmo, o contágio, a fúria da convocação
libertária.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>O Zé Buraco, Pé-de-Foice, Chico Manco<br />
Peba Macho, Bode Branco:<br />
Todo mundo foi brincar</i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Esse apelidos todos da música de Nelson Valença me lembram alguns que meu primo Fred me contou de Campina Grande, como Horácio Espinhaço de Pão Doce e Cu de Pombo. Elba Ramalho nos faz ver, em 2019, que ainda é possível fazer
um disco com grande orgulho, grande senso de unidade, de exame do espírito.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Entretanto, eu confesso que corri ao disco, quando ele
chegou, afoito para ouvir outra canção: <i>Princesa do Meu Lugar</i>, composição de Belchior.
É uma das canções jamais gravadas pelo cantor e compositor cearense - quem a
gravou primeiro foi a cantora Guadalupe Mendonça, em 1980, no disco <i>Princesa do
meu lugar</i> (RCA, com direção artística de Osmar Zan e direção de estúdio de
Dominguinhos).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Não há pranto que apague<br />
Dos meus olhos o clarão<br />
Nem metrópole onde eu não veja o luar</i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>O luar do sertão</i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Com arranjo de cordas e solos de violoncelo e violino, é o grande
presente do disco. Em seus discos recentes, Amelinha e Daíra gravaram também
essa canção. Música que eu não analisei com tanta atenção em meu livro. Faço
isso agora.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Em sua versão, Elba acentua bastante no final da música o
verso <i>Luar do Sertão</i>. Entendeu que está ali o diálogo seresteiro fundamental de
Belchior com o clássico de Catulo da Paixão Cearense, composto há 104 anos. <i>Luar
do Sertão</i> é a maior das canções deixadas por Catulo, uma parceria com João
Pernambuco que foi gravada, ao longo de um século, por Vicente
Celestino, Francisco Alves, Maria Bethânia, Milton Nascimento e ele, Luiz Gonzaga. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O diálogo de Belchior com Catulo da Paixão Cearense é feito
de divergência e concordância, tudo ao mesmo tempo. Catulo desconfiava da
modernidade. “Os médicos serão substituídos por outros médicos, sem serem
médicos?”, indagou. “Como será o comércio? O dinheiro desaparecerá? Como farão
os trocos? Que nos dirá o rádio?”, perguntava, em suas crônicas.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Por ter rodado o mundo todo e todos os corações, Belchior responde, em sua canção:</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>A terra toda é uma ilha<br />
Se eu ligo meu radinho de pilha</i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal">
Ou a internet é a ilha, hoje em dia. Mas esse sentimento de plena
comunicação não o impedia de zelar pelos afetos da terra:</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Se me der vontade de ir embora,<br />
Vida adentro, mundo afora<br />
Meu amor, não vá chorar<br />
Ao ver que o cajueiro anda florando<br />
Saiba que estarei voltando, princesa do meu lugar</i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Temos então que no disco de Elba há diversas obras
fundacionais da música brasileira revestidas de uma análise da mixórdia
evolutiva da MPB ao longo de um século. A cantora garimpou um lote irrepreensível de composições de diversas épocas e
as tingiu de uma perenidade tangível. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Além da Última Estrela”, de Dominguinhos
e Fausto Nilo, traz Mestrinho na sanfona e harpa de Cristina Braga; “José”, do
pernambucano Siba, evoca Mestre Ambrósio e o revolucionário movimento manguebit.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Se Tudo Pode Acontecer” traz a geração dos anos 1980 ao
relevo (Arnaldo Antunes, Alice Ruiz, João Bandeira e Paulo Tatit), equilibrada
entre o rococó típico da época e uma delicada marimba de vidro. Outro espécime
é André Abujamra, com O Mundo, na qual Elba recebe reforços vocais de Roberta
Sá, Maria Gadu e Lucy Alves.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Oxente, de Marcelo Jeneci e Chico César, pega a geração
imediatamente subsequente, a bordo de sintetizador e zabumba.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O hit parade, o sucesso incontornável do rádio, como diríamos antigamente,
não ficou de fora. Com introdução de cordas (com arranjo e regência de Arthur
Verocai), ela reinventa “Girassol”, megasucesso do grupo Cidade Negra (de Pedro Luís, Bino
Farias, Toni Garrido, Lazão e Da Gama). O sucessão aciona o lado de diva de São João de
Elba.</div>
<br />
<br />
Ouso dizer que, se tiver de recomendar um disco para esse começo de ano tão conturbado, é esse aqui.el pájaro que come piedrahttp://www.blogger.com/profile/02706901433920414654noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3946663158434977487.post-5509495019447776042018-12-04T08:29:00.001-08:002018-12-04T09:56:56.461-08:00DEZ LIVROS SOBRE MÚSICA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_ex5mtEltWbTIOk54hxe0pJob05xOg8QEcOTsbj39l-4G6HqBgHGcnIfBQ3z9zwsh-3PucQorW4K3XIQuTZ9R9t1duODuL0XwMiU69z0lli4pfZGUd-MCBzNdNjAACvDSbyr_KBTOsIqC/s1600/billie.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="478" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_ex5mtEltWbTIOk54hxe0pJob05xOg8QEcOTsbj39l-4G6HqBgHGcnIfBQ3z9zwsh-3PucQorW4K3XIQuTZ9R9t1duODuL0XwMiU69z0lli4pfZGUd-MCBzNdNjAACvDSbyr_KBTOsIqC/s640/billie.jpg" width="508" /></a></div>
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<div class="MsoNormal">
Geralmente se diz que a questão da música se resume à
preferência pessoal, o que é evidente: todas as paixões humanas estão
relacionadas a um jogo de favoritismo e subjetividade. </div>
<div class="MsoNormal">
Mas haverá sempre o esforço de descrever ou narrar a saga histórica,
biográfica e objetiva da música. A música e sua circunstância criam consideráveis
capitais simbólicos, culturais, éticos, estéticos. Festivais, tendências, comportamento,
poesia e atitude: todas essas variáveis implicam em narrativas interessantes.
Artistas criam bunkers sociais e culturais que mobilizam gerações. Outros
fabricam sua "lenda" de forma a influir na retroalimentação de uma mitomania.</div>
<div class="MsoNormal">
Alguns livros sobre música são, em minha opinião,
fundamentais. Me desafiei aqui para, entre os livros mais decisivos sobre a
música pop, destacar alguns por motivos objetivos: historiografia, narrativa, documento
social, exercício estético, científico ou manifesto cultural. Uma bibliografia
básica (com auxílio de alguma pesquisa) para a introdução à música com explicação.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">MATE-ME POR FAVOR</b>
- (Legs McNeil e Gillian McCain, L&PM, 1996). Um dos principais livros
sobre o movimento punk , inventário dos anos 70 e da chamada Blank
Generation, com entrevistas intercaladas como se fossem um papo em que os
personagens são Iggy Pop, Patti Smith, Joey Ramone, Debbie Harry e Malcolm
Mclaren. Passeando desde a Factory de Andy Warhol até o Max's Kansas City
(nightclub e restaurante no<a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Park_Avenue_South" title="Park Avenue South"></a><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; float: none; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;"> 213 da Park
Avenue, em NYC, que foi bunker de artistas nos anos 60 e 70), chegando à
Inglaterra operária dos anos 80, os autores Legs McNeil e Gillian McCain
inventariam o que significou o movimento. McNeil batizou o movimento punk em
1975, ao dar este nome a uma revista de música e cultura pop dos anos 70. Foi
editor da <i>Spin</i> e editor-chefe da <i>Nerve</i>. Gillian McCain foi
coordenadora de programação do Poetry Project na St. Mark’s Church, onde Patti
Smith fez suas primeiras leituras e os diários de Jim Carroll foram descobertos.
Passeando por uma trip de sex, drogas, morbidez e cultura pop, o livro inicia
com a terapia de eletrochoque que Lou Reed, internado pelo próprio pai pela
natureza contestadora, recebeu num manicômico, e passa pelas mortes de Sid
Vicious, Johnny Thunders e Nico, além das aventuras sexuais de gente como Dee
Dee Ramone. Construído como uma história oral, o livro parece aproximar experiências
e artistas que, de fato, estavam vivendo tudo aquilo em momentos distintos. O
mítico Richard Hell, da banda Television, resumiu a natureza das bandas punk da
época: “A coisa toda era para ser tão chocante quanto desagradável e tola”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">O RESTO É RUÍDO </b>-
Alex Ross (Companhia das Letras, 2009). Alex Ross sustenta, em <i>O Resto é
Ruído</i>, que a música erudita de hoje seria a música da cantora islandesa Björk.
Para o autor, a música dela ocupa espaço análogo àquele que, no século 19, era
domínio dos compositores românticos. Crítico brilhante, Alex Ross passou, nesse
gigantesco ensaio, da Viena da virada do século até a Paris dos anos 1920; da
Alemanha de Hitler e da Rússia de Stálin à Nova York dos anos 60 e 70,
mesclando o erudito e o popular, a música e a política. Analisou das obras do
maestro Daniel Barenboim ao rock do Sonic Youth, Bob Dylan e o som minimalista de
Philip Glass. O resultado foi celebrado com a indicação de Ross para o prêmio
Pulitzer de 2008 e para o prestigioso Samuel Johnson Prize. Considerado um dos
melhores livros de 2007 pelos jornais New York Times e Washington
Post e pela revista The Economist, <i>O resto é ruído</i> foi vencedor
dos prêmios National Book Critics Circle Award (2007) e Guardian First Book
Award (2008).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-GB" style="mso-ansi-language: EN-GB;">LADY SINGS THE BLUES</span></b><span lang="EN-GB" style="mso-ansi-language: EN-GB;"> (Billie Holiday e
William Dufty, 1956, Brasiliense/Jorge Zahar). </span>A cantora Billie
Holiday (1915-1959) publicou esse livro apenas três anos antes de sua morte.
Não é só uma obra sobre a aura do jazz, mas sobre a grandeza de uma artista. “Já
me disseram que ninguém canta a palavra 'fome' como eu. Ou a palavra 'amor'.
Talvez seja porque eu me lembre do significado dessas palavras", ela
escreveu — ou "ditou" — para seu ghost writer, William Dufty, o amigo
que a acompanhou até o fim. A mãe de Billie a teve com apenas nove anos. Aos 12
anos, ela perdeu a virgindade com um trompetista de uma big band, prostituiu-se
aos 13 anos.Em plena Depressão, então com 15 anos, Billie largou a vida de
prostituta e foi viver com sua mãe no Harlem. Um dia, pedindo emprego pelos
lados da Sétima Avenida, entrou na Rua 133 e num lugar chamado Pod's and
Jerry's. Disse que era dançarina e queria um emprego. O proprietário a mandou
dançar perto do pianista. "Comecei, e foi uma coisa deplorável", ela
lembra. Então, o sujeito perguntou: "Garota, você sabe cantar?". Ela
respondeu: "Claro que sei cantar, mas de que adianta isso?". Ele
insistiu, ela pediu ao pianista que tocasse 'Travelin' all alone'. A boate
inteira ficou em silêncio. "Quando terminei, todo mundo estava chorando no
copo de cerveja, e apanhei trinta e oito dólares no chão".<br />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br style="mso-special-character: line-break;" />
<!--[endif]--></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">KIND OF BLUE - A
HISTÓRIA DA OBRA-PRIMA DE MILES DAVIS</b> - Ashley Kahn (Barracuda, 2007) - Sobre
"Kind of Blue", o crítico Jerome Maunsell, do Observer, escreveu o
seguinte: “No dia 2 de março de 1959, às 2h30, sete músicos entraram no estúdio
da Columbia na East 30th Street, em Nova York, e emergiram seis horas depois
com aquilo se tornaria o primeiro lado do disco Kind of Blue. Os sete músicos (Miles
Davis, Gil Evans, John Coltrane, Cannonball Adderley, Paul Chambers, Jimmy Cobb
e Wynton Kelly) retornaram algumas semanas depois e em outras três horas
poliram o segundo lado”. Aquela imersão dos músicos de "Kind of Blue"
mudou a história do jazz, influenciou milhares de outros artistas pelo mundo e
o álbum tornou-se o mais ouvido do gênero em todos os tempos. O biógrafo
norte-americano Joseph Frank (1918 – 2013), autor da biografia do autor russo
Fiódor Dostoiévski, acreditava que as obras de Dostoiévski só eram inteligíveis
na medida em que o leitor conhecesse o contexto histórico em que foram
produzidas. Esse livro faz esse trabalho.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">MYSTERY TRAIN: IMAGES
OF AMERICA IN ROCK’N’ROLL MUSIC</b>, de Greil Marcus (1975). Um dos mais
prolíficos e elegantes críticos de rock, Greil Marcus influenciou a escrita de
gerações mundo afora a partir de uma perspectiva cultural da produção de
música. Esse livro é uma espécie de Bíblia para os postulantes a esse mundo,
com apreciações sofisticadas sobre um punhado de mitos (tais como Sly Stone,
Randy Newman e The Band). Os manifestos de Marcus sobre a atividade de escrever
sobre a música são sensacionais. “Música é uma coisa fundamentalmente ambígua,
o que explica por que o seu poder de criar símbolos (em oposição a impor
símbolos) é tão grande”, ele escreve. “A música pode fazer as letras mais
estúpidas soarem profundas, mas no fim das contas ela não pode carregar uma
mensagem específica: seu poder de criar símbolos é o poder de criar o símbolo
ambíguo. Se uma peça é musicalmente viva, se ela tem um ímpeto próprio, ela vai
rebater, vai questionar quaisquer imagens explícitas ou símbolos que
supostamente carrega."</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">SÓ GAROTOS - </b>Patti
Smith (Companhia das Letras, 2010). O livro de memórias da cantora, poeta e
compositora Patti Smith, que ganhou um dos maiores prêmios literários em lingua
inglesa, o National Book Award, trata de sua peregrinação por Nova York a
partir do final dos anos 1960, ao lado do artista e fotógrafo Robert
Mapplethorpe. Ela conheceu Mapplethorpe no verão de 1967, e este se tornaria
seu primeiro grande amor. Mapplethorpe se assumiria homossexual mais tarde. No
livro, além de descrever a vida em alguns bunkers da contracultura, como o Chelsea
Hotel, e narrar a gênese de alguns dos seus mais influentes discos, como <i>Horses</i>
(1975), Patti revela uma notável e elegante prosa para o mundo literário, algo
que ela retomou com fluidez no livro seguinte, <i>Linha M</i>
(também lançado no Brasil pela Companhia das Letras). O trunfo da cantora é conseguir injetar na prosa o ritmo e a liberdade de linguagem para uma narrativa memorialística. “A direita está
fortalecida, pequenos pensadores criminosos. O mal demonstra mais solidariedade
que o bem, e as boas pessoas assistem sem reação a essa virada. A direita
argumenta mais, fala mais. Às vezes é frustrante, para quem é humanista. Mas o
que penso disso tudo é que temos de achar um jeito de atravessar esses
conceitos, de direita e esquerda. O problema maior é a insinceridade, e a
espécie humana está ameaçada. Um dia, todo esse nosso meio ambiente vai entrar
em colapso, e não vai adiantar debater conceitos. Nós, como seres humanos,
temos a responsabilidade de passar por cima de tudo isso, pela sobrevivência do
planeta. Eu sou, apesar de tudo, otimista”, disse Patti.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">LAST NIGHT A DJ SAVED
MY LIFE</b> (Bill Brewster e Frank Broughton, 1999). O DJ foi catapultado ao
coração da moderna cultura popular especialmente a partir dos anos 1990, quando
se tornou uma figura central na dance music e impulsionou uma cultura de clubes
noturnos que, somente na cidade de Nova York, chegou a movimentar US$ 3 bilhões
por ano. A figura do DJ projetou-se então para além de um programador musical,
incorporando aspectos de entertainer, produtor, businessman e músico autoral. Superstars
das picapes, como Carl Cox, Sasha e Digweed, passaram a ter status de rock
stars, com contratos disputados e turnês milionárias. No livro <i>Last Night a DJ
Saved My Life</i>, os jornalistas Bill Brewster e Frank Broughton iniciaram a chave
historicista para a compreensão de como essa cena foi sedimentada, como cresceu
e o que ela trouxe de novidade ao mundo da música e da eletrônica. Da cena
britânica, a mais fértil no início, ao renascimento da disco music em Nova
York, passando pelos sound systems da Jamaica e a emergência das técnicas do scratch
no Bronx, passando pela cena industrial de Chicago e Detroit, eles documentaram
a ascensão dos DJs. Com entrevistas com críticos, executivos da indústria
musical, DJs, músicos e outros, escreveram um capítulo fundamental da História.
</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">MUSICOPHILIA</b> (Oliver
Sacks, 2007). O célebre neurologista Oliver Sacks explora nesse livro fundamental
o lugar que a música ocupa no cérebro, uma certa “memória fonográfica” <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e como a música afeta a condição humana. Em
<i>Musicophilia</i>, o autor foca naquilo que designa por “desalinhamentos musicais”,
casos de 29 pacientes que sofriam de imprevisíveis efeitos cognitivos quando
expostos à música. Entre eles,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>pacientes
com Parkinson ou autismo cujo ato de audição musical diminuía os sintomas; um
homem atingido por um relâmpago que subitamente desejou ser pianista aos 42
anos; um grupo de crianças com síndrome de Williams, que desde o nascimento
desenvolvem compreensão musical espantosa; pessoas com "amusia", para quem uma
sinfonia soa dolorosa, quase uma tortura; e um maestro com amnésia, cuja
memória durava apenas sete segundos (exceto quando se tratava de música). O dr.
Sacks não se porta como um cientista apenas, mas um filósofo com talento
literário atrás do mistério da música, “uma arte que é completamente abstrata e
profundamente emocional”. Ele também proporciona um agradável passeio por um
repertório de histórias da humanidade, como a de Che Guevara, “surdo do ritmo”,
que era capaz de dançar um mambo enquanto a orquestra tocava um tango, e Freud
e Nabokov, que tinham prazer zero com a audição musical.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">HISTÓRIA SOCIAL DO
JAZZ</b> (Eric Hobsbawm, editora Paz & Terra). O historiador britânico Hobsbawm,
um dos mais conhecidos teóricos marxistas do mundo, analisa ensaisticamente uma
de suas paixões, o jazz, detendo-se em seus ídolos (Count Basie, Duke Ellington
e Billie Holliday). Sua perspectiva é enxergar o jazz como criação
revolucionária dos negros norte-americanos submetidos às circunstâncias
históricas da escravidão. Combinando visão acurada com digressões intelectuais
sofisticadas, Hobsbawm vê o jazz como uma revolução anticomercial, um abrigo
contra o racismo fortalecido tanto nas fronteiras do New Deal quanto do Partido
Comunista. Interessante ver a divisão analítica proposta por Hobsbawm,
diferente da maioria dos críticos do jazz, da chamada pré-história (entre 1900
e 1917), antiga (1917 a 1929), média (1929 a 1941, com o aparecimento das
vanguardas) até o moderno (a partir daí, com as linguagens do bebop, hard bop e
do cool). Ele distingue os esforços comerciais do jazz e sua dinâmica interna
autêntica, representada pelas jam sessions e pelo senso comunitário dos
músicos. A música é vista neste contexto como elemento de resistência, o que
contribui na sua difusão. Num quadro mais amplo: a industrialização e as
transformações no padrão de consumo de pretos e brancos, a relação do jazz com
a indústria de discos e espetáculos, a popularização e seus cultores. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">REAÇÕES PSICÓTICAS</b>
(Lester Bangs, Conrad, 2005). Versão brasileira compacta da bíblia <i>Psychotic
Reactions and Carburetor Dung: The Work of a Legendary Critic: Rock
’n’ Roll</i> as Literature and Literature as Rock ’n’ Roll, de 1987, mostra a
combustão de que foi feita a literatura de Lester Bangs. O mais
controverso crítico de rock da História, memoravelmene retratado pelo ator Philip
Seymour Hoffman no filme Quase Famosos, morreu precocemente, aos 33 anos, mas
deixou um compêndio de escrita que movimentou gerações. Reações psicóticas
mostra reflexões de Bangs sobre a morte de John Lennon e Elvis Presley, relatos
sobre uma noite de provocações com Lou Reed (quase terminando em pugilismo) ou
Iggy Pop rolando sobre cacos de vidro e as idéias do autor sobre artistas como Kraftwerk,
Van Morrison, David Bowie, Jethro Tull. “Em uma época sórdida de desejos
contidos, a música de (Bruce) Springsteen é majestosa e apaixonada. Podemos nos
elevar com ela, apreciando a agitação inebriante de um garoto talentoso
navegando no pico de sua criatividade e sentimos sua música e poesia na medida
em que ele atinge o Nirvana”, escreveu Bangs. Seus personagens são envolvidos
em suas próprias tempestade existenciais, numa narrativa que leva em considerações
as emoções do autor e da circunstância de sua época, com elementos de amor,
ódio, sangue e substâncias ilícitas.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />el pájaro que come piedrahttp://www.blogger.com/profile/02706901433920414654noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3946663158434977487.post-46900451119091370272018-11-11T04:25:00.000-08:002018-11-12T08:59:13.534-08:00POETA DE VÁRZEA<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRuRnTSohS3zGUceA5F23uf3ZMFinTnpR76ZwmfuwnxXc4Qu6fFjtrDKvY1oiefgnd9uRxn6AzbJvmCqaFoDtzKaiz9NXQTLKQjIFjWgQpuii_azWRTmvOgTz4SXMe7JI4FA2WfR8jltYn/s1600/IMG_9930.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1067" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRuRnTSohS3zGUceA5F23uf3ZMFinTnpR76ZwmfuwnxXc4Qu6fFjtrDKvY1oiefgnd9uRxn6AzbJvmCqaFoDtzKaiz9NXQTLKQjIFjWgQpuii_azWRTmvOgTz4SXMe7JI4FA2WfR8jltYn/s640/IMG_9930.JPG" width="426" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
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<br /></div>
<div class="MsoNormal">
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Aos 27 anos, Mailson viu São Paulo pela primeira vez na vida
na última quinta-feira, vindo do interior do Ceará. Trouxe consigo 15 livros na
bagagem, 15 exemplares que restaram de uma tiragem de 300 livros que ele mesmo
fez imprimir em sua cidade, Varjota (a 70 quilômetros de Sobral). Desenhou a
capa ele mesmo, divulgou sozinho, encarou saraus de todo tipo, alguns possivelmente
com apenas 5 ou 10 pessoas na plateia. Há alguns meses, em busca de
ressonância, Mailson tinha ido à Feira Literária Internacional de Paraty, a
FLIP, com um lote desses mesmos livros. Desconhecido e sem uma credencial de
editora, deu seus livros de presente a pessoas que encontrava ou ia conhecendo
pelo caminho.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mas, na manhã dessa quinta-feira, ao chegar a São Paulo com
os 15 livros restantes, Mailson Furtado Viana carregava uma grande expectativa.
Seu livro, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">À Cidade</i>, um poema compacto
de 60 páginas, tinha se tornado finalista do Prêmio Jabuti de Literatura. “É
evidente que eu não botava fé que podia ganhar. Eu concorria com Marília
Garcia, que é do grupo de Angelica de Freitas, poetas de grande talento, de
enorme repercussão”, ele contou. “São gigantes!”.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ele já estava imensamente feliz de poder participar da
festa, de curtir o momento de consagração que o tornaria, poeta de uma pequena
várzea (é o que quer dizer o nome de sua cidade, Varjota: pequena várzea), uma
celebridade doméstica. Mas Mailson foi além: papou o prêmio Jabuti de Melhor
Livro de Poesia. A façanha já seria suficiente para fazer poeta sair dançando encarapitado
no parapeito do Viaduto do Chá à meia-noite. Ocorre que as surpresas da noite
ainda estavam longe de findar. O Prêmio Jabuti tem a seguinte norma: entre todas
as categorias vencedoras, uma delas é escolhida como o Livro do Ano, que recebe
um prêmio de R$ 100 mil.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ao ser anunciado o nome do grande vencedor, lá estava de
novo o nome do rapaz de Varjota, Mailson Furtado Viana. Choque entre o azul e o
cacho de acácias!, como diria Caetano. O último poeta a conseguir tal feito com
um livro de poesia fora o maranhense Ferreira Gullar, em 2011, com <i>Em Alguma Parte
Alguma</i>. Gullar, entretanto, não só era universalmente conhecido, detentor do Prêmio
Camões de Literatura, como também imortal, integrante da Academia Brasileira de
Letras.<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mailson, escritor, dramaturgo, diretor de teatro, produtor e
cirurgião dentista formado pela Universidade Federal do Ceará, tinha consigo
apenas o estandarte nu da poesia. Não brandia credenciais nem recomendações,
não falava em nome de decanos nem de autores laureados.</div>
<div class="MsoNormal">
Entre nascimentos e mortes de ruas e nomes, bicicletas e
árvores de praça, rotinas de tardes e noites e ritmos urbanos, ele edificou um rigoroso
poema anti-épico. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É sua cidade o centro
de tudo, obviamente, mas ele estende <i style="mso-bidi-font-style: normal;">À
cidade</i> aos povoamentos que se estendem ao longo de três eixos de expansão
urbana da região: o fluvial, que se espraiou ao longo do rio Acaraú; o férreo,
a linha do trem que serpenteia pelo Noroeste e chega até Coreaú; e o rodoviário,
o mais antigo e disforme.</div>
<div class="MsoNormal">
<br />
A mais de 3 mil quilômetros de suas ruas de origem, o poeta se
sente à vontade na Avenida Paulista pela primeira vez. Pisa na calçada com
sapatos gigantes, não toma rasteira da vaidade. </div>
<div class="MsoNormal">
<br />
“feliz por esbarrar em mim na banca de jornal na avenida
mais fotografada da américa. feliz por ter vontade de abraçar todo mundo a cada
esquina. feliz por acreditarem que a poesia pulsa neste asfalto e nas veredas
lá perto de casa. feliz por terem ficado felizes por mim”, escreveu, em sua
mensagem aos conterrâneos.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Curioso por conhecê-lo, estabeleço contato e marco um
encontro à revelia do poeta, que está muito assoberbado com os compromissos da
súbita fama. Mas são apenas dois dias na pauliceia e não posso perdê-lo, argumento. Ele cede.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Chego afobado à Livraria Cultura, ansioso. Meu messenger não
funciona e, na pressa, não peguei o telefone dele. Não consigo contatá-lo da
rua. Só me disse que estaria pelos lados da livraria e não gravei sua
fisionomia pelo que vi nos jornais.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Depois de uma briga com o velho celular de tela partida, consigo
finalmente acionar o messenger. Pergunto, já sem esperança, se Mailson ainda está
na livraria. “Aqui em cima. Já estou descendo”, ele diz.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Abraço o poeta, que se veste como eu mesmo, sem
premeditação, e demonstra satisfação genuína em encontrar o biógrafo de
Belchior. “Comprei o seu livro. Ainda não li, mas vou ler”, declara. Ele tem
uma peça de teatro sobre o bardo de Sobral que estreou 16 dias antes da morte
de Belchior. “Imagine você: a gente fazendo temporada com o espetáculo enquanto
ele era velado ali. Foi difícil”.</div>
<div class="MsoNormal">
<br />
“Quem está na sua fundação literária, Mailson?”. Eu pergunto
para não deixar escapar a pergunta clichê inicial.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“João Cabral de Melo Neto. E Gerardo Mello Mourão, um poeta
cearense que se tornou um gigante, mas ainda não é conhecido como merece. E
Paulo Leminski. Li tudo que pude de Leminski. Cheguei aos russos por intermédio
de Leminski, depois de uma biografia de Trótski. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Gosto da possibilidade cantada de Leminski, de
sua musicalidade. E Ferreira Gullar. Não sei dizer ao certo onde está a
presença de Gullar na minha poesia, mas também tem”, diz o autor.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Hoje em dia, tenho descoberto outros poetas. Ando muito
impressionado com Ana C.”</div>
<div class="MsoNormal">
Você quer dizer Ana Cristina César? </div>
<div class="MsoNormal">
“Sim, Ana C. Ela é maravilhosa. Uma capacidade imensa. Numa
hora eu estou aqui, no instante seguinte estou ali.”</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Por conta de algum sentimento de déficit de legitimidade,
talvez um complexo de invasor, passo a tentar me mostrar íntimo do Cariri.
Estive na Barbalha, vi os Penitentes da Barbalha cantando de madrugada, vi
inúmeros conjuntos de pífanos - mas é tipo perguntar ao violeiro Roberto Corrêa
sobre a influência da música caipira em sua música. Como a cultura popular
ressoa em sua obra, Mailson? </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“É incrível como a presença de dois poetas cearenses é
impactante em quase toda a poesia que se tem feito no Ceará: Patativa do Assaré
e Cego Aderaldo. E, ao mesmo tempo, como evitam mencioná-los. Acho que isso tem
uma razão: como são artistas populares, não gostam de se associar a eles. Mas é
difícil não achar a mão deles naquilo que se faz no Ceará”, ele me diz. “O
Cariri é outro País!”.</div>
<div class="MsoNormal">
Tento provocá-lo com alguma boutade, para ver se está mal
preparado. Não cai em cilada.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“O que há de comum entre a poesia e o ofício de dentista?”.
Mailson: “Porra nenhuma”.</div>
<div class="MsoNormal">
Eu mesmo garimpei, nos versos dele, alguma traição a um ou
outro ofício, mas tudo que encontrei foram esses versos:</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“cá estou</div>
<div class="MsoNormal">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>junto dos meus vinte e nove dentes</div>
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<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>que um dia desbotarão</div>
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<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>no rasgar de seriguelas”.</div>
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O poeta desfolha a bandeira. E a manhã tropical se inicia.</div>
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Marcamos uma cerveja no Becco do Cotovelo, em Sobral, em algum sábado futuro.</div>
<br />el pájaro que come piedrahttp://www.blogger.com/profile/02706901433920414654noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3946663158434977487.post-90386261771500401582018-11-07T12:06:00.001-08:002018-11-07T12:06:08.729-08:00RADIOMAN<div style="background-color: white; color: #26282a; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif;">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqj8-UtiGBaVCMVlz-DOrLz23Cl1QXmxrz3mxcSoMR2fZ2lbhdqnYPj67uQD5b9e18U94SbHxLpLpPDmxVlnizirUrHZlbTB2-2L1N907YVVBNEo1fnHf4KZxsWC0HvWWZS_BDfVlERdVz/s1600/radioman.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="730" data-original-width="1050" height="444" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqj8-UtiGBaVCMVlz-DOrLz23Cl1QXmxrz3mxcSoMR2fZ2lbhdqnYPj67uQD5b9e18U94SbHxLpLpPDmxVlnizirUrHZlbTB2-2L1N907YVVBNEo1fnHf4KZxsWC0HvWWZS_BDfVlERdVz/s640/radioman.jpg" width="640" /></a></div>
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<span style="font-size: x-small;"><i>Em 2005, eu estava em Nova York e vi uma aglomeração na frente de um restaurante na Rua 46. Muita gente agitada. Parei e também me agitei para saber o que era. Um homem de barba com um rádio no pescoço estava do meu lado e perguntei a ele o que estava acontecendo. "Nicole Kidman está aí dentro", ele disse. Eu achei a figura intrigante e começamos a conversar. Se um terço do que me dizia era verdade, aquele era de fato um personagem fascinante. Marquei com ele no dia seguinte no festival de Tribeca, perto de Chinatown, para conversar melhor, porque ele era o mais agitado ali. A história saiu parcialmente no jornal, na época, mas hoje, 13 anos depois, achei o texto original da reportagem, que segue:</i></span><br />
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Jotabê Medeiros<br />
Correspondente<br />
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Nova York - O homem da bicicleta verde usa roupas bem amarrotadas e a barba amarela parece endurecida com algum gel. Nenhuma ventania seria capaz de mover seus cabelos. Parece claro que ele não toma banho há alguns meses, talvez um ano. Ele carrega um rádio de pilhas Sanyo no pescoço, amarrado com barbantes. A bicicleta está cheia de sacolas de plástico no guidão, nas quais ele carrega alguns donuts e objetos pessoais.<br />
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Ele parece o tipo de lunático que dificilmente alguém convidaria para um sarau, nem sequer para um café, mas quando o homem estaciona sua bicicleta na frente do tapete vermelho de uma pré-estréia do festival de cinema de Tribeca, em Nova York, os seguranças sisudos imediatamente o puxam para dentro. "Como vai, Radioman?", pergunta um deles, e o posiciona num dos lugares de honra do tapete vermelho. Radioman é o apelido de Craig Schwartz, de 54 anos, e ele costumava viver nas ruas de Nova York como um homeless, um sem-teto. A história de como ele se tornou uma espécie de mascote do cinema nova-iorquino é longa, mas o fato é que até hoje ele já "atuou" em cerca de 30 filmes: <i>Mr. Deeds, A Intérprete, A Fogueira das Vaidades, O Elfo</i>. Sua história serviu de base para um outro filme, <i>The Fisher King</i>.<br />
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"Você está atrasado, Radioman", diz um cinegrafista. "Aquele cara de <i>Os Sopranos</i> acabou de entrar". Radioman demonstra certa aflição. "Qual cara? Aquele grande? Gandolfini? Jimmy Gandolfini está aqui?", ele pergunta, ansioso. Conhece todos os atores pelos nomes. "Bruce Willis é meu amigo. Pierce Brosnan, o 007, me deu um relógio de presente", ele gaba-se. E Jimmy Gandolfini deu-lhe uma dezena de autógrafos em fotos de cena, autógrafos que ele trocou por sanduíches. Ele enumera os "amigos" que fez na carreira: Sandra Bullock, Goldie Hawn, Al Pacino, De Niro, Harrison Ford, Whoopi Goldberg. "Conheço todos".<br />
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Radioman tem carteirinha do Screen Actors Guild, ou seja: é sindicalizado. "Ganho US$ 18 por hora de trabalho, já cheguei a ganhar US$ 700", conta o homem-rádio. Mas qual é o papel que ele faz nessas produções? "A maior parte do tempo eu sou eu mesmo", ele diz. "Você já viu Mr. Deeds? Sabe aquele cara na rua que diz para o Adam Sandler: "Hey, olhe pra mim? Aquele sou eu".<br />
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Ele tem um trunfo: como é um cinéfilo obsessivo, dedicou-se a - enquanto vivia nas ruas (hoje mora no Brooklyn, ganhou um apartamento dos amigos) - "mapear" onde estavam os sets de filmagem pela cidade. Visitava todos, posicionava-se em lugares estratégicos e ficava amigo dos produtores. Ganhava comida e ajudava no que podia. Mais tarde, quando precisavam de um figurante na rua, ele era escalado. Tornou-se um personagem lendário no cinema. Encontrá-los nos filmes que mencionam é uma brincadeira como aquela Onde Está Wally?, mas ele não mente: está lá de fato, às vezes durante um tempo que é menor que uma fração de segundo.<br />
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"Um dia, eu estava num set de filmagem quando vi sair do trailer o Robin Williams. Eu gritei para ele: 'Você parece um cartum, Mr. Williams!'. Aí, ele olhou pra mim e veio na minha direção e me disse: 'Gostei desse cara, quem é esse cara?'. E foi assim que nos conhecemos", conta o caçador de autógrafos. Não é muito difícil topar com ele em Nova York: basta ir onde estão as filmagens. Ele conhece todas. Reza a lenda que os repórteres de celebridades e os paparazzi o procuram para saber notícias de quem está saindo com quem no mundo do cinema, quem ele viu e o que ele viu. Ele ganha a vida assim. A reportagem do <strong>Estado</strong> o localizou num restaurante de Times Square, onde ele aguardava do lado de fora a saída de Nicole Kidman, que estava ali para promover o filme <i>A Intérprete</i>.<br />
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No tapete vermelho do Festival de Tribeca, ele zomba de um fotógrafo do lado de fora. "Aquele é o Larry, você conhece o Larry?", diverte-se. O fotógrafo devolve a provocação: "Pergunte a ele como foi que ele perdeu as impressões digitais". Radioman não quer falar sobre isso. Mas parece que agrediu um policial, anos atrás, e passou um tempo em cana. Nascido no Brooklyn, esteve no Exército e trabalhou para os Correios dos Estados Unidos. "Comecei a beber, e caí nas ruas", conta, antes de interromper bruscamente a entrevista. "Um minuto, pode ser alguém!", diz, e corre para ver a limusine que estacionou na rua. Volta em seguida, pára para checar a bicicleta Rolling Rock verde e recomeça como se nada tivesse acontecido.<br />
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Então, ele explica a história do rádio pendurado no pescoço. "Quando eu morava na rua, eu costumava ter um rádio. Mas aí eu dormia nos bancos do parque e quando acordava tinham roubado meu rádio. Aí eu resolvi amarrá-lo no pescoço, para que não o roubassem mais", lembra. "Um dia, estava andando pelo parque e um policial me chamou: Hey, Radio Guy!. O apelido acabou pegando e eu gostei. Isso foi há 12 anos. Virei o Radioman".<br />
Sua figura dificilmente é ignorada. O Canal 13 de Televisão o acompanhou durante alguns dias em sua frenética busca por sets de filmagem em Nova York. Mostrou Radioman em ação no Central Park e depois o seguiu até o set de <i>The Namesake</i>, o novo filme de Mira Nair, em Downtown Manhattan. Em 2004, o <i>The New York Times</i> fez um perfil dele, em abril de 2004, ao descobri-lo ao lado de Susan Sarandon e John Turturro num cenário de produção de um filme. Era <i>Romance & Cigarettes</i>.<br />
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Pessoalmente, o que Radioman pensa do cinema? Quais seriam seus filmes preferidos? Ele não titubeia. "Todos os filmes <i>O Poderoso Chefão</i>. Gosto de todos. Meus atores favoritos são Pacino e De Niro", conta.<br />
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Mas, nesses filmes que participou, alguma vez lhe deram um script? "Não, apenas me dizem o que tenho de falar, e eu improviso. Minha atuação é realista e também é inacreditável. Quando você vive por algum tempo nas ruas do mundo real, sabe que nada é como isso aqui que o cinema mostra. O que se vive nas ruas é indescritível", ele conta.<br />
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el pájaro que come piedrahttp://www.blogger.com/profile/02706901433920414654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3946663158434977487.post-26405897418571577962018-10-26T06:47:00.000-07:002019-01-02T15:03:32.210-08:00NAS ASAS DE BELCHIOR<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiko3FbcPPbTA_66lzB_oMkZXHa3AendPG89fzk5tzBqbqft4aqhTyKUmTtpQxIVWYUsVzuwpLNTzSlFH8Hnof3GKdeTxvAHlYxpaZM5b8m1EePJ9lzGgR-eRCnWftro5XDFrz1OszcByi-/s1600/30._IMG-20170714-WA0004.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1024" data-original-width="658" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiko3FbcPPbTA_66lzB_oMkZXHa3AendPG89fzk5tzBqbqft4aqhTyKUmTtpQxIVWYUsVzuwpLNTzSlFH8Hnof3GKdeTxvAHlYxpaZM5b8m1EePJ9lzGgR-eRCnWftro5XDFrz1OszcByi-/s640/30._IMG-20170714-WA0004.jpg" width="410" /></a></div>
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Quando a gente lança um livro, nunca sabe até onde ele pode chegar e como vai ser recebido.<br />
Mas, quando embarcamos com ele para os lugares aonde ele é enviado, dá uma certa sensação de responsabilidade - tipo aqueles batedores da Wells Fargo dos filmes, irmanados à diligência e sua carga. Eu me lancei na estrada, nos últimos meses, para uma odisseia de lançamentos de <i>Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano</i>, perfil biográfico do grande cantor e compositor cearense lançado pela Todavia Livros.<br />
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De Belém do Pará até Rio Grande (RS), de São Luís a Vitória, entre noites chuvosas e tardes escaldantes, hotéis de frente pro mar e pousadas nas margens de rios, confesso que andei. Até janeiro, foram cerca de 32 mil quilômetros percorridos e 14 cidades.<br />
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<b>São Paulo</b> foi o ponto de partida, como não poderia deixar de ser. No dia 4 de setembro, o livro foi lançado na livraria do Shopping Higienópolis - dias antes, houvera uma festa com show das cantoras Ana Cañas, Karina Buhr e Taciana Barros no Pacaembu, e foi uma noite de muita alegria, música, cerveja grátis e gente bacana, como os garotos da banda Pessoas Cinzas Normais. Mas lançamento mesmo, com rabiscos nervosos do autor para os leitores, foi na livraria Saraiva do shopping.<br />
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Comprei um par de botas novas para a ocasião, e foi uma má iniciativa: sempre que uso sapatos novos, sinto-me o Neil Armstrong andando na Lua, não parecem meus. Havia na livraria uma profusão de amigos maravilhosos dando uma força: o Mauricio Stycer, a Mara Gama, a Thais Oyama (amiga que, há 27 anos, me emprestou carro para buscar o filho recém-nascido na maternidade). Jorge Mello foi buscar seu autógrafo (e, certamente, checar se havia sido corretamente citado). Ricardo Kelmer, poeta que organizou coletânea de textos sobre Belchior, também foi. Ainda assim, confesso que fiquei receoso que aquela fosse apenas uma formidável noite de generosidade. Alegre, mas circunscrita ao domínio geográfico e afetivo.<br />
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No dia 5, embarquei cedinho para o <b>Rio de Janeiro</b> para o lançamento na Livraria da Travessa, em Ipanema. Ednardo, o lendário artista de <i>Pavão Mysteriozo</i>, tinha me dito que, se estivesse na cidade, iria. O Rio parecia ainda mais assustador, porque conto nos dedos das mãos os amigos. Ednardo demorou, mas chegou com sua boina inconfundível e me ladeou na mesa. A livraria foi enchendo, meu coração acalmando. Ednardo me chamou pelo meu nome (João Batista) e disse que me conhecia há mais tempo do que eu pensava.<br />
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“Eu me lembro de seus artigos na <i>SomTrês</i>. Sem falsa modéstia: você era um dos melhores”, sapecou Ednardo, e eu quase explodi de orgulho, inflado. Lucinha Menezes, a primeira intérprete de Belchior, também apareceu cheia de cachos e e cantou uma versão de <i>Paralelas</i> que a gente não conhecia, uma pedra bruta de Belchior. Ela contou sobre sua amizade com o poeta e chorou, e muitos de nós choramos junto. Depois, migramos para o outro lado da calçada, para um bar, e nos dedicamos a falar sobre as contradições de Belchior. Até que apareceu, tarde da noite, o cineasta Neville de Almeida com uma amiga para juntar-se à nossa trupe, uma dessas coisas fabulísticas que só o Rio de Janeiro proporciona.<br />
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No dia seguinte, desembarquei na gigantesca Bienal do Livro em cima da hora. Uma entrevista para uma emissora de rádio em Botafogo ultrapassou o tempo fixado e quase perco o lançamento na bienal, uma hidra de 600 mil visitantes e 3,7 milhões de livros vendidos. Cheguei quando o Ronaldo Bressane, um artesão do texto, saía. O mediador da mesa seria o Matthew Shirts, que eu só conhecia de nome. Ele veio falar comigo e tinha lido o livro e seu entusiasmo me deixou calmo e confiante. Éramos três escritores para discorrer sobre o tema num auditório-aquário muito muito cheio, pelo menos umas 400 pessoas, eu calculo. Ao meu lado, o notável botafoguense PC Guimarães, que sabe da arte de entreter multidões; mas não éramos nem eu nem ele o motivo da sala cheia.<br />
<br />
Descobri o motivo rapidamente: repartia a mesa conosco uma autora de best-sellers, Ana Beatriz Barbosa, escritora de <i>Mentes Perigosas</i> (mais de 600 mil exemplares vendidos). A maioria das perguntas era dirigida a ela, que tinha uma autoconfiança apaixonante. Ana Beatriz dá consultoria a algumas produções da TV sobre psicopatas e mencionou estatísticas tenebrosas. Por exemplo: psicopatas são 4% da população. Pensei: acho que a estatística sobe quando se trata do Congresso Nacional.<br />
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De volta do Rio, me vi dirigindo às 6h da manhã de São Paulo até <b>São José dos Campos</b>, interior de São Paulo, para a Feira Lítero-Musical de São José (FLIM), no dia 17 de setembro. As edificações no parque Vicentina Aranha, projeto do arquiteto Ramos de Azevedo (o mesmo do Teatro Municipal de São Paulo), estavam coalhadas de famílias, crianças, música para todo lado. Entrei no camarim do anfiteatro e me dei conta de que, do meu lado esquerdo, estava Antonio Nóbrega, multiartista cujo jeito de narrar as coisas já é em si uma dramaturgia. Do lado direito estava Alice Ruiz, mulher tão forte que até o jeito dela olhar pra gente já é um manifesto do seu orgulho libertário.<br />
<br />
Fomos incumbidos de levar até São José, cada um de nós, um livro que tivesse sido fundamental na nossa formação para discorrer sobre ele à plateia. Eu passara semanas pensado naquilo. Que livro? Que influência? Que formação? Levei um gibi, <i>Ken Parker</i>, dos italianos Ivo Milazzo e Giancarlo Berardi. Não há nada que tenha sido mais determinante no que eu me tornei do que essa HQ. Ali, entre tiros secos de um velho rifle Kentucky, aprendi poemas de Walt Whitman, versos de Shakespeare, canções de Woody Guthrie. Quando terminei de falar sobre o gibi, tava até com a voz embargada.<br />
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Em São José, autografei uns 50 livros e notei que as pessoas já começavam a ouvir falar da biografia. Muita gente vinha para pedir um autógrafo para o pai, a mãe, um tio, uma prima. A angústia de fazer uma dedicatória voltou - o desejo de expressar alguma gratidão sem subserviência, repetir-se com sinceridade, cansar-se sem desmilinguir. Lembrei de Borges citando Emerson (“A própria vida se converte numa citação”) e passei a encarar os autógrafos como algo além do livro, a expressão do momento vivido.<br />
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No dia 21 de setembro, caí do céu em <b>Vitória</b>, no Espírito Santo. No mesmo avião que eu, viajaram a cantora Tiê e o comediante e ator Moacyr Franco, que caminhava à minha frente rodando uma mala pequena. Pensei até em tirar uma foto dele escondida, Moacyr é um ídolo desde criancinha. Rogerinho Borges, meu anfitrião, foi me buscar e me levou direto para um almoço no restaurante Pirão para encontrar os integrantes da banda Os Mamíferos, talvez uma das formações mais antigas da psicodelia nacional. Hipsters dos anos 1960, anteciparam os Secos & Molhados em figurino e cenografia e flertaram com a poesia beat enquanto o resto da MPB cortejava a pop art.<br />
<br />
Pirão é como chamam o dono do restaurante, Hercílio Alves. À nossa frente, enquanto ouvia histórias sobre Beth Faria, Sergio Sampaio, Max Roach, Edu Lobo, Art Blakey e outros, uma moqueca capixaba borbulhava como um gêiser em Yellowstone. Eu estava ali com os Stones locais: Marco Antonio Grijó (bateria), Mario Ruy (guitarra) e Afonso Abreu (baixo), cavaleiros que, há 50 anos, derrotaram a província na própria província.<br />
<br />
À noite, no campus universitário, meu interlocutor seria João Moraes, primo de Sergio Sampaio, a outra grande voz de Cachoeiro de Itapemirim ao lado de Roberto Carlos. Eu contei mais de 300 pessoas no gramado da universidade, e a maioria ainda nem tinha 25 anos de sonho, de sangue e de América do Sul. Jessica, 18 anos mas cara de 13, veio me pedir um autógrafo para um amigo dela gaúcho, Otto. Eu disse, meio gratuitamente: “Acaso não seria Otto Guerra, o cineasta?”. Ela: “Ele mesmo. Como sabe?”. Não acreditei. Como tivesse grana apenas para um exemplar, ela optou por presentear o amigo. Então, combinei com ela de enviar um para sua casa autografado.<br />
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Em <b>Belo Horizonte</b>, no dia 29 de setembro, no auditório da Fiemg, eu esfreguei os olhos e me belisquei: sentado no meio do público, incólume, estava o grande Arnaldo Dias Baptista, dos Mutantes, com sua mulher, a Lucinha. Fiquei baqueado; nosso Syd Barrett, nosso chapeleiro maluco, o mais revolucionário de sua geração. Até brinquei ao microfone contando que tinha prometido não escrever mais biografias, mas se o Arnaldo quisesse, eu esquecia a promessa na hora. Ele riu sem jeito. Fizemos fotos juntos, ele me deu uma foto dele com o Belchior.<br />
Dali, a noitada se estendeu para o Mercado, para um show do inacreditável bloco carnavalesco Viva Belchior. Meu sobrinho Tando dirigiu 200 quilômetros do interior de Minas até Belo Horizonte com uma garrafa de cachaça, uma Antônio Rodrigues exclusiva, e nós a abrimos ali mesmo.<br />
<br />
Foi corrido, porque no dia seguinte já tinha a Tarrafa Literária, em <b>Santos</b>, com o Marcelo Rubens Paiva e o João Gabriel de Lima. Um carro veio me buscar no Sumarezinho com outros dois autores que também rumavam para a Baixada Santista: Maria Rita Kehl e o Matthew Shirts novamente. Foi engraçado demais, eles contaram histórias de divórcios e casamentos e amizades e amores comuns em uma única vizinhança de São Paulo durante décadas.<br />
<br />
O imponente Teatro Guarany de Santos, de 1882, tava lotado. Como eu estava adiantado, caminhei até o outro lado da praça em frente, um sebo em uma banca, e comprei <i>Verdade </i><i>Tropical</i>, do Caetano Veloso. Me ocorreu de checar quantas vezes ele menciona Belchior no livro. Zero vezes. De volta ao teatro, eu e Marcelo Rubens Paiva falamos sobre o tema <i>A Vida </i><i>dos Outros</i> e eu fiquei impressionado em como o Paiva encanta um público com sua franqueza e talento. Ao final, nosso anfitrião José Luiz Tahan nos levou a uma pizzaria e conversamos sobre Pepetela e a literatura portuguesa. Conheci o cartunista Rafael Coutinho, de uma das mais talentosas dinastias de cartunistas do Brasil.<br />
<br />
No dia 5 de outubro seria a vez de <b>Fortaleza</b>. O Dragão do Mar organizou shows-tributo a Belchior, e eu mesmo me encarreguei de convidar figuras fundamentais dessa história, como o compositor e cantor Rodger e o arquiteto e compositor Fausto Nilo. Ambos foram sensacionais. Primos e tios de Belchior chegaram de Sobral, e até o irmão do bardo, Gilberto Belchior, esteve lá para conferir a noitada e me dar um abraço. Fortaleza acorreu em peso ao Dragão do Mar: todos os 269 lugares do teatro estavam ocupados, e ficou gente de fora.<br />
<br />
No dia 8, no <b>Recife</b>, depois de muitos embates literários em Olinda (após conhecer o Clóvis, que atravessa Goiás numa kombi doando livros), eu me vi numa avenida infinita rumo a um restaurante de comida nordestina, O Parraxaxá, um buffet com forró entre as mesas. Em meio a carne de sol, farofa matuta, bode guisado, sarapatel e pudim de rapadura, um impressionante sósia de Luiz Gonzaga fez o aquecimento da noite e, logo a seguir, a hostess anunciou a nossa presença no recinto.<br />
<br />
No dia 15 de outubro, o Festival de Jazz e Blues de <b>Iguape</b>, no litoral Sul de São Paulo, me convidou para uma noite literária. Arrumaram um belo salão num dos edifícios históricos (Iguape é uma das mais antigas cidades brasileiras) e nem a chuva espantou os leitores. Lotada a sala, muitas perguntas bacanas, muitos depoimentos e até uns recortes de jornal sobre a passagem de Belchior pela cidade. No caminho de volta, encontrei o Renato Piau, que acompanhou Luis Melodia por quase 40 anos, e conversamos longamente.<br />
<br />
No dia 9 de novembro, voltei a <b>São Luís do Maranhão</b>, uma das noites mais alegres de toda a jornada. No club Fanzine Rock Bar, no centro histórico, o grande músico Tutuca organizou o Tributo a Belchior, com artistas convidados: Marconi Rezende, Milla Camões, Tássia Campos e o próprio Tutuca; além deles, houve o show <i>Transa e outras fodas</i>, com a banda Calabar tocando músicas de Caetano Veloso. Morri de rir com os causos de Robertinho Silva e consegui uma façanha: que o dono do Bar do Léo, o próprio Léo, colocasse uma música a meu pedido.<br />
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De volta à pauliceia, no dia 12 de novembro teve uma tarde na Balada Literária, no B_Arco, em São Paulo. Eu e Lira Neto fomos escalados para falar de muitas coisas. Lira Neto biografou Padre Cícero, Getúlio Vargas, a cantora Maysa. Enfrentou a contrariedade de beatos e fanáticos, de doidos e extremistas. “A biografia bem feita é aquela que, no lugar de responder a todas as perguntas, deixa no ar mais um monte de questões a serem respondidas”, ele disse (não é a frase exata, mas é o que ele expressou).<br />
<br />
Em 14 de novembro, embarquei para a Feira do Livro de <b>Porto Alegre</b>, um evento literário de rua com 63 anos de tradição. Meu parceiro de mesa era o Juremir Machado, um intelectual sofisticado e humanista combatente. E que tinha acolhido Belchior na cidade quando este chegou ao Rio Grande, fugindo do Uruguai, em 2013. Foi muito divertido. O escritor Eduardo Bueno, que também fazia uma palestra por ali, veio ao auditório e virou uma conversa debochada e amigável. Apareceu o Otto Guerra, caminhamos pelo calçadão, ele me contou histórias assombrosas do Júpiter Maçã, de quem eu usava uma camiseta. A doutora Josy Teixeira e o notável Dogival Duarte me levaram para jantar na Cidade Baixa, no Via Imperatore.<br />
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No dia seguinte, peguei um novo voo até <b>Pelotas</b>, pra Feira do Livro de Pelotas. Pirei com a cidade. Meus anfitriões tinham uma livraria de rua na cidade, Vanguarda, que é de dar inveja às das metrópoles. Além de me receber com alegria, me levaram para conhecer Rio Grande, terra do primeiro time de futebol, e a insondável Praia do Cassino, sua extensão fenomenal de 254 quilômetros) e seus molhes como diques holandeses acima do oceano. Comprei um casaco de couro num brechó de um gaúcho e senti saudade antes mesmo de ir embora.<br />
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De Pelotas, com escala em Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, fiz o mais longo e demorado voo da jornada. No dia 18 de novembro, já em <b>Belém do Pará</b>, desfrutei da condição de convidado do magnífico festival Se Rasgum, e lancei o livro para poucos e bons no hostel Ziggy, base de operações do festival. Foi uma espécie de trégua: em vez de falar muito, eu ouvi mais. Ouvi a novidade de Giovanni Cidreira, grande cantor baiano. Molho Negro, banda de demolição. Baiana System. Maglore, junção perfeita entre o indie rock e a baianidade tropicalista.<br />
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No dia seguinte, no Mercado Ver-o-Peso, encarando um pirarucu frito, uma cerveja gelada, ouvindo uma versão para o tecnobrega de <i>Crazy</i>, do Gnarls Barkley, vi a ilha do Combu lá adiante, a brisa do rio no rosto, e pensei que era a hora de fazer o check out e deixar o livro viajar sozinho a partir dali.<br />
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<i>(texto escrito em janeiro a convite da editora Todavia, hoje publicado aqui como um tributo ao aniversário de 72 anos de Belchior, celebrado hoje; depois disso, já fui a mais uma infinidade de cidades, a última em Curitiba, há três dias, e em dezembro chego a Sumé, Paraíba, onde nasci)</i>el pájaro que come piedrahttp://www.blogger.com/profile/02706901433920414654noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3946663158434977487.post-49316091071459584582018-10-10T06:15:00.003-07:002018-10-10T09:40:37.830-07:00ÁGUAS TURBULENTAS<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibjhEcI8mRp7LmIZfP_TSbP_yJzt2KFCaiqWXTzm-II8rJZenfiFYEKX5s9FKMAQENdznol68WrmN3ka1bM_Fm-qtpiiv5-A75L61LY8QSTjmuRXDH6dK_jM96zKu9Ma_FySv0Ix6ECnkh/s1600/IMG_9550.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibjhEcI8mRp7LmIZfP_TSbP_yJzt2KFCaiqWXTzm-II8rJZenfiFYEKX5s9FKMAQENdznol68WrmN3ka1bM_Fm-qtpiiv5-A75L61LY8QSTjmuRXDH6dK_jM96zKu9Ma_FySv0Ix6ECnkh/s640/IMG_9550.JPG" width="640" /></a></div>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEheDrKk56cNscDdzFzsgY_lkP-wJRQ-D9_vZmMOdvrlMlLsjORaSQAKoXjQKTOompWjITpq8Andhum4bYnNpjmKpg4-fEhBqS7tFBGeN4VgtbFi4Edng2FQeIE-2t1PVb8VNTJruIhitiXp/s1600/IMG_9553.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEheDrKk56cNscDdzFzsgY_lkP-wJRQ-D9_vZmMOdvrlMlLsjORaSQAKoXjQKTOompWjITpq8Andhum4bYnNpjmKpg4-fEhBqS7tFBGeN4VgtbFi4Edng2FQeIE-2t1PVb8VNTJruIhitiXp/s320/IMG_9553.JPG" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzMo3vsKxAiDSTgou1dq_RPPiY9knCD-B8YOLdfXL98hiMcwNuEuhaSFTPciGJS1vbDwzzrypfMdhqAyIapMqRZfLFqfO6O4UTNslE-lUSPrCdajCvNf21hsvWzRPVLZS8uvAKAh4lz40V/s1600/IMG_9523.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzMo3vsKxAiDSTgou1dq_RPPiY9knCD-B8YOLdfXL98hiMcwNuEuhaSFTPciGJS1vbDwzzrypfMdhqAyIapMqRZfLFqfO6O4UTNslE-lUSPrCdajCvNf21hsvWzRPVLZS8uvAKAh4lz40V/s320/IMG_9523.JPG" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiT_Dzlg11idZg-xMUmSzt7XOWk-V-StEGtn8arFrCTA8-GL_pyEkRcIJY5_73-8DeyeAVugIazWpnZymVeC6g5J4ULixyYdDV3WCld07tk9uNMPiL9vCWeiIP-ZMWzO5YQTpraeLqXdmNP/s1600/IMG_9557.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiT_Dzlg11idZg-xMUmSzt7XOWk-V-StEGtn8arFrCTA8-GL_pyEkRcIJY5_73-8DeyeAVugIazWpnZymVeC6g5J4ULixyYdDV3WCld07tk9uNMPiL9vCWeiIP-ZMWzO5YQTpraeLqXdmNP/s320/IMG_9557.JPG" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgjwuhZ1sbNP3oZ-X8q68YWdl0zkxFZNPQajpO-jFXoBScCZ9DbXHEoddvBLcqwTpBTaMGZq_URSBBw1_XAstGCABJ5YDfJaoy6ZucNhWb2JM6bqgusm9Uw6Ug4N6JCobkMSPCl5Xvrmnv/s1600/IMG_9581.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgjwuhZ1sbNP3oZ-X8q68YWdl0zkxFZNPQajpO-jFXoBScCZ9DbXHEoddvBLcqwTpBTaMGZq_URSBBw1_XAstGCABJ5YDfJaoy6ZucNhWb2JM6bqgusm9Uw6Ug4N6JCobkMSPCl5Xvrmnv/s640/IMG_9581.JPG" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQnBN9KdV8jyAlAqC_g46DZlLvof0MgQiebAetN9L_E9XGBDv5kdYArhH44vFAT4H_yje8qPVCa9v3DtuEjsgHpI4-BzO9U73Ras0Hoyd1dm-3wmGpbzCE0q045POayS163mMTwTsnkqDz/s1600/IMG_9566.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQnBN9KdV8jyAlAqC_g46DZlLvof0MgQiebAetN9L_E9XGBDv5kdYArhH44vFAT4H_yje8qPVCa9v3DtuEjsgHpI4-BzO9U73Ras0Hoyd1dm-3wmGpbzCE0q045POayS163mMTwTsnkqDz/s320/IMG_9566.JPG" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjACfzhkUgjpMYsTPKhMmhp-wxTCjp65NGWJgLGcTxvbTtNfY1pCbdCu8L8ONrVRtx2699AXzbC8_nkxrncVzA7RYslZ3wab230pTQnrtrllp-djxchO11znG3Y1X1pm1hGFygoYDpygMHJ/s1600/IMG_9569.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjACfzhkUgjpMYsTPKhMmhp-wxTCjp65NGWJgLGcTxvbTtNfY1pCbdCu8L8ONrVRtx2699AXzbC8_nkxrncVzA7RYslZ3wab230pTQnrtrllp-djxchO11znG3Y1X1pm1hGFygoYDpygMHJ/s320/IMG_9569.JPG" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidXhIGPFom43kw86me0rxSxAGFqDEb8GyfIFpNYG73SI1sNnE2-G4UYsJlvdla6MhUVQ1bC7UKfASyAtwVNqGUw5lV_oZzUvriY5zqVgVDo_wo3UVRB_ezRLTZY7SYZMxaDNUfNwnGxfZh/s1600/IMG_9597.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidXhIGPFom43kw86me0rxSxAGFqDEb8GyfIFpNYG73SI1sNnE2-G4UYsJlvdla6MhUVQ1bC7UKfASyAtwVNqGUw5lV_oZzUvriY5zqVgVDo_wo3UVRB_ezRLTZY7SYZMxaDNUfNwnGxfZh/s640/IMG_9597.JPG" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
fotos: <i>jotabê medeiros</i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Quem mandou ele vir aqui pra falar tanto? Teu negócio é
cantar! Canta, porra!”, berrava, na arquibancada inferior, uma espectadora do
show <i>Us & Them</i>, de Roger Waters, na noite passada, no Allianz Parque.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A moça não parecia saber exatamente quem era Roger Waters e
nem o que fazia no show dele. O pai do cantor e baixista, Eric Fletcher Waters,
foi morto pelos nazistas durante um bombardeio em Anzio, Itália, quando ele
ainda era um bebê. Para o pai, em 1983, ele compôs The Fletcher Memorial Home,
na qual fala de “incuráveis tiranos” e os nomeia um a um: Ronald Reagan,
Alexander Haig, Menahem Begin, Ian Paisley, Leonid Brezhnev, Joseph McCarthy , Richard
Nixon.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Em 1990, Roger Waters montou o show The Wall (cuja essência
é a metáfora do perigo do fanatismo e do fascismo) na base do que fora o Muro
de Berlim, explodindo um muro de isopor simbólico como exposição de seu
pensamento sobre aquela cortina comunista, a divisão do mundo pelo
autoritarismo e pela força. Organizou um boicote internacional de artistas
contra Israel, buscando asseverar direitos aos Palestinos e catalisando para si
toda a raiva dos partidários do uso da força contra um povo (chegou a tretar
com Caetano e Gil por causa disso).<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Em
meio ao processo eleitoral norte-americano, ele inflou seu porco com a cara de
Donald Trump sobre os ares do País, em turnê - e segue fazendo isso, expondo a
insânia de Trump, até em português.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Portanto, Roger Waters é a própria imagem do destemor e da
liberdade de expressão. Ele faz seu show justamente para dizer às pessoas o que
pensa sobre os perigos da opressão, da supressão de direitos, da perseguição a
grupos sociais. A meta dele é essa: identificar o fascista, apontar o fascista. O primeiro pensamento que vinha à cabeça de quem presenciava as
vaias e os xingamentos que Waters tomava na noite de ontem era esse: será que
esse pessoal não errou de show? Sem questionar a legitimidade da vaia, mas o
que Waters procura é basicamente isso: causar desconforto naquele tipo de
pensamento que não se coaduna com a defesa da irrestrita liberdade, da admissão
dos direitos civis, do humanismo.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A vaia começou quando surgiu a tag #EleNão no telão. Antes, Waters
já tinha exibido durante pouquíssimo tempo uma lista com o título “NEOFASCISMO
ESTÁ EM ASCENSÃO”. Logo abaixo, os nomes dos líderes neofascistas e os
países:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Nos Estados Unidos - Trump; Na
Hungria - Orban; na França - Le Pen; na Áustria - Kurz; no Reino Unido -
Farage; na Polônia - Kaczynski; na Rússia - Putin?; no Brasil - Bolsonaro.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Houve já um apupo, mas Roger Waters cantou <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Wish You Were Here</i> e saiu, anunciando um
intervalo de 20 minutos. Ao voltar, logo após a execução de Dogs, um porco
inflável gigante com os dizeres RESPEITEM AS MULHERES, NO WALL e AS CRIANÇAS
NÃO TÊM CULPA, além de grafites de palestinos atirando pedras e ilustrações
simbólicas, percorreu os ares do Allianz Parque, agora fazendo jus ao seu
apelido de Allianz Pork. Roger Waters e os integrantes da banda vestiram
máscaras de porcos durante <i>Pigs (Three Different Ones) </i>e um garçom também
mascarado servia-lhes champanhe. George Orwell reencarnava na Barra Funda. Mas
quando a tag #EleNão voltou ao telão, aí começou a treta.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Jair Bolsonaro é considerado fascista por quase todas as
publicações importantes do mundo (<i>Le Monde, Libération, Der Spiegel, The
Guardian, El País, New York Times</i>) por seus próprios méritos. Já expressou mais
de uma vez a sua disposição para o extermínio das diferenças, sua misoginia,
homofobia, racismo, a apologia da violência. Ainda assim, parte significativa
da plateia discordou veementemente de Roger Waters. Essa parte tem planos de
votar no candidato com todo o pacote do que ele representa, e se incomodou com
a identificação categórica do perigo nazifascista concentrado em Bolsonaro. Como
rebateu isso? Alguns grupos isolados gritavam “Fora PT” em resposta. Outros
ofendiam Waters. “Babaca! Filho da puta! Vai se foder!”.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Houve diversos casos de empurrões e agressões
verbais de espectadores dessa corrente contra a outra metade da plateia que
discordava. </div>
<div class="MsoNormal">
Enquanto tuitava sobre os acontecimentos em progressão, um
jornalista celebrado das redes sociais tomou um tranco de um partidário de
Bolsonaro.<br />
<br />
Pressentindo o clima tenso, Roger Waters cruzou os braços no peito e tentou pacificar os ânimos. Lembrou que o Brasil está em meio a uma eleição, que iriam dizer que não era da conta dele. Mas não abriu mão um milímetro de suas convicções. "Sou contra o ressurgimento do fascismo. E acredito nos direitos humanos. Prefiro estar num lugar em que o líder do País não creia que uma ditadura é uma coisa boa. Eu me lembro das ditaduras da América do Sul e foi feio".<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">Durante pelo
menos uns 10 minutos, Roger iniciava uma fala e as vaias recomeçavam. Tentava
apresentar a banda e sobrevinham novas vaias. Com larga experiência no
comportamento das turbas (Another Brick in the Wall é uma alegoria do
comportamento das massas), ele levou a tensão até seu esgotamento e anunciou
Mother. Durante a música, ele ia enfatizando versos com uma expressão facial de
advertência. “Mãe, será que eu devo concorrer para presidente?”, e fazia um
esgar com a boca. “Mamãe vai fazer todos os pesadelos se tornarem realidade”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ao sair de cena, após <i>Comfortably Numb</i>, de novo Roger Waters
colocou a tag #EleNão no telão. Já refeitos dos confrontos, os antifascistas da
plateia ironizavam o público bolsonarista. “Não teria sido melhor terem ido no show
do Zezé di Camargo?”, brincava um gaiato. Muitos fãs na pista VIP, que custava
R$ 810, usavam camisetas do Pink Floyd (um até tinha uma camiseta número 12 com
o nome de Syd Barrett às costas) e mostravam fúria desmesurada em relação ao
ídolo, como se alguém tivesse olhado dentro deles, do que carregam de mais
íntimo dentro de si. A participação do coral de crianças em <i>Another Brick in the Wall</i> foi inebriante, a alegria dos garotos era tamanha em estar ali que Roger até se emocionou.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Poucos, entretanto, falavam mal do som na saída. Roger
Waters fez um dos shows mais orgânicos de suas turnês recentes. Na época em que
trouxe ao Brasil o show <i>The Wall</i>, em 2012, ele tocava muito pouco, cantava
muito pouco e havia mais eletrônica do que instrumento na execução. Dessa vez
ele soltou a banda, deixou que saísse do script, alguns solos foram menos
xiitas em relação ao som gravado. O show perdia um pouco o pique quando
entravam as canções novas, como <i>Déjà Vu</i> e <i>Last Refugee</i>, mas era irretocável em
clássicos como <i>The Great Gig in the Sky</i>, com o habitual tour de force das suas vocalistas ao estilo replicante de <i>Blade Runner</i>. Os efeitos do prisma de luz durante
<i>Eclipse</i> tinham até a capacidade de invadir as almas conflagradas de parte da plateia
e reorientá-las, fazê-las voltar a acreditar no conceito de liberdade absoluta
do artista. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Waters volta logo mais ao Allianz Parque para o último show
em São Paulo. A caminho do Uber, jovens fãs amantes da democracia demonstravam preocupação com ele do lado de fora do estádio, mas esse não é o tipo do artista que cultiva a palavra medo. Daqui, ele vai a Brasília, ao Estádio Mané Garrincha, no dia 13; a Salvador, na Arena Fonte Nova, no dia 17; a Belo Horizonte, no Mineirão, no
dia 21; ao Rio de Janeiro, no Maracanã, no dia 24; a Curitiba, no Couto
Pereira, no dia 27; e a Porto Alegre, no Beira Rio, no dia 30.</div>
<br />el pájaro que come piedrahttp://www.blogger.com/profile/02706901433920414654noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3946663158434977487.post-8585449725522797512018-10-06T13:21:00.001-07:002018-10-06T13:21:16.379-07:00TOMORROW NEVER KNOWS<br />
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgT6oG1n76YThbsodY9PoG3_8liVLJYGpIu7fTcgr7zECFrgBfwCipBNcGC0ucbiJ6Qp-k6GDN652EXWwMZMnYKTTc8Eqm3wtF8qCm6-DaE1cQ7JqEgwOv73FvVflFjplvwjEZQNDnxG6ur/s1600/A-P.GeoffEmerick+%252836+de+49%2529+%25281%2529.jpg" imageanchor="1"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgT6oG1n76YThbsodY9PoG3_8liVLJYGpIu7fTcgr7zECFrgBfwCipBNcGC0ucbiJ6Qp-k6GDN652EXWwMZMnYKTTc8Eqm3wtF8qCm6-DaE1cQ7JqEgwOv73FvVflFjplvwjEZQNDnxG6ur/s640/A-P.GeoffEmerick+%252836+de+49%2529+%25281%2529.jpg" width="640" /></a><br />
<br />
<i>O engenheiro de som Geoff Emerick, em junho, conversando com admiradores em Porto Alegre durante simpósio de que participou; Emerick morreu essa semana</i><br />
<br />
<br />
<br />
<div class="MsoNormal">
Quando tinha 19 anos, Geoff Emerick esteve ao lado dos
Beatles, como engenheiro de som, em três discos fundamentais da História da
música pop: Revolver (1966), Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club
Band (1967) e Abbey Road (1969). Mais do que isso: as soluções
heterodoxas que propôs para algumas canções, especialmente <i>Tomorrow Never Knows</i>
e <i>A day in the life</i>, criaram bases referenciais para muito do que se fez
posteriormente.<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A função de Emerick era justamente burlar as regras. “Geoff
Emerick fazia truques para os Beatles e ficava com medo que alguém
descobrisse”, disse George Martin. “Naquela época os engenheiros não podiam
ficar brincando com os microfones e loucuras do gênero. Mas ele fazia coisas
bem estranhas e que eram ligeiramente contra as regras, com o nosso apoio e
aprovação”. Emerick veio ao Brasil em junho, para participar de master
classes em Porto Alegre a convite da Audio Porto, empresa de inovação e
tecnologia. Ele conversou comigo para a CartaCapital no dia 12 de junho. Emerick morreu
no último dia 2, de um ataque cardíaco.</div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<b>É verdade a história de que o disco <i>Abbey Road</i> quase se
chamou Everest por causa dos seus cigarros?</b></div>
<div class="MsoNormal">
Então, era a marca do cigarro que eu fumava. Foi quando eles
decidiram chamar o disco de <i>Everest</i>... Ringo tinha essa visão de que estava no
alto do Monte Everest, onde ele nunca estivera. Quando viajava, Ringo levava
comida embalada em uma marmita, para não ficar à mercê dos produtos locais. Mas
fazer a foto da capa do disco no alto do Everest significava uma longa viagem, nem
ele nem ninguém queria ir tão longe. Aí, acabaram escolhendo um lugar mais
próximo, Abbey Road, porque a foto seria muito mais fácil de ser realizada. No
final, foi uma boa escolha.</div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<b><i>Tomorrow never knows</i> estava muito à frente de seu tempo.
Muita gente diz que influenciou gêneros como jungle, drum’n’bass, Você
concorda?</b></div>
<div class="MsoNormal">
Concordo. Porque eles queriam mudar o jeito que gravar a voz.
Como sabemos, os alto-falantes Leslie eram usados para os vocais;<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a guitarra de Harrison, o tamborim de Ringo e
o baixo de Paul McCartney eram muito marcantes, e para colocar a voz de um
jeito igualmente distinto precisava de uma solução. O alto-falante Leslie
permitia mudar a rotação da voz, criar um som de vibrato intermitente. Foi uma
revolução na maneira como a música passou a ser gravada.</div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<b>Você trabalhou com os Beatles, os maiores. Como viu artistas que vieram depois,
gente como Amy Winehouse ou Justin Timberlake.</b></div>
<div class="MsoNormal">
Amy Winehouse foi extremamente talentosa, assim como Justin.
Eu amo artistas do mundo real. O que não concordo é com artistas criados pela
tecnologia e controlados por ela. Amy é uma grande artista, assim como Justin.
São genuínos, claro que são.<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Os sons psicodélicos dos Beatles foram criados, grande parte
deles, sob o efeito de drogas, como o LSD. O sr. era muito jovem, como se
situava nesse mundo?</b></div>
<div class="MsoNormal">
Nós nunca tivemos que lidar com esse problema. Nós sabíamos
que, se fôssemos usar substâncias, teríamos que fazer isso antes ou depois das
sessões. Porque, quando entrávamos nas sessões, tínhamos que trabalhar tão duro
quanto qualquer outro artista, íamos até 3 horas da manhã trabalhando. Não
havia uma restrição, mas todos eram sérios. Certamente, usavam muitas
substâncias no processo criativo. Mas nunca no estúdio. George Martin não
usava, era de outra geração. </div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<b>Contam que, para entrar nos estúdios Abbey Road, só na
estica, com sapatos muito engraxados e ternos. É verdade?</b></div>
<div class="MsoNormal">
Sim. Os engenheiros assistentes éramos obrigados. Havia
muitas gravações de música clássica nos estúdios, muitos artistas desse
universo. Tínhamos que mostrar que nos preocupávamos com a aparência,
demonstrar respeito. Os técnicos usavam guarda-pós brancos como os de
farmacêuticos. Nada de tecido xadrez.<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Quais são as suas quatro canções favoritas dos Beatles?</b></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-GB" style="mso-ansi-language: EN-GB;"><i>Tomorrow
never knows</i> (do disco <i>Revolver</i>, de1966), <i>And your bird can sing</i> (<i>Revolver</i>, 1966),
<i>Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band</i> (<i>Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, 1967</i>)
e, claro, <i>A day in the life</i> (<i>Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band</i>).<o:p></o:p></span></div>
<br />el pájaro que come piedrahttp://www.blogger.com/profile/02706901433920414654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3946663158434977487.post-88206493314155751802018-09-14T09:32:00.000-07:002018-09-14T09:32:05.281-07:00UMA TARDE NO MUSEU<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLNdnySOTRFTlPHxF9ohnh2p_KEaYXAlo7qFOdS3rwjrTvSHdMlWQRHmGiAs1TyQfMAmZ6Y-GSuJaByX3mI42BpseTDBNnBctTaosv5lPCIM5I4IIT5FsdJeqDDLbyRujU544bjGOG5iSu/s1600/IMG_8522.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1067" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLNdnySOTRFTlPHxF9ohnh2p_KEaYXAlo7qFOdS3rwjrTvSHdMlWQRHmGiAs1TyQfMAmZ6Y-GSuJaByX3mI42BpseTDBNnBctTaosv5lPCIM5I4IIT5FsdJeqDDLbyRujU544bjGOG5iSu/s640/IMG_8522.JPG" width="426" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXJAEaAt1jLNx1kC2C4QYYW9lz4jj6asoM1o9e0kYL6LE9eluT605JmFV_qmKBqBm788hAO2DdSNvwk1uRIBVa3CC1H7aXATWhYAa2uuRS_D_DyUrIKc45ShFjn6dW7JqIoVJ4seRr1lAb/s1600/IMG_8519.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXJAEaAt1jLNx1kC2C4QYYW9lz4jj6asoM1o9e0kYL6LE9eluT605JmFV_qmKBqBm788hAO2DdSNvwk1uRIBVa3CC1H7aXATWhYAa2uuRS_D_DyUrIKc45ShFjn6dW7JqIoVJ4seRr1lAb/s640/IMG_8519.JPG" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSx68WI1COHXoaVD5jLJ40_pQDtxQd5FpvJb9XJ5hw0YDYsIr23UomMOdT3864yv8BnUReYVjv-oZvFZgOjoski5Ec18P7cuFP7CakdiVgZFffCXOE0SwSYg-QWHiyPhxn_MAErUMW_psZ/s1600/IMG_8535.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSx68WI1COHXoaVD5jLJ40_pQDtxQd5FpvJb9XJ5hw0YDYsIr23UomMOdT3864yv8BnUReYVjv-oZvFZgOjoski5Ec18P7cuFP7CakdiVgZFffCXOE0SwSYg-QWHiyPhxn_MAErUMW_psZ/s640/IMG_8535.JPG" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdDOPIeFp2KeHQRVZcIoFG6s8qipuLqmtYtj8pwd2ci2_xpZ63crcP64FeX6AraSCjWB1EtLgxq-CVVU1mlBvAT_qKH-77W1n_wSKIO3YoIqYzlzUmQQbk8uGYlTPpUMLqDenxQTvxj4QT/s1600/IMG_8506.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdDOPIeFp2KeHQRVZcIoFG6s8qipuLqmtYtj8pwd2ci2_xpZ63crcP64FeX6AraSCjWB1EtLgxq-CVVU1mlBvAT_qKH-77W1n_wSKIO3YoIqYzlzUmQQbk8uGYlTPpUMLqDenxQTvxj4QT/s640/IMG_8506.JPG" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwdCbjbdfb0qW4pcqy4X-x0uk_5NVI-_CoqeyvoWjCc_QMjny2jjUFWOJGIlPVNvTyxOQrXZj83ucoE7okSeFUa3blZ3m4iz6BhUzPEofIm5F_g03TVaRkx4RuiHSOebaerIV826k4tihx/s1600/IMG_8529.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwdCbjbdfb0qW4pcqy4X-x0uk_5NVI-_CoqeyvoWjCc_QMjny2jjUFWOJGIlPVNvTyxOQrXZj83ucoE7okSeFUa3blZ3m4iz6BhUzPEofIm5F_g03TVaRkx4RuiHSOebaerIV826k4tihx/s640/IMG_8529.JPG" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNV-FSntRZAEqFBYjWApQfO4miz5wcNo-LPgC8kcM0gdDxCxbiGRxi3lBdUiEgcbDLnoqW7mLlyygh2iE7vEe17n9zZ2egyoXv4xMTRE7YnKS-q28cwNTIq3WnZvQAiuC7q_AfJ0XUGqzM/s1600/IMG_8509.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNV-FSntRZAEqFBYjWApQfO4miz5wcNo-LPgC8kcM0gdDxCxbiGRxi3lBdUiEgcbDLnoqW7mLlyygh2iE7vEe17n9zZ2egyoXv4xMTRE7YnKS-q28cwNTIq3WnZvQAiuC7q_AfJ0XUGqzM/s640/IMG_8509.JPG" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgD4NyffNa9RhYhIi21Pqy0PWVqbC2jYvoLe7KJT41xwHPVq56E3ib1jYEtUvbFIORirh53TYraXT3vH5Aw2K3_LJWcQkRmGVuyf0Er2t48RZBSIMokKfGo215TDVc3bQGaUHRH-R4_Ws1Y/s1600/IMG_8511.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgD4NyffNa9RhYhIi21Pqy0PWVqbC2jYvoLe7KJT41xwHPVq56E3ib1jYEtUvbFIORirh53TYraXT3vH5Aw2K3_LJWcQkRmGVuyf0Er2t48RZBSIMokKfGo215TDVc3bQGaUHRH-R4_Ws1Y/s640/IMG_8511.JPG" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmiWQqRPNOqhcF20mGuHGZTaUryviWh96KLDmlp5FZs425_FkUZN7ttBPPK_SNKxOjN35JLVRa1khCgIaLdXn-8d4Sg2_-TL64oCMcevaf7nS0ASt3SSEm3dI168VQ1jb7Mqsq5mXiTvQI/s1600/IMG_8532.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmiWQqRPNOqhcF20mGuHGZTaUryviWh96KLDmlp5FZs425_FkUZN7ttBPPK_SNKxOjN35JLVRa1khCgIaLdXn-8d4Sg2_-TL64oCMcevaf7nS0ASt3SSEm3dI168VQ1jb7Mqsq5mXiTvQI/s640/IMG_8532.JPG" width="640" /></a></div>
<br />el pájaro que come piedrahttp://www.blogger.com/profile/02706901433920414654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3946663158434977487.post-14075510627163059722018-09-02T17:31:00.000-07:002018-09-02T17:58:37.165-07:00QUEM MATOU O MUSEU?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFpt8trMQb_IZWe4hAgaWurMPSTuNmsfbt1SnSHUFA1tT2fELpdxdNy9226rhiNwVnbTADHLCiSlEuSmVuuRsvk5I_Vd5gqhMHshfO_2qAjzhMNQQUR6aka1euapSmusTWV_P8ogIJ-qdv/s1600/mnqbv.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="675" data-original-width="1200" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFpt8trMQb_IZWe4hAgaWurMPSTuNmsfbt1SnSHUFA1tT2fELpdxdNy9226rhiNwVnbTADHLCiSlEuSmVuuRsvk5I_Vd5gqhMHshfO_2qAjzhMNQQUR6aka1euapSmusTWV_P8ogIJ-qdv/s640/mnqbv.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<div class="MsoNormal">
<o:p> </o:p>A destruição do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, em
São Cristóvão, Zona Norte do Rio de Janeiro, é uma tragédia anunciada. Sua
articulação começou com a interrupção, pelo governo Temer, de diversos
programas de apoio à museologia federal nos últimos dois anos. Vários programas
tiveram descontinuidade e foram cortados cerca de 60% dos recursos pelo
Ministério da Educação (MEC|) e pela UFRJ, a quem cabia a gestão do museu.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Entre os programas cortados, estava o de prevenção de
riscos. Como as universidades federais foram algumas das instituições mais penalizadas pela gestão Temer, o desmonte respingou nos museus.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Na área museológica, o maior responsável por essa falta de
políticas consistentes pediu demissão na semana passada, marcando a data do dia
30 de setembro para o desligamento definitivo. Marcelo Araújo demitiu-se do
cargo de presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), ligado ao
Ministério da Cultura, para assumir outra função num museu paulista -
especula-se que seu destino seja o Museu de Arte de São Paulo (Masp).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Marcelo Araújo divulgou na semana passada a seguinte
mensagem:</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Colegas do IBRAM, </div>
<div class="MsoNormal">
Apresentei hoje ao Ministro da Cultura meu pedido de
exoneração do cargo de Presidente do IBRAM a partir de 30 de setembro próximo.
Esta decisão foi tomada em virtude de convite para assumir a direção de
instituição cultural em São Paulo. Gostaria de agradecer a toda(o)s vocês,
calorosamente, pela convivência, parceria e apoio que tive o privilégio de
receber ao longo desses últimos dois anos à frente do IBRAM, quando
conseguimos, conjuntamente, tantas realizações exitosas. Para mim foi uma
experiência, profissional e pessoal, marcante, além de aprendizado profundo.
Espero poder continuar contando com a amizade de toda(o)s, e a expectativa de
muitas outras ações conjuntas no futuro. Muito obrigado a cada um(a) de vocês !
Viva o IBRAM!”.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Durante a gestão de Araújo, não se conseguiu fazer concurso
para fortalecer os museus federais e houve uma diminuição das ações de
financiamento, o que acarreta interrupção de investimentos nos serviços
básicos. Recentemente, fez uma vaquinha para reabrir a Sala dos Dinossauros (um absurdo, considerando-se que toda sua manutenção custava apenas R$ 520 mil por ano). Ao Ibram cumpria a supervisão do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista - por sinal, um dos seminários organizados esse ano pelo Ibram foi sobre o tema do Museu Nacional.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O Museu Nacional da Quinta da Boa Vista é uma instituição
fundada por D. João VI e tem mais de 200 anos de história. Possuía mais de 20
milhões de itens. A brincadeira golpista saiu caro - mas tão caro, que nossos netos e
bisnetos ainda não terão claro o preço da fatura.</div>
<br />el pájaro que come piedrahttp://www.blogger.com/profile/02706901433920414654noreply@blogger.com14tag:blogger.com,1999:blog-3946663158434977487.post-35489735745464430012018-09-02T14:37:00.001-07:002018-09-02T17:52:22.653-07:00VOADORA NA PLEURA<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCFAl53iGCggWlwyCplgmBPwFgkjadQ-RfUPuaXQ5ufJ7gQRq4sukuHIVMChLRinzYekVNEYs-QKrlFhWqyJayQIzhyphenhyphenFOpMPm3UYyV5ZSe5ZwARVCB1atS-C8ogFa2wHLC_-Gio93MaX3v/s1600/IMG-20180831-WA0008.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="1280" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCFAl53iGCggWlwyCplgmBPwFgkjadQ-RfUPuaXQ5ufJ7gQRq4sukuHIVMChLRinzYekVNEYs-QKrlFhWqyJayQIzhyphenhyphenFOpMPm3UYyV5ZSe5ZwARVCB1atS-C8ogFa2wHLC_-Gio93MaX3v/s400/IMG-20180831-WA0008.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Com o grande Ednardo, no Cantinho do Frango, em Fortaleza, na sexta</i></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Vou contar como foram as últimas 24 horas da minha vida
porque, juro por Deus, nunca tinha acontecido tanta coisa num período de tempo tão
curto.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Cheguei ao Ceará às 12h30 e Dalwton Moura, cantor, produtor,
compositor, violonista e cronista foi me buscar no aeroporto. Tinha me
perguntado o que gostaria de comer na chegada a Fortaleza e especulou sobre
duas opções que pareceriam inegociáveis para qualquer turista: peixes e frutos
do mar. Mas eu disse, com sinceridade, que sonhava com carne de sol e macaxeira.
Ele sentenciou: “Então, só tem um lugar: Cantinho do Frango”.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Apenas quinze minutos no Cantinho do Frango e parecia que eu
já era amigo de décadas de Caio Napoleão, o dono do negócio, que me foi
apresentado já na entrada. Caio ama a música de um jeito radical, tipo o amor
que o Richard Gere tem pela música de Jerry Lee Lewis em <i>Breathless</i>. Entre
todas suas paixões, pontifica a que dedica a Rodger Rogério, um dos mais
notáveis capitães de areia do Pessoal do Ceará. Possui por ali, nas estantes do local, mais de 3 mil discos de artistas do Ceará. Por causa disso, o restaurante estabeleceu
uma hierarquização de pôsteres de artistas lendários em suas paredes seguindo a
seguinte ordem: Rodger Rogério, Miles Davis, Jimi Hendrix, Mick Jagger. Rodger Rogério é Deus
no Cantinho do Frango. Eric Clapton é semideus.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Apenas outros vinte minutos no Cantinho do Frango e eis que dirige-se
à minha mesa um homem de boina magro que caminha de um jeito balnear, como se levitasse
sobre água. Era Ednardo, o lendário artista que legou à história da música o
disco <i>O Romance do Pavão Mysteriozo</i>, em 1974. Ednardo vinha com a filha, a
atriz e cantora Joana Limaverde. Demorou uns minutos para Ednardo me reconhecer e aí eu
lhe dei um abraço de fã, de profundo agradecimento por toda lealdade quando eu
escrevia <i>Apenas um Rapaz Latino-Americano</i>. Sentou-se do meu lado e pediu vinho
tinto, enquanto eu tomava uma sucessão das batidas de cachaça de Caio Napoleão:
Alucinação, Mucuripe e a imponderável Voadora na Pleura (vodca, tangerina, abacaxi e melaço de cana).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Seguimos ali falando de canções, da suavidade de Rodger
Rogério, da misteriosa saga de Belchior, dos parceiros todos dessa turma.
Ednardo foi ficando e só saiu dali porque tinha um encontro com o governador e
não podia mesmo ficar mais. Foi então que sentou-se à nossa mesa outra figura
magnífica: Yuri Kalil, produtor de uns 60% da nova cena da música brasileira
que pontificou a partir de 2001, 2002: Marcelo Jeneci, Céu, Thiago Pethit, Otto.
Kalil morou durante muitos anos em São Paulo, quando montou aqui o Totem
Estúdio. Também é o baterista da banda Cidadão Instigado.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
De volta a Fortaleza, Kalil instalou-se num prédio histórico no
centro da cidade, o Edifício Dona Bela, da década de 1950, o primeiro condomínio
residencial de Fortaleza. Ali segue produzindo a nata da música, naquele ambiente meio Bleecker Street. No andar de
baixo do seu estúdio, vive o músico Fernando Catatau, que toca com Kalil no Cidadão
Instigado e co-produziu, entre outros, o lindo disco <i>Afastamento</i>, de Juliano Gauche. Na esquina da casa de Kalil fica um lugar do qual escapam luzes
hipnóticas. É o Salão das Ilusões, na Rua Coronel Ferraz, 80. Ali é um ponto
luminoso de performances, debates, exibições de vídeos de dança, intervenções e
improvisações artísticas.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Caio, que tinha abandonado o restaurante para nos seguir
Fortaleza adentro, levou dois engradados de Heineken do Cantinho do Frango e
nós entramos no estúdio para ouvir discos e tomar cerveja, não necessariamente
nessa ordem. Ouvimos inteirinho o álbum <i>Praia Futuro</i>, um disco de supergrupo
que reuniu em 2017, além de Kalil, o saxofonista e compositor sueco turco Ilhan
Ersahin; Dengue, da Nação Zumbi; e Fernando Catatau e Kalil, do Cidadão Instigado.
Ilhan Ersahin é fundador do Nublu, o clube e gravadora independente de Nova
York (e, posteriormente, festival de jazz que alcançou já o Brasil há um tempo).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ganhei o vinil de <i>Praia Futuro</i>, que é lindo e quase ninguém
conhece. Ali mesmo no estúdio Totem, em Fortaleza, cuja antesala é o estúdio de
dança de Lenna Beauty (mulher de Kalil) e as sombras das bailarinas ficam recortadas na janela enquanto o Kalil
grava, o quarteto Praia Futuro trabalhou em imersão durante dois dias, fazendo
uma jam memorável com temas improváveis como <i>Roberto Carlos</i>.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Aí então apareceu Gabriel <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Aragão, vocalista do grupo Selvagens à Procura
de Lei, uma banda de garotos de Fortaleza que ganhou o Brasil nos últimos
tempos, fazendo shows para até 10 mil pessoas. Tocou em março no Lollapalooza,
em São Paulo, e também tocou em Moscou durante a Copa do Mundo. Ele veio
colocar a voz numa faixa e depois dividiu uma cerveja com a gente.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Estava caindo a noite, chegava a hora de ir para o Theatro
José de Alencar, para o show Futuro & Memória, aglutinação de intérpretes
raros da música cearense para o batismo de uma série de canções da dupla
Rogério Franco e Dalwton Moura, meu anfitrião na jornada. Eudes Fraga, Kátia
Freitas, Rodger e Téti: quanto talento cabe numa única parabólica do mundo?</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mas, antes ainda do Theatro José de Alencar, Caio e Kalil me
convidaram para sair caminhando pelo centro para conhecer o Lions, um bar que
tem feito história na Praça dos Leões, com suas festas e o cenário de quase memória. Lembra muito
o Chico Discos de São Luís, mas é menos cifrado que o maranhense, mais aberto.
Ali, encontramos e dividimos cerveja com uma dezena de militantes que vinham do
comício de Fernando Haddad na cidade, e debatemos suavemente política e
reconquista democrática.</div>
<div class="MsoNormal">
No Theatro José de Alencar, encontrei <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Gildomar Marinho e a poeta Shirlene Holanda,
que me ciceronearam pelas canções da noite. Em pleno show, a filha criança de Calé
Alencar subiu ao palco enquanto ele cantava, pegou o seu triângulo e ajudou na
percussão.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Eu ainda diria mais, mas a Voadora na Pleura tinha me
derrubado de tal modo que quando finalmente dei entrada no Hotel Americas, logo
após o show, eu desabei (mal tive tempo de dizer para o Careca no whatsapp que
eu tinha tomado uma com o Ednardo).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Acordei no dia seguinte e fui ao Mercado Central para
comprar alpercatas. Ali onde nada pareceria me ser apresentado de renovador eu
ainda tomei conhecimento de um artista excepcional: Diógenes Alencar, que molda
caricaturas de artistas no barro, como Zé Ramalho e Chico Anysio. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ali no mercado eu me
perdi do meu celular, mas antes disso combinei com Dalwton de ele me levar para
Pax Lachaise, como eu tava chamando o cemitério Parque da Paz, para fazer um
brinde a Antonio Carlos Belchior em frente a sua lápide. Esqueci só do vinho,
então fizemos um brinde com suco de uva e copo de plástico e cantamos <i>Todo Sujo
de Batom</i> no túmulo do Bigode. Dalwton fez uma foto minha colocando uma rosa na
lápide, mas por algum motivo a foto não saiu e nós brincamos: “Mais uma do Bel!”.
</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
De volta ao Cantinho do Frango, em busca de uma despedida
suave da Voadora na Pleura, encontro já na beira da churrasqueira os garçons e DJs Marquinhos e
Barry White, sempre com uma façanha nova para contar. De repente, dou de cara
com Jorge Mello, notável frontman da música cearense, que faria show à noite no
restaurante. Morremos de rir dos apelidos infames da MPB que descobrimos ali
com o pessoal <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>(Nasceu Valença e Morrerás
Moreira, entre outros menos citáveis).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Conosco estava o guitarrista, compositor, arranjador e
diretor musical Mimi Rocha, que tocou com Belchior, Ednardo e outros e é
fiel escudeiro de Fagner. Mimi Rocha contou grandes histórias sobre Terry
Winter, Michael Sullivan, Ralf Richardson e outros brasileiros que gravaram em
inglês nos anos 1970. Mimi estava deixando a barba crescer apenas para poder ser navalhado no domingo durante a inauguração da barbearia que Caio Napoleão inaugurou no coração do
seu restaurante, com aquelas cadeiras vintage de barbeiro. </div>
<div class="MsoNormal" style="background: white;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white;">
Súbito, mais duas surpresas:
sentam-se nas cadeiras da barbearia, espécie de lounge do restaurante, o
compositor, cantor e arquiteto Fausto Nilo e o colega Zé Renato (do não menos
mitológico grupo Boca Livre, em turnê pela cidade). Dou um abraço no Fausto, um
desses prodígios brasileiros que mais alegraram o espírito nacional. Ele
compôs, por exemplo, <i>Bloco do Prazer</i> e <i>Meninas do Brasil</i>, com Moraes Moreira;
compôs <i>Zanzibar</i>, com Armandinho; compôs <i>Tudo com você</i>, com Lulu Santos;
<i>Paroara</i>, com Chico Buarque e Fagner; <i>Amor nas estrelas</i>, com Roberto de Carvalho.</div>
<div class="MsoNormal">
“Teve um momento, nos anos 1970, que você ligava o dial do
rádio e em quase todas as estações encontrava uma música do Fausto Nilo tocando”, disse
Mimi Rocha.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Teve mais gente nessa levada. O rapper paulista Dexter
baixou na casa para um frango assado e veio nos abraçar. Fiquei conhecendo as
histórias fabulosas do mito Chico Pio, músico e compositor talentoso da
segunda leva do Pessoal do Ceará que, quem sabe, talvez tenha sido subestimado
pela História. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O poeta Ricardo Kelmer ainda apareceu para me contar que
está organizando o GEBEL (Grupo de Estudos de Belchior) para debater as canções
e o legado do bardo do bigode. Gente de Sobral, gente de Quixeramobim, da Vila
Madalena, de Pinheiros, do Leblon: o País vibrava ali naquelas 24 horas de
Fortaleza. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Talvez eu esteja enganado, mas ainda não conheci um
restaurante com tanta alma quando o Cantinho do Frango de Fortaleza.</div>
<br />el pájaro que come piedrahttp://www.blogger.com/profile/02706901433920414654noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-3946663158434977487.post-75728171753548502512018-08-16T11:15:00.002-07:002018-09-16T16:39:22.561-07:00TINHA AS CHAVES DO PARAÍSO NA GARGANTA<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDY9uES7R6YKvE3qvmNoqk5hYx4U7BnGzZemZKKS4tEDTvhixhMfFV50G6jjdu95EEvzQ3yadezOOQyzIhYQTofH4jwJnbUOSzat-cDXV16bYgMXIgmGLJrWnuC87i2g6kbUBgd79qmOra/s1600/aretha.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="818" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDY9uES7R6YKvE3qvmNoqk5hYx4U7BnGzZemZKKS4tEDTvhixhMfFV50G6jjdu95EEvzQ3yadezOOQyzIhYQTofH4jwJnbUOSzat-cDXV16bYgMXIgmGLJrWnuC87i2g6kbUBgd79qmOra/s640/aretha.jpg" width="435" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Ela tinha cantado para reis e presidentes. Fez duetos com
Freddie Mercury, Luciano Pavarotti e Ray Charles. Cantou no funeral de Martin
Luther King. Ela inspirou cantoras de diversas gerações, de Gladys Knight, Martha
Reeves, Sharon Jones e Patti LaBelle nos anos 1960 e 1970; <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Whitney Houston e Mariah Carey nos anos 80s e 90; a Tia Carroll, Jill Scott, Joss Stone e Rihanna no século 21. Foi cruel com
Dionne Warwick e com outras que a veneravam, sabia ser arrogante e má.</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Daí, quando a vi entrar no palco pela primeira vez na minha vida,
com um vestido vermelho de dimensões continentais, no palco do Madison Square
Garden, em Nova York, na noite do dia 30 de outubro de 2009, parecia que não
era uma pessoa que eu via, mas um espírito de cinema, uma aparição holográfica
de <i>Ghost</i>. Não tinha fé o suficiente para enxergá-la, mas ainda assim a via como
se estivesse envolta numa névoa vermelha.</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span lang="EN-GB" style="mso-ansi-language: EN-GB;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span lang="EN-GB" style="mso-ansi-language: EN-GB;">Naquela
noite, ela cantou <i>Make Them Hear You, Don’t Play that Song, Baby I
Love you, New York New York</i> e <i>Respect</i>. </span>Aquele set seria toda a
participação dela na festa do Hall of Fame do Rock’n’Roll, frente a 20 mil
pessoas. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O taxista australiano que me
levou para o hotel após o show quase chorou quando eu disse que tinha ouvido
Aretha cantar.</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Toda minha vida como jornalista de música eu tinha ouvido
as alegações dos empresários do showbiz sobre os motivos de ela nunca ter vindo
ao Brasil. “Aretha não considera as poltronas dos aviões capazes de acomodá-la”,
disse um. “Aretha assina o contrato, mas depois não vem, cancela. É arriscado
demais”, explicou outro.</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Depois daquela versão de <i>New York, New York</i>, nunca mais
consegui ouvir Sinatra da mesma forma. Porque Aretha tingia as canções de uma
sacralidade diferente, tinha de fato as chaves do Paraíso em sua garganta. A
raiz das tradições gospel nunca deixou de ser a marca registrada de suas
interpretações, e isso vinha lá do pai pastor Batista em Detroit, de certa forma
seu primeiro agente e produtor artístico. Os sermões do pai dela foram lançados
em disco pela Chess Records e sua casa era frequentada por gente como Nat King
Cole, Art Tatum, Dinah Washington e outros.</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Criança prodígio que se tornaria mãe ainda adolescente, ela já
surgiu sendo apontada como sucessora de Mahalia Jackson e Clara Ward. Foi muito
além: pode ser considerada uma descendente direta da saga agoniada e ao mesmo
tempo emancipatória de Billie Holiday, Dinah Washington e Bessie Smith. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quando escreveu sua autobiografia, <i>Aretha: From these Roots (com David Ritz)</i>, que não é
de jeito algum confiável, não foi surpresa quando Aretha deixou ali seu manifesto: <i style="mso-bidi-font-style: normal;"> "I’m Aretha, upbeat, straight-ahead,
and not to be worn out by men and left singing the blues".</i> ("Sou Aretha, otimista, direta, e não para ser esvaziada por homens e largada cantando o blues". Provavelmente só
Nina Simone encarnou com tanta propriedade o orgulho da condição feminina. “Ela
sabe mais do que nós sobre tantos e tantos aspectos da experiência humana”,
disse de Aretha o <i>New York Times</i> em artigo famoso de 1973.</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Sempre que ouço as diatribes sobre o estrelismo de Aretha, parece que calha de vir à memória uma história que a Sharon Jones me contou de quando começaram a fechar as portas das gravadoras para ela, nos anos 1970, o que a levou a trabalhar como carcereira durante anos. Os executivos diziam: "Muito baixinha, muito preta, muito feia".</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Foi o pai de Aretha quem a encaminhou para uma seara diferente, para
a assimetria do pop e do jazz. Ele seguiu o atalho bem-sucedido de Sam Cooke para
o pop e impediu que a filha seguisse o caminho da Motown, como era o caminho de
sua época, para buscar um contrato com uma conpanhia internacional. Aos 18
anos, assinou contrato com a Columbia Records. Seis anos mais tarde, sem hits
ainda, mudou-se para a Atlantic Records, bunker que impulsionaria de fato sua
fama mundial, especialmente após ela ter gravado <i>Respect</i>. A canção, de 1967, originalmente
gravada por Otis Redding, materializava um sentimento de liberdade que ressoava
livremente naquele momento-chave da luta pelos direitos civis. Virou um passe
livre de transversalidade na voz de Aretha, um manto de proteção da
afroamericanidade, do empoderamento feminino. “Sua rendição de <i>Respect</i> lançou
uma revolução”, disse Otis Redding sobre sua gravação.</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Quase 50 discos gravados, 150 singles, incontáveis
performances em megaeventos esportivos e políticos. Há coisas formidáveis na
sua discografia e outras nem tanto. Mas é possível pinçar de cara, para uma
introdução definitiva, o mais influente de seus discos: <i>I Never Loved a
Man (the Way I Love You)</i>, seu 10º disco de estúdio, gravado há 51 anos em
apenas duas horas com três músicos brancos (grande ponto de controvérsia na
história da gravação, de tensão racial) nos lendários estúdios Muscle Shoals
(onde Wilson Pickett tinha gravado), e que se tornou um marco divisor na história do rythmn’n’blues.</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>O produtor desse álbum, Jerry Wexler, escreveu que a angústia
cercava Aretha Franklin da mesma forma que a glória de sua aura musical. “Seus
olhos são incríveis, olhos luminosos encobrindo uma dor inexplicável. Suas
depressões podem ser tão profundas quanto o mar negro”.</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Sam Cooke, Ahmet Ertegun, Luther Vandross, Smokey Robinson,
Marvin Gaye: a vida pessoal de Aretha Louise Franklin cruza com quase todas as
terminações nervosas da música de nosso tempo. Um câncer no pâncreas a levou hoje, aos 76 anos, e eu vi no Twitter do Brian Wilson que ele escreveu: "Ela foi uma das maiores e mais emocionais cantoras. Eu costumava ouvi-la nos anos 1960, mas sua música é atemporal". </b></div>
<br />el pájaro que come piedrahttp://www.blogger.com/profile/02706901433920414654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3946663158434977487.post-9654170824183899512018-08-15T06:09:00.000-07:002018-11-11T08:08:30.828-08:00O POVO NO TEATRO<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSCQ8BZ_buk_AMhld4EAZCKHtshL8_gxnPb78A0-zJ-VIKj5Wj7XUmWpmetkHu0g1frKcrLjFiMPPzA-BP-W4T0-4K7tpCCzqOmswOdX9A3K_g6hqpDvJXpOwI6DlJ6hw0MSik5u342N8X/s1600/fota%25C3%25A7a.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="480" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSCQ8BZ_buk_AMhld4EAZCKHtshL8_gxnPb78A0-zJ-VIKj5Wj7XUmWpmetkHu0g1frKcrLjFiMPPzA-BP-W4T0-4K7tpCCzqOmswOdX9A3K_g6hqpDvJXpOwI6DlJ6hw0MSik5u342N8X/s640/fota%25C3%25A7a.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="background-color: white; box-sizing: inherit; color: #333333; font-family: FolhaTexto, Georgia, serif; font-size: 20px; margin-bottom: 1rem;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; box-sizing: inherit; color: #333333; font-family: FolhaTexto, Georgia, serif; font-size: 20px; margin-bottom: 1rem;">
<i>fotografia: sergio silva</i></div>
<div style="background-color: white; box-sizing: inherit; color: #333333; font-family: FolhaTexto, Georgia, serif; font-size: 20px; margin-bottom: 1rem;">
<br /></div>
<h3 style="background-color: white; box-sizing: inherit; color: #333333; font-family: FolhaTexto, Georgia, serif; font-size: 20px; margin-bottom: 1rem;">
Às 23h30 do dia 18 de julho de 1968, na sala O Galpão, do Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, assim que terminou a apresentação da peça <i>Roda Viva</i>, os atores foram surpreendidos por um ataque brutal e covarde. Integrantes do Comando de Caça aos Comunistas (CCC) começaram a bater nos atores e na equipe do espetáculo. Cerca de 90 homens, armados com cassetetes, facas, bombas de gás, dois revólveres e socos-ingleses, agiram dentro do teatro, e 20 ficaram fora. Espancaram as atrizes Marilia Pera, Jura Otero, Eudoxia Acuña, Margot Bird (Walkiria Mamberti estava grávida e berrava isso aos agressores), tiraram suas roupas, tocaram seus corpos, morderam-nas.</h3>
<h3 style="background-color: white; box-sizing: inherit; color: #333333; font-family: FolhaTexto, Georgia, serif; font-size: 20px; margin-bottom: 1rem;">
A peça, de Chico Buarque de Hollanda, tinha direção de Zé Celso Martinez Corrêa.</h3>
<h3 style="background-color: white; box-sizing: inherit; color: #333333; font-family: FolhaTexto, Georgia, serif; font-size: 20px; margin-bottom: 1rem;">
Na segunda-feira à noite, 50 anos depois daquele dia, Zé Celso e Chico Buarque voltaram a se encontrar num teatro em São Paulo, em uma nova circunstância de afirmação libertária. Chico não veio pessoalmente, mas seu texto estava de novo presente. Zé Celso compareceu de corpo e alma, vestido com um poncho do México: dançou, cantou uma canção moçambicana e insuflou os presentes a fazerem a rebelião da alegria, a tomar o poder pelo humor, pela consciência da Justiça, a abandonarem a sisudez da militância tradicional.</h3>
<h3 style="background-color: white; box-sizing: inherit; color: #333333; font-family: FolhaTexto, Georgia, serif; font-size: 20px; margin-bottom: 1rem;">
Foi no Teatro Oficina, abrigo das liberdades democráticas, como discursou Eduardo Suplicy durante o sarau. Sim, um imenso sarau de poetas, em prol da liberdade do presidente Lula.</h3>
<h3 style="background-color: white; box-sizing: inherit; color: #333333; font-family: FolhaTexto, Georgia, serif; font-size: 20px; margin-bottom: 1rem;">
Estava totalmente lotado; eu, desde a reunião de poetas para levantar fundos para o tratamento de Roberto Piva, nunca mais tinha presenciado algo do tipo. Não havia, apesar das presenças de Suplicy, Adriano Diogo e outros políticos, uma conformação partidária no encontro (não que haja algo errado nisso, não vivemos tempos de clandestinidade partidária - ao menos ainda). Mas expressava-se ali uma rara unanimidade política: a consciência de que se vive um momento de arbítrio; que se criou no País, além de um bloco de retrocessos políticos e comportamentais, um ambiente de censura, de restrição às liberdades individuais, de ataques subterrâneos à democracia travestidos de legalidade jurídica.</h3>
<h3 style="background-color: white; box-sizing: inherit; color: #333333; font-family: FolhaTexto, Georgia, serif; font-size: 20px; margin-bottom: 1rem;">
Me chamou a atenção, além dos textos de qualidade excepcional que foram lidos por seus próprios autores (apenas Carlos Rennó deixou que um vídeo de seu texto, gravado como música por Paulinho Moska, rolasse no telão), a amplidão etária dos presentes. Zé Celso e Sérgio Mamberti, octogenários de entusiasmo adolescente, juntavam-se à vulcânica verve da poeta e rapper Roberta Estrela D'Alva. O humor debochado de Manoel Herzog e a lírica contraída de Chico César e a presença sólida de Paulo Lins. </h3>
<h3 style="background-color: white; box-sizing: inherit; color: #333333; font-family: FolhaTexto, Georgia, serif; font-size: 20px; margin-bottom: 1rem;">
Mas confesso que pirei mesmo foi no poeta Carlos Moreira, de Rondônia. Magnético, com seu chapéu de Crocodilo Dundee, a segurança irônica de sua figura, o sotaque de alguém que vive num mundo que se integra ao nosso mas não o alcançaremos nunca totalmente e a profundidade de sua leitura do linchamento moral, da interdição existencial. Seu poema <i>Sete Lições para Estripar um Homem</i> nasceu clássico. Tomo aqui a liberdade de reproduzi-lo, espero que o Moreira não se importe.</h3>
<h3 style="background-color: white; box-sizing: inherit; margin-bottom: 1rem;">
<br /><span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: 20px;">⤋</span><br /><br /><div style="background-color: white; box-sizing: inherit; margin-bottom: 1rem;">
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">primeira lição para estripar um homem:</span></div>
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;"><br /></span>
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">estripa-se o seu nome em praça suja</span><br />
<div style="color: #333333; font-family: FolhaTexto, Georgia, serif;">
<span style="font-size: small;">sua língua na lama sua sombra na sombra<br />em cada passo um golpe de medo<br />e no segredo que nunca houve<br />as larvas de milhões de segredos<br />⤋</span></div>
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">segunda lição para estripar um homem:</span><br />
<br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;"><br /></span>
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">para saber sua altura usar a régua do porco</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">a régua do rato a métrica do nojo</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">a </span><span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">balança do fogo: cada quilo valerá</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">menos</span><span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;"> que o outro e cada centímetro</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">um corpo a menos: a menos que o corpo</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">se</span><span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;"> jogue da ponte ou do porto </span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">e</span><span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;"> poupe o inútil trabalho da vila </span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">de</span><span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;"> matar um homem morto</span><br />
<br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">⤋</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">terceira lição para estripar um homem:</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;"><br /></span>
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">não se estripa um homem só:</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">estripam-se os avós e netos</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">amigos silêncios e objetos</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">que cercam o homem a ser estripado</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">e tudo deverá caber no mesmo saco</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">um mundo inteiro reduzido</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">ao suposto fato de que tudo</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">retornará ao nada de que foi originado</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">⤋</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">quarta lição para estripar um homem:</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;"><br /></span>
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">estripa-se a palavra do homem</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">o dito o não dito o interdito</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">naquilo que sendo fala também cala</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">o que o torna homem: sua palavra</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">de homem que agora estripada</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">vale nada ou menos o que a pele</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">diria à faca: bem-vinda, senhora</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">sinta-se em casa</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">⤋</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">quinta lição para estripar um homem:</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;"><br /></span>
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">após estripado lança-se tudo</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">no fosso do fundo do calabouço</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">entre outros tantos estripados</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">carcaças de sonhos pedaços de loucos</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">para que até o fim dos tempos</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">de nenhum corredor possa brotar</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">o vivo reflexo de seus olhos</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">⤋</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">sexta lição para estripar um homem:</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;"><br /></span>
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">a vila inteira deverá lavar a praça</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">as ruas as casas as igrejas as estradas</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">e a própria vila deverá mergulhar</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">e manchar o rio com o vermelho</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">que escorrer de suas roupas pálidas</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">e queimá-las numa fogueira imensa</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">e caminharem nus e em silêncio</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">cada um em direção à cova de sua casa</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">⤋</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">última lição para estripar um homem:</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;"><br /></span>
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">verificar com exato cuidado</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">se a baleia não quer vomitá-lo</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">se não possui uma flauta de pedra</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">ou uma antiga lira afiada</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">que faça arrepiar a terra:</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">neste caso foi inútil estripá-lo:</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">multiplicado milpartido libertado</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">ele rompe a corrente do tempo</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">e atinge maior o outro lado:</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">inútil o sono da vila enquanto</span><br />
<br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;">canta o estripado</span><br />
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;"><br /></span>
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;"><br /></span>
<span style="color: #333333; font-family: "folhatexto" , "georgia" , serif; font-size: small;"><br /></span></h3>
el pájaro que come piedrahttp://www.blogger.com/profile/02706901433920414654noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-3946663158434977487.post-67931292988216745822018-07-28T18:46:00.003-07:002018-07-28T18:50:14.927-07:00O CHEIRO DO CABIDE<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOIRkG8X8T5Bu9B1yI81zwpG8b-mC23Pb6xvd7aJLDKO_oAynIkfixUiGxnap74i-dwLWWFYh5-6Vsouiui0CGta3GiIZys0cYmsY7momQkMLJ_vxsW2MNhw_3nIUh8JPwkqyGVNH5MQZm/s1600/romildo2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="662" data-original-width="1080" height="245" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOIRkG8X8T5Bu9B1yI81zwpG8b-mC23Pb6xvd7aJLDKO_oAynIkfixUiGxnap74i-dwLWWFYh5-6Vsouiui0CGta3GiIZys0cYmsY7momQkMLJ_vxsW2MNhw_3nIUh8JPwkqyGVNH5MQZm/s400/romildo2.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<o:p><i> o secretário de cultura de são paulo, romildo campello</i></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A Comissão Nacional dos Pontos de Cultura vai entrar essa
semana com uma ação civil pública com medida cautelar no Ministério Público de
São Paulo contra a Secretaria de Estado da Cultura. Quinze pessoas assinam o
documento. O motivo foi um edital publicado no sábado, 21 de julho, com o resultado da
seleção de Agentes Mobilizadores Cultura Viva, contratados para atuar no
mapeamento, articulação e mobilização dos Pontos de Cultura (programa do
governo federal em parceria com Estados e municípios).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A comissão levantou suspeitas sobre a lisura da seleção. Dos 35
selecionados, 12 são coincidentemente ligados ou filiados ao Partido Verde (PV),
o partido do atual secretário Romildo Campello. Entre os 12, há ex-candidatos a
deputado federal, suplentes de senadores, candidatos a vereadores e gerentes do
Partido Verde. Eles vão receber R$ 5.000,00 reais mensais durante sete meses.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O artigo 4 da lei da ação civil pública permite pedir a
cautelar, ação mais rápida, com o intuito de evitar dano ao patrimônio público
e social. A secretaria publicou a seleção no sábado e deu 3 dias corridos para se entrar com recurso. A comissão avalia que isso pode ter sido uma estratégia para não ser questionado o resultado.</div>
<div>
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Há vários outros pontos que são inquiridos pelos reclamantes: o fato de não ter sido um edital, mas uma seleção via plataforma
Google (o que é atípico, porque não se usou a estrutura que a Secretaria de
Estado da Cultura tem e utiliza para todos os outros procedimentos seletivos);
também não foram selecionados suplentes, procedimento habitual nos editais
públicos (até para o caso de eventuais desistências); e de não se ter publicado o nome de todas as pessoas que se
inscreveram.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Outra polêmica que movimenta os bastidores da cultura estadual foi a contratação por 10 meses, sem
licitação, da Fundação Getúlio Vargas por R$ 4.870.168,76. A intenção seria
medir a eficácia do Programa de Ação Cultural (Proac), principal projeto de
fomento do governo estadual. Ocorre que a FGV está sendo contratada sob
representação de Sergio Franklin Quintella, que vive no Rio de Janeiro, e o contrato prevê, misteriosamente, viagens aéreas para Brasília, além
de incluir profissionais que receberão mais de R$ 250 mil cada um em 10 meses
de atuação.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Na semana passada, a Secretaria de Estado da Cultura
contestou em uma nota oficial a notícia da revista <i>CartaCapital</i> a respeito da contratação. “Se a reportagem tivesse checado, por certo, saberia que a contratação
da Fundação Getúlio Vargas sem licitação passou por todos os trâmites legais,
com parecer favorável da Procuradoria Geral do Estado. E mais, a determinação
dos indicadores culturais na economia paulista é uma antiga reivindicação do
setor”, diz o texto da Assessoria de Comunicação.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />el pájaro que come piedrahttp://www.blogger.com/profile/02706901433920414654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3946663158434977487.post-29320547773314709672018-07-14T12:35:00.001-07:002018-07-14T12:35:24.830-07:00PLAYLIST X MÚSICA AO VIVO<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEis7W9YgkYm2mysDFbJrVSgqAXvgKOHFPT1EjqfSlbZjV-eUoynkMnwsPG6NIelgw9drcet4DFdgpKurzJxUYImN_pop8bZs51JnDNeSW8ghTANfrGqxt_whTGEe8qD9WZJhvAg9xOQtNuB/s1600/20180519_210832.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEis7W9YgkYm2mysDFbJrVSgqAXvgKOHFPT1EjqfSlbZjV-eUoynkMnwsPG6NIelgw9drcet4DFdgpKurzJxUYImN_pop8bZs51JnDNeSW8ghTANfrGqxt_whTGEe8qD9WZJhvAg9xOQtNuB/s400/20180519_210832.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<div class="MsoNormal">
Foi divulgado neste sábado um edital do governo de São Paulo
chamado SP Cultura no Metrô. Esse edital se propõe a contratar “músicos de rua,
profissionais ou amadores” para tocar nas estações de metrô das linhas Verde,
Azul e Vermelha - limite máximo de quatro apresentações por músico.</div>
<div class="MsoNormal">
Até aí tudo normal. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A coisa fica turva quando se vê quanto pagarão de cachê
aos músicos “de rua” por suas apresentações: R$ 150.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A música ao vivo parece bem desvalorizada
face aos algoritmos de música, na visão da secretaria de Estado da Cultura:
essa semana, o site Tecmundo noticiou que o governo paga R$ 40 mil por mês para
a ONG Instituto de Cultura e Cidadania (Incult) para fazer uma playlist de 200
músicas para 55 estações de São Paulo.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O valor pago para a música mecânica é equivalente ao que a secretaria
paga para 266 músicos por mês. Segundo o metrô, a Incult foi contratada por
meio da agência CC&P (Companhia de Comunicação & Publicidade). </div>
<br /><br />
O secretário da Cultura, Romildo Campello, festejou o edital para músicos de rua. “A parceria permitirá o acesso de milhões de pessoas a múltiplas plataformas culturais. A produção cultural do estado multiplicada e compartilhada ao vivo e em cores. Atrações de qualidade e gratuitas para a população”. Estranha parceria: cada músico vai receber o equivalente a seis sanduíches do McDonald's.el pájaro que come piedrahttp://www.blogger.com/profile/02706901433920414654noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3946663158434977487.post-68910539356580315032018-07-04T18:20:00.002-07:002018-07-04T18:32:52.010-07:00TODAS AS FAMÍLIAS FELIZES SÃO IGUAIS; CADA FAMÍLIA INFELIZ É INFELIZ À SUA PRÓPRIA MANEIRA<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #121212; font-size: 13.5pt;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTkMz0FcU9K3EgK8-FcgRxFGcbjUpMzm9aAjw1pv0V8fOD2DEhBlMzWgyKDPEpX756dIvt3nTa1gfP1FD6EI80DB0ChM-dblbMDcmfhM_F5B2ByEm5eEsDGHWV3J-kK6CigFUy5B42q1U4/s1600/salah.jpg" imageanchor="1"><img border="0" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTkMz0FcU9K3EgK8-FcgRxFGcbjUpMzm9aAjw1pv0V8fOD2DEhBlMzWgyKDPEpX756dIvt3nTa1gfP1FD6EI80DB0ChM-dblbMDcmfhM_F5B2ByEm5eEsDGHWV3J-kK6CigFUy5B42q1U4/s640/salah.jpg" width="640" /></a></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #121212; font-size: 13.5pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #121212; font-size: 13.5pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #121212; font-size: 13.5pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #121212; font-size: 13.5pt;">Os
olhos desorbitados e incrédulos de Özil.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #121212; font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">A
desolação solitária de James Rodriguez no meio de uma torcida invisível. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #121212; font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">O
sorriso de universo em desencanto do treinador do Japão, Akira Nishino. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #121212; font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">A
cabeça geométrica de Mina. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #121212; font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">O
ar de desorientação espacial de Iniesta. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #121212; font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">O
bloco monolítico do corpo de Xherdan Shaqiri na linha de fundo que acabou e ele não notou. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #121212; font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Os
braços pesados de tatuagens em movimento de Sampaoli, como se pertencessem a um semideus
de desenho animado da Polinésia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #121212; font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">As
pétreas orelhas de abano de Herrera, do México.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #121212; font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">O
esgar levemente aliviado de Salah.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #121212;"><span style="font-size: 18px;">O praguejar sincero de CR7 contra a sorte da porra do adversário.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #121212;"><span style="font-size: 18px;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #121212; font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Tem tanta literatura na queda que quase não tenho mais prestado atenção à elevação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #121212; font-size: 13.5pt; line-height: 115%;">Vou corrigir essa postura.</span><br />
<span style="color: #121212; font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="color: #121212; font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="color: #121212; font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="color: #121212; font-size: 13.5pt; line-height: 115%;"><i>título: do livro anna karenina, de tolstoi, leon. </i></span></div>
el pájaro que come piedrahttp://www.blogger.com/profile/02706901433920414654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3946663158434977487.post-37406365454229756912018-06-19T06:32:00.001-07:002018-06-19T09:07:16.720-07:00AO MEU LEITOR LULA<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaQTM-KZy2GcP51t7TIEuDJoAqi8UrotMH8GLNr2_gcrehXwoB27uzpmaEj52-j7Iz8hjvpT8xFlhs7VYVWW9LnyA30SsBzP-YuksT_fhpOCtd84HKvh6S5AYwoAqZY4bAye1D0AKQxfmc/s1600/lulaleu.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="635" data-original-width="848" height="478" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaQTM-KZy2GcP51t7TIEuDJoAqi8UrotMH8GLNr2_gcrehXwoB27uzpmaEj52-j7Iz8hjvpT8xFlhs7VYVWW9LnyA30SsBzP-YuksT_fhpOCtd84HKvh6S5AYwoAqZY4bAye1D0AKQxfmc/s640/lulaleu.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Escrevemos quase sempre com a ilusão de que seremos lidos
por multidões. Ondas de leitores que entenderão o livro e suas entrelinhas,
seus recados vaidosos, seus pequenos egoísmos, as frases que não são deles, os
leitores (são nossas, dos autores, coisas das quais temos dificuldade de desapegar).
Muito raro autor que escreveu para não ser lido; nem mesmo o Dalton Trevisan,
que só não quer mesmo é ser incomodado.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mas certamente não<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>me
parece sensato imaginar que os escritores escrevam também pensando num leitor
gigante. Um leitor maior que sua imaginação, capaz de colocar milhares de crianças
em ônibus novos no interior do Maranhão, da Paraíba e do Piauí indo pra escola
pela primeira vez; capaz de dar fim a um ciclo centenário de mortalidade
infantil; capaz de dar oportunidades para bisnetos e trinetos de escravos de se
bater igualmente na mesma academia dos bisnetos e trinetos de seus algozes;
capaz de nocautear um destino histórico de submissão, de autopiedade.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Também não creio em autor (talvez apenas o Dráusio ou o
Johnny Cash) que escreva ou componha pensando explicitamente em um leitor que
vá ler o livro sob privação da liberdade. Geralmente pensamos em leitor de
vontade livre, esquecendo que a vontade sempre é livre. O que é cativa é a privação
da liberdade de pensar, de dizer o que se pensa sem ser agredido ou segregado,
uma perversa contribuição desse nosso novo Brasil ao mundo dos relacionamentos sociais
e intelectuais.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Por isso, quando vi que o sr. tinha lido minha modesta peça
sobre a gigantesca obra de Antonio Carlos Belchior, outro ídolo das multidões,
eu fiquei emocionado. Não apenas porque compartilho a ideia de que o sr. é
vítima de um arbítrio monstruoso, uma distorção kafkiana das noções de Justiça
e de democracia. Mas também porque sei que há uma simetria de ideais e de
trajetórias entre seu legado e o de Belchior. Que ambos sonharam um mundo
melhor, pacífico, amistoso, solidário, cheio de encontros fortuitos e maravilhosos e
companheirismo despojado. O sr. o conheceu, sabe do que estou falando.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Espero, sr. presidente, que o sr. já esteja livre quando eu
terminar de escrever meu novo livrinho. Quem sabe não terei o prazer de lhe
entregar pessoalmente? Acredito que irá gostar, é uma história que tem pontos
de contato com a sua, embora não tão decisiva na construção de uma utopia
eterna, maior que o cárcere, mais tenaz do que a covardia de uma Nação assustada com
a ousadia do arbítrio.</div>
<br />el pájaro que come piedrahttp://www.blogger.com/profile/02706901433920414654noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3946663158434977487.post-81556665973564502392018-04-30T16:46:00.001-07:002018-04-30T16:49:49.096-07:00OS GRAVETOS DO VÉIO<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1mEBFqgdLZ2X0qR-3fsVAsTRy3_NuvQbGlEIa9sjmiX7HlF0TVkwh31URq3AR9gaTJBY7j6CIgxLBKxsjUckcbK1nsuul6Lkkt45AJIH6XYSkshS1XqjkUIo3eCc7V54iQO_Jcs9UKkvW/s1600/20180429_115233.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1mEBFqgdLZ2X0qR-3fsVAsTRy3_NuvQbGlEIa9sjmiX7HlF0TVkwh31URq3AR9gaTJBY7j6CIgxLBKxsjUckcbK1nsuul6Lkkt45AJIH6XYSkshS1XqjkUIo3eCc7V54iQO_Jcs9UKkvW/s640/20180429_115233.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Nenhuma exposição em curso no momento me causou tanta
alegria quanto o universo de gravetos desnivelados do artista sergipano Véio, em exposição
no Itaú Cultural.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A impressão inicial com as peças em exposição no centro cultural, na Avenida Paulista, é que não parecem guardar
demasiado esforço, intrincada construção ou calculada engenharia. Quase não
sentimos o suor do seu artífice nelas, é como se brotassem do nada. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O efeito da obra de arte guarda grande relação com o
repertório cultural do seu espectador. </div>
<div class="MsoNormal">
Umberto Eco já dizia que uma obra impacta mais ou menos o
observador de acordo com as expectativas deste, de seu universo cotidiano, de sua
familiaridade com certos objetos, técnicas e estratégias. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Nas artes visuais, educados
para nos enternecermos com a chave da abstração ou para atingirmos o grau máximo de
satisfação com a habilidade figurativa do pintor descomunal, é desconcertante
quando o que se posta à nossa frente é uma peça que se vale de tudo, mas não
é feita para nós, é exclusiva de seu próprio escultor.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Véio independe de repertórios e de impacto, ele já definiu o
valor de seu trabalho para si mesmo antes que o tenhamos capturado. A impressão
que nos passa é de que o material só está ali em exposição porque o artista foi
sequestrado para tal pelos caçadores de valor. A arte que produz é suficiente
para Véio - tanto que ele construiu um museu só para si, para abrigar seu
trabalho lá na chácara onde vive, no seu sítio no sertão de Sergipe, no
município de Fonte Nova. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A arte de Basquiat, por exemplo, encontra sua força no afrontamento
das expectativas e dos repertórios. Tem carga histórica, estabelece diálogos
temporais, tem pesquisa. Véio busca apenas materializar sua imaginação. Sim, não é raro que
tenha um componente daquela arte rupestre das cavernas, como na mínima
escultura Liuliu. Animais e demônios, mulheres de pés invertidos montadas em bichos e corujas que
parecem padres: são visões embaralhadas com elaborações.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Seu trabalho é um tipo de ready made. Véio resgata do sertão
galhos de árvores desprezadas e enxerga neles significado. Na maior parte das vezes,
entretanto, esse significado é desequilibrado, teratológico, contrário à
orientação quase sempre realista do artista popular tradicional. Podem ser
peças de 2 metros e de 20 centímetros. Sua pesquisa está no domínio do mistério, um encanto que seduz instantaneamente.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O nome real do Véio é
Cicero Alves dos Santos. O apelido se deu porque ele, quando criança, ficava
ouvindo sempre o que as pessoas mais velhas falavam interessadamente. Virou
Véio, nos fez crianças.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbrJcde2uDICaKiKtaqt7nVJAtagh5rJajFSPHH-u7C5SyREc_iK_FvNLxkK5AMwpr3Ij78Qj4yZ4LBw6tL1ZxIVXqJ43PX6tQjr7xXY50g1Cnt-Id-mG3sRzbN1-KhugZyPSWzvyPnRNw/s1600/20180429_114257.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbrJcde2uDICaKiKtaqt7nVJAtagh5rJajFSPHH-u7C5SyREc_iK_FvNLxkK5AMwpr3Ij78Qj4yZ4LBw6tL1ZxIVXqJ43PX6tQjr7xXY50g1Cnt-Id-mG3sRzbN1-KhugZyPSWzvyPnRNw/s640/20180429_114257.jpg" width="480" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />el pájaro que come piedrahttp://www.blogger.com/profile/02706901433920414654noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3946663158434977487.post-11528635794313639292018-04-27T05:40:00.000-07:002018-07-01T05:17:30.377-07:00O CANTOR QUE SE SABIA CANÇÃO<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTM4bEP2L3f3FXMXKWPLx-HkunFLr2lRLkkAESpvFqS9vi2ISqJ0rFghfPWage90wFzxuOWbSZOly4B1ExwFQI_MWvPebg87EnsIan9-8sbecC4-22bHsUexXSUIYp_aG9ol3lYtO1xUHe/s1600/belchior2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="441" data-original-width="600" height="470" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTM4bEP2L3f3FXMXKWPLx-HkunFLr2lRLkkAESpvFqS9vi2ISqJ0rFghfPWage90wFzxuOWbSZOly4B1ExwFQI_MWvPebg87EnsIan9-8sbecC4-22bHsUexXSUIYp_aG9ol3lYtO1xUHe/s640/belchior2.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Antonio Carlos Belchior morreu no dia 30 de abril do ano
passado. Na próxima segunda-feira completa-se um ano da partida do cantor, compositor e
pintor cearense. Há tributos pipocando por toda parte, o mais simbólico deles um
concerto nesta segunda-feira no Teatro São João, em Sobral, Ceará, onde ele
nasceu. No Teatro dos Bancários e no Feitiço Mineiro, em Brasília, Marcos Lessa
e Alessandra Terribili encaram seu legado.</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Escrevi uma biografia dele da qual me orgulho cada dia mais.
Porque a cada dia se avoluma a percepção de que foi mais que um cantor, mais que
um compositor, mais que um transeunte das artes. Foi um visionário. </b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Esta semana, por exemplo, acordei convencido de que Belchior,
para minha geração, foi o mais político entre os gigantes da MPB. Não foi
político apenas no enfrentamento com as forças institucionais constituídas, mas
também no sentido de compreender quais os antagonismos que nos dividiam e os
que nos aproximavam. E de abraçar o Brasil profundo. E porque não foi só um
cara de temáticas, foi também a temática.</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>“De olhos abertos lhe
direi: amigo, eu me desesperava”, cantou Belchior, em <i>A Palo Seco</i>. Não há
messianismo nem equacionamento fácil em sua compreensão do País. Há uma espécie
de consulta à percepção do povo, um compartilhamento de sustos. </b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Mas, como tudo que a gente escreve às vezes consiste apenas numa
pilha de argumentos, de racionalizações, eu seria um tolo se não falasse também
da emoção que Belchior contrabandeia em suas canções.</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Na última
segunda-feira, dirigindo pela Castelo Branco rumo a São Paulo, no retorno da
festa do centenário de meu pai em Cianorte, no Paraná, eu me peguei chorando a
perda do meu irmão, Jack, que morreu também há um ano, uma semana antes de
Belchior. Meu livro é dedicado a ele. Ainda com o gosto amargo daquele
sentimento ambíguo de uma festa que celebrou a longevidade de um e pranteou a
fugacidade do outro, e para estancar as lágrimas, que atrapalhavam a direção,
eu liguei o CD player. Por um mistério da fé, estava lá um disco do Belchior.
Os versos que surgiram assim que liguei o aparelho me acolhiam como se tivessem
sido feitos para nós:</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>“Mas o anjo do Senhor (de quem nos fala o Livro Santo) desceu
do céu pra uma cerveja, junto dele, no seu canto. E a morte o
carregou, feito um pacote, no seu manto”.</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Nada definiria tão completamente a partida de Jack. O anjo
veio convidá-lo para uma cerveja, e ele foi porque nunca se negaria a uma
cerveja. O local em que ele fazia churrasco e bebia era carinhosamente chamado
de Canto do Jack.</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Belchior veio em meu socorro, agradeci e segui viagem. Esse
compositor tem um jeito de se envolver na narrativa que é incontornável, porque
afetuoso e cúmplice. Ele põe a mão no ombro do ouvinte para conversar. “Você
não sente nem vê/ Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo” (<i>Velha Roupa
Colorida</i>).</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Talvez eu só tenha visto um caso de um intérprete-compositor
tão intimamente ligado à sua poesia: Cazuza. “Você nunca ouviu falar em
maldição, nunca viu um milagre, nunca chorou sozinha dentro de um banheiro sujo”.</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>O que ocorre é que o País em que Belchior produziu seus
hinos mais importantes era também um mundo movendo uma guerra suja contra o
artista, contra o povo, contra o Brasil. Mais ou menos a mesma guerra suja que
se implanta agora, após um período em que tivemos esperança de que um País de
tolerância e aproximação vingasse. “O que é que pode fazer um homem comum nesse
presente instante senão sangrar, tentar inaugurar a vida comovida, inteiramente
livre e triunfante?”</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>A vida comovida, de pura compreensão e ternura, não o
impedia de diagnosticar as feridas da terra. Por exemplo: quando Belchior
gravou <i>Voz da América</i>, no disco <i>Era uma Vez um Homem e o Seu Tempo</i>, já era
1979. Mas ele a tinha composto alguns anos antes, em 1975. E, em 1976, o cantor
Antonio Marcos (1945-1992), portento artístico de São Miguel Paulista, que foi
casado com Vanusa, gravou a canção com sua voz trágica.</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Nessa música, Belchior fala da Operação Condor, investida
repressiva em conjunto dos vários regimes militares da América do Sul (Brasil,
Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai em colaboração com a CIA
norte-americana). Funcionou ativamente entre 1970 e 1980.</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>“El Condor passa sobre os Andes e abre as asas sobre nós. Na
fúria das cidades grandes eu quero abrir a minha voz”, ele canta. “El Condor
Pasa” disfarçava-se em citação a Simon & Garfunkel ou Daniel Robles. A letra
de Belchior era uma afirmação na crença de que a humanidade venceria a
barbárie, que o carinho seria maior do que a brutalidade. “Quem teve que partir
para um país distante: não desespere da aurora, recupere o bom humor”.</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Havia uma coragem extraordinária naquele cearense reservado.
Comparando com a política na obra de Chico Buarque, creio que Belchior foi mais
acionador, mais deflagrador. Sempre vi Chico como alguém mais oblíquo, mais
dissolvido. Claro que <i>Apesar de Você</i> e <i>Jorge Maravilha</i> são antifa total, mas
<i>Meu Cordial Brasileiro</i> de Belchior não é menos contundente: “Com/contra quem me
dá duro com o dedo na cara me mandando calar”.</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Belchior nunca baixou a guarda, não abandonou o combate após
a redemocratização. Sabia que o inimigo estava ativo. Enquanto houvesse algum
modo de dizer não, ele cantaria, avisou. </b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Em 1993, em <i>Bahiuno</i>, Belchior cantou: “Dá flores
ao comandante/ que um dia te dispensou do serviço militar/ Ah! quem precisa de
heróis: feras que matam na guerra/ e choram de volta ao lar”. </b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Claro, a indignação política também está presente em coisas como <i>Brejo
da Cruz</i> e <i>Meu Guri</i>, Chico quase sempre transferindo a uma terceira pessoa a
responsabilidade da insurreição. Chico é mestre no deslocamento do sujeito; conhece
a realidade brasileira como poucos, e a descreve como se partilhasse a tragédia
do homem invisível nacional. Mas ele não se confunde com ela, é uma testemunha
privilegiada, assiste a quase tudo de um mirante (no máximo, tem um japonês trás
de si).</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Caetano Veloso é mais discursivo em seus momentos mais
políticos, tipo quando fala de “o silêncio de São Paulo diante da chacina”. Ou
então, assume uma abordagem de antropólogo frente à realidade brasileira. “O
pintor Paul Gauguin amou a luz da Baía de Guanabara/ O compositor Cole Porter
adorou as luzes na noite dela/ A Baía de Guanabara/ O antropólogo Claude
Lévi-Strauss detestou a Baía de Guanabara”.</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Veja, não estou dizendo que uma obra é melhor que a outra, mais
efetiva que a outra, mais bonita que a outra. Estou tateando uma diferenciação.
Belchior fala direto com o seu interlocutor. Ele o chama para uma conversa.</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Sem ter tido a sacada de um matreiro Julinho da Adelaide, Belchior
usa somente a brasilidade como escudo. Ele não se arvora a condição de
observador, fala como um pedaço da realidade que trata. Exige igualdade de
tratamento, de interlocução: “Eu sou como você, eu sou como você, eu sou como
você que me ouve agora”.</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Todos denunciam fundações sólidas e profundas das mazelas
nacionais. Caetano, em <i>Noites do Norte</i>, musicou Joaquim Nabuco em 2000. “A
escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do
Brasil. Ela espalhou por nossas vastas solidões uma grande suavidade.”</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Belchior já tinha ido mais longe. Musicou Castro Alves em
<i>Aguapé</i>, que gravou em 1980. Mas, no trecho que escolheu, no pedaço do qual se
apropriou, não há apenas análise, há também sangramento, gracialianismo seco:</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>“Esta casa não tem lá fora<br />
A casa não tem lá dentro<br />
Três cadeiras de madeira<br />
Uma sala, a mesa ao centro</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Rio aberto, barco solto<br />
Pau-d'arco florindo à porta<br />
Sob o qual, ainda há pouco<br />
Eu enterrei a filha morta”.</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Belchior também já tinha examinado a questão da construção
da consciência identitária em <i>Monólogo das Grandezas do Brasil</i>, de 1999, que se
reporta a <i>Diálogo das Grandezas do Brasil</i>, livro escrito pelo fazendeiro
Ambrósio Brandão no século 17.</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>“Todo mundo sabe/todo mundo vê</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>
Que tenho sido amigo da ralé da minha rua<br />
Que bebe pra esquecer que a gente<br />
É fraca<br />
É pobre<br />
É vil<br />
Que dorme sob as luzes da avenida<br />
É humilhada e ofendida pelas grandezas do Brasil<br />
Que joga uma miséria na esportiva<br />
Só pensando em voltar viva </b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Pro sertão de onde saiu”.</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Chico e Caetano são escultores de canções, artesãos.
Belchior é igualmente manufaturado, mas ele é também a sua obra. Diz-se do <i>D. Quixote</i>, de Cervantes, que foi o primeiro livro que se sabia livro. Belchior,
por analogia, poderia ser descrito como o cantor que se sabia canção. “Fique
você com a mente positiva/Que eu quero é a voz ativa (ela é que é uma boa!)/ Pois
sou uma pessoa/ Esta é minha canoa: Eu nela embarco/ Eu sou Pessoa!/ A palavra
pessoa hoje não soa bem? Pouco me importa!”</b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />el pájaro que come piedrahttp://www.blogger.com/profile/02706901433920414654noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3946663158434977487.post-50168264642703965682018-04-03T06:23:00.003-07:002018-04-03T06:34:16.929-07:00O PROFESSOR CALASANS<br />
<div class="MsoNormal">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzi2Uu1KvNyB_krEtoYMK9pWDTe9peGmSHlQTJVf0JBgZ4YtgMgAmr0rfgXJpiwfBpI0ejqjJFiVlvfQYvCFjqFJ7sCx6wpkrpd19jdILXRMtIeCRMzH5Ep9wxNr69TqZxD2rUX8uxBtJP/s1600/calasans.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="724" data-original-width="900" height="514" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzi2Uu1KvNyB_krEtoYMK9pWDTe9peGmSHlQTJVf0JBgZ4YtgMgAmr0rfgXJpiwfBpI0ejqjJFiVlvfQYvCFjqFJ7sCx6wpkrpd19jdILXRMtIeCRMzH5Ep9wxNr69TqZxD2rUX8uxBtJP/s640/calasans.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p><i>O professor Calasans (centro) ensinando in loco, no sertão de Canudos</i></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Faz pena um homem como eu morrer assim acocorado”, disse Pedro
José de Oliveira, o Pedrão Porteiro, homem de estrita confiança de Antonio
Conselheiro, sentado numa gamela em Cocorobó, paralítico das pernas, aos 90
anos.</div>
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<br /></div>
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Pedrão Porteiro disse isso a José Calasans, o grande
historiador de Canudos. Calasans me contou a história na biblioteca da Faculdade
de Medicina da Bahia, em Salvador, em 1996, quando o entrevistei frente ao único
manuscrito de Antonio Conselheiro (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Apontamentos
dos Preceitos da Divina Lei de Nosso Senhor Jesus Cristo para Salvação dos
Homens</i>, 554 páginas copiadas do Novo Testamento e 256 páginas com ideias do
Conselheiro sobre os Evangelhos). O notável historiador Calasans recolhera todos os
fragmentos documentais e orais da história de Canudos em sua longa vida.</div>
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Pedrão Porteiro e seus homens derrotaram 1.300 soldados
armados do sanguinário coronel Moreira César, em março de 1897, e
enfrentaram despachos de juízes e desembargadores que representavam o poder
instituído. Nem armas tinham. Mas chegou a velhice e o abandono e a pobreza e ele se preparava
para morrer ali, anônimo, imóvel. “Nenhum amor lendário está baixando para
encher esse quarto no final”, como cantou Lou Reed em <i>Legendary Hearts</i>.</div>
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Mas a frase de Pedrão Porteiro era ainda carregada de
orgulho, não de capitulação. “Um homem como eu”. Carregava em si não a
nostalgia do que fora, mas o valor presente e inalienável das cicatrizes de sua
batalha. Pedrão não podia mentir a si mesmo, de algum modo ele sabia que mudara
o mundo.</div>
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Pensei na frase de Pedrão Porteiro, que vive na minha
cabeça, porque vivemos tempos de extrema covardia e, mais sombrio ainda, do
elogio da covardia. Tocaiar, exterminar, difamar, mentir: tudo parece motivo de
orgulho. Bravura é tida como idiotia, numa jornada de assombrosa inversão humanística.
A deslealdade é tutelada pelo Capital, ganha coluna em jornal, assume postos de
comando nas autarquias. Subiu à tona uma vaporosa consciência coletiva de
negatividade, que é mobilizada conforme se quer abafar toda voz contraditória.</div>
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O que não parece mudar, no entanto, é a disposição dos
Pedrões Porteiros. Eles estão aí, às vezes capengando, sentados em uma gamela, mas
conscientes de que o mundo se muda a partir do enfrentamento, não da entrega. Que
o servilismo, no qual se fundam quase todas as teses do desenvolvimento, não é
o destino dos homens. Vi um documentário de Rose Panet sobre outra dessas
figuras, <i>Manoel Bernardino, o Lenin da Matta</i>, guerreiro que viveu no início do século 20.
Em pleno sertão maranhense, Bernardino organizou e emancipou homens do mato.
Encanta, mais do que tudo, ver o poder da autogênese, do nascimento espontâneo
de um líder em territórios quase esquecidos.</div>
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Ao final de Canudos, Antonio Conselheiro tornou-se aquela
descrição de Euclides da Cunha - um "anacoreta sombrio, cabelos crescidos
até aos ombros, barba inculta e longa; face escaveirada; olhar fulgurante;
monstruoso, dentro de um hábito azul de brim americano; abordoado ao clássico
bastão, em que se apoia o passo tardo dos peregrinos...". Essa imagem
prevaleceu durante muito tempo, mas Antonio Conselheiro (em toda sua complexidade)
emergiu lentamente do fundo do açude de Cocorobó e hoje já é maior do que todos
os tempos.</div>
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Garimpeiro das grandezas do povo, o professor Calasans, que
era sergipano, morreu em 2001 aos 95 anos, em Salvador. Meu artigo sobre sua partida tinha o título: “Calasans foi o primeiro a ouvir o lamento do sertão”.</div>
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<br />el pájaro que come piedrahttp://www.blogger.com/profile/02706901433920414654noreply@blogger.com1